
Anne Frank: Deixem-nos ser
São Paulo
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Anne Frank: Deixem-nos ser - Boas-Vindas
Priscilla Parodi
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"Deixe-me ser eu mesma, então estarei satisfeita […] Vou fazer com que minha voz seja ouvida, vou para o mundo e trabalharei em prol da humanidade!"Anne Frank Esta exposição busca dar vida ao desejo de liberdade e individualidade de Anne Frank, conectando sua luta histórica à nossa realidade atual. Ao abrir seu Diário, criamos um diálogo entre passado e presente, unindo nossas vozes à dela, por meio das artes, e clamando pelo direito de ser. Fruto da idealização da Inspirar-te, construímos um percurso expositivo dividido em três momentos, conectado através do Diário e seu legado, guiado pela história e pela arte e unido por esses pilares. Juntos, revisitaremos os sombrios caminhos do Holocausto; em seguida, visitaremos uma reprodução fiel do Anexo Secreto, local onde Anne se escondeu; por fim, nos envolveremos em um “sótão imaginado”, onde abriremos janelas para a exposição de obras luminosas de artistas brasileiros e internacionais. Proporcionando perspectivas de aprendizado que se aproximem de um diálogo iluminado e sensível, a mostra alcança o seu propósito transformador ao integrar arte, inclusão, acessibilidade e responsabilidade social. Assim, mantemos vivo o legado de Anne: a luta pela aceitação plena das diferenças e individualidades, contra o antissemitismo e toda forma de intolerância e preconceito, em prol dos direitos humanos. A exposição parte da voz de uma menina judia e se destina a todas as crianças e jovens, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social, marginalizadas ou enfrentando preconceitos e discriminação – mulheres, negros, indígenas, LGBTQIAPN+ e tantos outros. A partir desses conceitos e diretrizes, a Inspirar-te entrou em contato com a Anne Frank House, em Amsterdã, para enriquecer ainda mais a mostra com seus materiais e expertise. Reunimos um time primoroso, composto por um curador geral especialista no tema do Holocausto, um curador de artes e uma curadoria educativa; e convidamos uma equipe especializada em direção artística e expografia, além de um estúdio de design com experiência em exposições. Todos foram essenciais para colocar em prática nossas ideias, agregando novos fundamentos, concepções e embasamentos. Além da experiência artística, nosso objetivo é sensibilizar as pessoas para construir uma sociedade mais inclusiva e justa. Para tanto, levantamos questões fundamentais: como podemos criar espaços seguros e uma sociedade mais tolerante? Como garantir direitos e oportunidades plenas para grupos minorizados? Quais caminhos podemos oferecer para as crianças que se encontram nas periferias do Brasil? Como a cultura e a arte nos inspiram a imaginar novos direitos e lutas? Responder a essas perguntas é unir nossa voz à de Anne Frank, clamar pelo direito à autenticidade, pelo respeito das singularidades e pela celebração das diferenças. Partindo da arte e da contemporaneidade, exigimos o essencial e o eterno: tolerância, respeito à liberdade e direito à humanidade e à vida. Abrimos mais uma vez as portas do museu e oferecemos acolhimento e pertencimento para crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Este lugar também é deles, reflete parte de sua história. Reflete a história de todos nós, como humanidade. Sejam bem-vindos ao nosso grito: Deixem-nos ser! Priscilla Parodi Fundadora da Associação sem fins lucrativos Inspirar-te
Anne Frank: Deixem-nos ser - Introdução
Carlos Reiss
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Por muito tempo, o Holocausto figurou no rodapé dos livros didáticos. Era muitas vezes um recorte ligado exclusivamente à Segunda Guerra Mundial e desvinculado das nossas mazelas contemporâneas. Esta exposição materializa uma percepção que tem sido aperfeiçoada conhecida como "Pedagogia do Holocausto no século XXI". O Museu do Holocausto de Curitiba, instituição pioneira no Brasil, ajuda a construir essa perspectiva no seu trabalho diário. Nós acreditamos que o discurso sobre esse genocídio precisa estar conectado ao que vivemos hoje: o combate ao ódio, às injustiças e às perseguições. Para a realização deste projeto, partimos de premissas como o olhar e a perspectiva das vítimas, que são personificadas, e também num enfoque que prioriza a vida, e não a morte. Assim, exploramos o potencial pedagógico que a tragédia tem pra transformar as próximas gerações. Para isso, nos apoiamos em três pilares - que, juntos, dão um caráter inédito a um tema e uma personagem que são tão conhecidos. São eles a História, a Arte e a arte-educação e os Direitos Humanos. Tudo isso tendo o Diário como o nosso coração. Nesse aniversário de 80 anos do último registro da Anne, escritora que é a primeira artista da exposição, trazemos uma experiência inspiradora por parte de outras pessoas que contribuem na luta pela construção da ideia de humanidade e pelo direito de ser. Afinal, essa é a mensagem, esse é o nosso grito: Deixem-nos ser.
Anne Frank: Deixem-nos ser - Abertura
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“Eu sei o que quero, tenho um objetivo, uma opinião. Eu tenho uma religião e amor. Deixe-me ser eu mesma, então estarei satisfeita.” Anne Frank “Deixem-nos ser” é mais que o título desta exposição. Ecoando a célebre frase de Anne Frank, aqui trazida para o plural, é um chamado a toda a humanidade! Aqui, o coração é o seu Diário, relato genuíno e talentoso de uma adolescente que, em meio a um contexto absolutamente anormal, continuou escrevendo de maneira apaixonada e abriu seu mundo para nós. Documento histórico e objeto de memória, seu Diário é também obra de arte. Uma sensível experiência estética e poética, capaz de conciliar a grandeza épica e o horror do Holocausto com a singela beleza do cotidiano e da intimidade humana. É impossível manter-se indiferente. De relato pessoal, o Diário tornou-se obra fundamental na trajetória da luta pelos direitos humanos, no combate ao racismo e ao antissemitismo, e na construção da ideia de humanidade. Nessa missão, felizmente, Anne não está sozinha. Muitas vozes uniram-se a ela. No aniversário de 80 anos do último registro em seu Diário, Anne é convidada a guiar-nos e unir-se a outras pessoas que contribuíram para a imaginação, a arte e a luta pelo direito de ser. “Deixem-nos ser” é um grito de protesto que se une àqueles que anseiam pelo direito à vida em sua plenitude, à individualidade, à diversidade e à liberdade de ser. “Deixem-nos ser” abre uma janela de empatia e aproxima toda e qualquer pessoa do exemplo de Anne."
Momento 1 - Texto Curatorial
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A realidade anterior à chegada do nazismo ao poder na Alemanha e posterior ocupação dos Países Baixos estava longe de constituir uma “vida plena” ou idealizada. Por um lado, contemplamos o cotidiano sublime e de aparente normalidade repleto de imagens de sorrisos, aulas, festas, parques e ruas agitadas. Por outro, em contraste e com tons mais sombrios, fervilhavam manifestações de ódio, intolerância e autoritarismo. A catástrofe que tiraria a vida de Anne e a de milhões de judeus na Europa durante o Holocausto não foi fruto de uma ruptura repentina. A tragédia ocorreu como consequência de uma construção progressiva e claustrofóbica com sucessivos e perigosos sinais. Aos poucos, empurrões e negações desumanizadoras reduziram as opções da família Frank e levaram Anne ao exílio na Holanda e, por fim, ao esconderijo no Anexo Secreto. Reconstruímos esse caminho que, impossível de ser revivido, pode ser experimentado e sentido por meio de suas múltiplas camadas de realidade e subjetividade, símbolos, signos e expressões. No desafio constante de gerar empatia e de construir alteridade, aqui são mescladas a objetividade sempre parcial das fotografias, as impressões e expressões manifestas pelos artistas e a dura realidade dos objetos históricos.
Spoiler - Texto Curatorial
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Anne Frank não sobreviveu à barbárie nazista. Ela foi uma entre cerca de 1.500.000 de crianças e adolescentes que tiveram suas vidas e seus sonhos interrompidos em nome de um projeto racista e opressor. Tiveram negados seus direitos de “ser” e, mesmo assim, resistiram, cada um à sua maneira. Muitos, como Anne, não se calaram. Seu Diário reflete a sua vida, e não a sua morte. Esta exposição não utiliza imagens aterrorizantes e violentas do genocídio, que podem levar ao apagamento das individualidades, ao choque e à repulsa. Ao contrário, “Deixem-nos ser” propõe empatia, reflexão e ação. Essas informações não vão prejudicar a sua experiência e a sua conexão com Anne. Pelo contrário.
Ernst Kirchner - Visita guiada Inspirar-te
Rua de Berlim, 1913 Reprodução Artista mulher, 1910 Reprodução Franzi na frente de uma cadeira esculpida, 1910 Reprodução
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Quais são os sons da cidade? E os cheiros? E as cores? Ernst Kirchner foi um dos fundadores do grupo expressionista A Ponte, que buscava romper com as tradições da arte e explorar novas formas de expressão. Kirchner é bastante conhecido por suas obras que retratam a vida urbana, especialmente as cenas da cidade de Berlim, onde viveu e trabalhou por muitos anos. Ele era fascinado pela energia e pela dinâmica das grandes cidades, e isso se reflete em suas pinturas por meio de cores vibrantes. Na pintura "Rua, Berlim" de 1913 o artista nos leva para as ruas movimentadas da cidade. Lá, vemos pessoas com perfis diversos, alongados e distorcidos, que se movem freneticamente. As cores e os ângulos agudos capturam a agitação da vida urbana naquele período. Você observa com atenção as ruas por onde passa todos os dias? O que mais te chama a atenção? Já pensou em imitar os sons da cidade? As cores vibrantes e as formas características do expressionismo alemão também podem ser vistas nas obras "Mulher artista", de 1910 e "Franzi na frente de uma cadeira esculpida", do mesmo ano. É interessante notar que essas jovens, assim como Anne Frank, tinham inseguranças, sonhos e paixões. Imagem 1: Ernst Kirchner Rua de Berlim, 1913 Reprodução Imagem 2: Vista da Potsdamer Platz, 1900 Wikimedia Commons Imagem 3: Ernst Kirchner Autorretrato, 1919 Wikimedia Commons Imagem 4: Ernst Kirchner Artista Mulher, 1910 Reprodução Imagem 5: Ernst Kirchner Franzi na frente de uma cadeira esculpida, 1910 Reprodução Imagem 6: Cartaz da exposição do grupo de artistas "Die Brücke", 1910 Wikimedia Commons
Ernst Kirchner - Texto Curatorial
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Com sua feroz paleta de cores, Ernst Kichner (1880-1938) produziu cenas do cotidiano e retratos da vida na Europa dotadas de grande expressividade. Suas jovens modelos misturam aparente pessimismo, singela beleza e intensa personalidade, imagens de uma época anterior às guerras mundiais com seus matizes e nuances contrastantes. Kirchner foi fundador do grupo vanguardista Die Brücke (A Ponte), que buscava romper com as tradições rumo à liberdade e à modernidade. Por isso e por suas posições políticas antiguerra, mais de 600 de suas obras foram consideradas “degeneradas” pelo regime nazista e alvo de perseguição. Sua morte ocorreu um ano antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial.
Max Liebermann - Visita guiada Inspirar-te
Rua judaica de Amsterdã, 1908 Reprodução Bairro Judaico de Amsterdã, 1905 Reprodução
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Estas pinturas têm movimento? É possível identificar as pinceladas? Se estas cenas fossem apenas um gesto, qual seria? Tente reproduzir esta ação. É rápida ou devagar? É grande e expansiva, ou pequena e tímida? O que podemos observar aqui, são as rápidas pinceladas que buscam justamente demonstrar movimento e agilidade. Também conseguimos perceber uma grande abundância de cores e de luz. Este tipo de pintura é conhecido como Impressionista, um movimento artístico que surgiu na França, e que se expandiu por toda a Europa. Você consegue enxergar essa agilidade nas obras? Talvez o artista quisesse capturar um momento único que nos dá uma percepção de descontração e alegria do cotidiano deste bairro judeu. Estas duas pinturas são de um artista alemão chamado Max Liebermann que viveu entre 1847 e 1935. Considerado um famoso impressionista de sua época, era judeu como Anne Frank. Estas pinturas foram feitas 30 anos antes da Segunda Guerra começar. Podemos imaginar que muitas das pessoas retratadas aqui foram, então, privadas de suas liberdades. Como você imagina que estas pessoas se sentiram quando não puderam mais frequentar as feiras e ruas? Quais são as pessoas, coisas, lugares do seu bairro que você gosta? Imagem 1: Max Liebermann Rua judaica de Amsterdã, 1908 Reprodução Imagem 2: Bairro judeu de Amsterdam entre 1900 e 1914 Wikimedia Commons Imagem 3: Max Liebermann Bairro Judaico de Amsterdã, 1905 Reprodução Imagem 4: Max Liebermann Autorretrato com pincel, 1913 Wikimedia Commons
Max Liebermann - Texto Curatorial
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Em suas pinturas, Max Liebermann (1847-1935) representou, com pinceladas marcadas de personalidade, as ruas e bairros habitados por judeus em Amsterdã. Suas luminosas impressões mostram o colorido cotidiano dessa população: suas vestimentas, hábitos e integração em uma cidade que, antes das grandes guerras, era tradicionalmente considerada das mais tolerantes e liberais da Europa. O pintor judeu-alemão, fundador da primeira geração de vanguardistas da Secessão Berlinense, foi presidente da Academia Prussiana das Artes, cargo ao qual foi forçado a renunciar quando esta parou de aceitar membros judeus. Morreu em Berlim, poucos anos após a tomada do poder pelos nazistas, dos quais foi um crítico mordaz. Muitas de suas obras foram mais tarde consideradas “degeneradas” pelo regime, retiradas de exposição e destruídas.
Vitrine de loja infantil - Visita guiada Inspirar-te
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Nesse espaço, vemos a reconstituição de uma loja de roupas infantis pertencente à comunidade judaica. Na vitrine, lemos o cartaz maior: “Holandeses! Defendam-se! Não comprem de judeus!”. O que isso significa? Quando Hitler se tornou chanceler da Alemanha em janeiro de 1933, uma de suas primeiras medidas foi pregar cartazes com slogans antissemitas em lojas e empresas judaicas. A propaganda nazista também boicotou profissionais judeus como médicos e advogados. Você sabe o que é um boicote? O boicote é quando as pessoas decidem não comprar ou não participar de determinada ação como forma de protesto, mostrando que não concordam com algo. O objetivo era prejudicar economicamente a comunidade judaica. Este foi o início de uma série de medidas que levaram à perseguição de grupos marginalizados, como ciganos, homossexuais, pessoas com deficiência e opositores políticos. Imagine que crianças judias como Anne Frank viam esses cartazes todos os dias quando andavam pelas ruas. Como descrever essas experiências? Como elas resistiram à perseguição? Imagem 1: A partir de 1º de abril de 1933, as lojas judaicas na Alemanha nazista foram vandalizadas para alertar as pessoas a não comprarem nesses locais. As placas na loja diziam: Judeu! Wikimedia Commons Imagem 2: Em 1º de abril de 1933, teve início o boicote anunciado pelo partido nacional-socialista. Cartaz com os dizeres: "Alemães, defendam-se, não comprem de judeus", na loja judaica Tietz. Wikimedia Commons
Foto da família Frank - Audiodescrição
A família Frank na frente de sua casa em Merwedeplein, Amsterdã, em abril de 1941 Foto: Anne Frank House / Anne Frank-Fonds Reprodução
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Na fotografia em preto e branco da família Frank feita em abril de 1941, da esquerda para a direita estão, Margot, Otto, Anne e Edith. Eles estão em um ambiente urbano, em frente da casa deles, em Amsterdã. Margot é uma jovem de pele clara e cabelos castanhos. Está usando um sobretudo de cor clara aberto sobre uma saia também clara e blusa mais escura, sapatos de salto baixo e um pequeno chapéu. Os óculos dela são redondos, com armação fina de metal. Ela está olhando para o lado e tem um leve sorriso nos lábios. Otto usa um sobretudo escuro abotoado sobre calça, camisa e gravata. Na cabeça, tem um chapéu cujas abas fazem sombra em seu rosto, de forma que não distinguimos muito claramente seus traços. Ele está com os braços abertos, enlaçando as filhas que estão ao lado. Anne usa um sobretudo de cor clara abotoado e arrematado com um cinto. As meias são claras e os sapatos escuros e amarrados com cadarço. Ela está encostada no pai e de mãos dadas com a mãe. Edith veste um sobretudo acinturado que está abotoado e calça sapatos de salto baixo. Leva uma bolsa arredondada com as alças encaixadas no pulso esquerdo e usa um chapéu do mesmo tom do sobretudo. A aba do chapéu sombreia seu rosto, não sendo possível perceber detalhes do rosto.
Arte degenerada - Texto Curatorial
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Livro "Almansor", de Heinrich Heine. Alemanha, ed. 1906. Acervo Museu do Holocausto de Curitiba. Cortesia de Kurt Krakauer Z"L. "Onde livros são queimados, ao final, também são queimadas pessoas." Heinrich Heine (1797-1856) Liberdade e criatividade são inimigas dos regimes autoritários – e, por isso, o nazismo perseguiu também artistas. O termo que usavam, “arte degenerada”, foi herdado das teorias eugenistas e racistas. Ele estava associado à ideia de decadência e corrompimento, e foi aplicado às obras e movimentos que não estavam de acordo com as concepções políticas e estéticas do Terceiro Reich. Expressionistas, dadaístas, surrealistas, cubistas e demais artistas ligados às correntes modernistas propunham, desde o início do século XX, a libertação das artes quanto às tradições, seu uso na crítica política e social, a defesa da individualidade criativa e pluralidade da expressividade humana. Foram todos tratados como inimigos do pensamento único, base ideológica do Totalitarismo. Milhares de livros, quadros e outras obras foram confiscados, vendidos ilegalmente para financiar o regime, censurados ou destruídos na luta contra a diversidade de pensar, sentir e ser. A liderança nazista, composta boa parte por artistas frustrados, chegou a organizar exposições de obras consideradas “degeneradas” com o intuito de ridicularizá-las e humilhar seus autores. Para seu enorme desgosto, as exposições tiveram enorme público. Nem todos pareciam concordar. Imagem 1: Cartaz da exposição de "Arte degenerada" na Haus der Kunst, 1937 Wikimedia Commons
Queima dos livros - Visita guiada Inspirar-te
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Qual o poder de um livro? Ao observarmos essa fogueira alimentada por livros, podemos refletir sobre um dos momentos mais duros da história contemporânea. Em 10 de maio de 1933, jovens do partido nazista se reuniram em várias cidades para queimar livros considerados uma ameaça ao regime. Essa ação tornou-se um símbolo de intolerância e censura. Você sabe o que é censura? Censura é quando o governo tenta controlar ideias, restringindo diferentes mídias como jornais, livros, filmes, músicas, internet e até o que é ensinado nas escolas. Isso pode acontecer por motivos políticos, religiosos ou culturais. A censura é inimiga da liberdade de expressão e da democracia. A queima dos livros buscava silenciar vozes discordantes, promovendo uma visão unificada da sociedade baseada em valores nacionalistas e racistas. Para Heinrich Heine, “Onde se queimam livros, acaba-se queimando pessoas”. Entre os autores cujas obras foram queimadas estavam judeus, dissidentes políticos, intelectuais e artistas modernistas. Eles também foram perseguidos pelo regime, confirmando de maneira trágica a afirmação do poeta alemão. Por outro lado, suas histórias nos fazem refletir sobre o poder da educação e da liberdade de expressão. Esses livros representam não apenas o conhecimento perdido, mas também a coragem daqueles que lutaram contra a tirania e a injustiça. Pense nos últimos livros que você leu. Uma leitura pode nos transformar? Imagem 1: Otto Gerhausen Queima de livros na Alemanha, 1933 Ilustração Wikimedia Commons Imagem 2: Um membro da SA joga livros confiscados em uma fogueira durante a queima pública de livros "não alemães" na Opernplatz em Berlim, 1933. Wikimedia Commons
Estrela de Nanette - Visita guiada Inspirar-te
Estrela amarela, Países Baixos, c. 1942-1944 Cortesia de Nanette Blitz Konig
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O que faz alguém ser judeu? Os judeus são um povo que se originou há milhares de anos no Oriente Médio a partir de grupos hebreus e israelitas. Um povo tem uma identidade em comum, compartilha uma história, tradições e costumes. A Estrela de Davi é um símbolo que representa esse povo. Um símbolo é uma imagem que traduz uma ideia. Durante o nazismo, foi transformado em uma insígnia de discriminação. Anne Frank e sua amiga Nanette Blitz testemunharam essa história. Embora Anne tenha tido um final trágico, Nanette conseguiu sobreviver, fugindo para o Brasil. Aqui, ela começou uma nova vida. Casou-se, teve filhos, netos e bisnetos. Nanette emprestou a sua estrela para esta exposição. Para ela, lembrar o passado é importante, porque conseguimos inventar um futuro melhor. Qual símbolo você usaria para se representar? O símbolo que você escolheu te liberta ou aprisiona? Imagem 1: Códice de Leningrado, página 1008 Wikimedia Commons
Estrela de Nanette - Texto Curatorial
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"Anne foi uma pessoa especial, com sorriso no rosto e que esbanjava vontade de viver. Embora para mim, seus escritos não fossem novidade, pois eu também vivia aquilo.” Nanette Blitz Konig Símbolo reconhecido da identidade judaica moderna, a Estrela de David foi transformada pelos nazistas numa insígnia de discriminação. Carregando essas estrelas obrigatórias em suas roupas, as jovens Nanette Blitz e Anne Frank tornaram-se colegas em um colégio segregado para adolescentes judeus. O convívio entre as duas durou quase um ano – tempo suficiente para que Nanette participasse do 13° aniversário de Anne. Ela se lembra dos presentes espalhados sobre a mesa, entre eles o caderno encapado com tecido xadrez vermelho e verde dado pelo pai Otto à filha. Em suas páginas, Anne escreveria seu famoso Diário. O último encontro entre elas foi um abraço através da cerca que separava os campos de concentração em Bergen-Belsen, na Alemanha, onde Anne morreria pouco depois. Nanette trouxe sua estrela para São Paulo. Aqui, reconstruiu sua vida e teve filhos, netos e bisnetos.
Foto de Anne e Nanette - Audiodescrição
Nanette Blitz e Anne Frank no Liceu judaico de Amsterdã, aos 12 anos de idade, em dezembro de 1941. Arquivo pessoal Nanette Blitz Konig e Anne Frank House / Anne Frank-Fonds
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Anne posa sorridente para a foto em preto e branco. Ela olha para a câmera, sentada atrás de uma mesa onde há um caderno aberto. Atrás dela, a parede é pintada de cor clara na parte de cima e mais escura na parte de baixo. A menina apoia os braços sobre a mesa, com os cotovelos dobrados e o braço esquerdo sobre o braço direito. Ela usa um delicado relógio de pulso no braço esquerdo. Veste uma blusa clara, de mangas na altura do cotovelo e decote redondo rente ao pescoço, com adornos em forma de pontos que circundam o decote, formam duas listras verticais na frente e três listras horizontais nas mangas. Anne é branca, tem os olhos castanhos com pequenas bolsas sob eles e cabelos castanhos um pouco ondulados, na altura dos ombros. Seu rosto é fino, a testa alta, o nariz alongado e lábios são finos que se abrem em um sorriso largo, mas discreto. A foto de Nanette também é em preto e branco e foi captada no mesmo local que a de Anne, o Liceu judaico de Amsterdã. Era dezembro de 1941 e as meninas tinham 12 anos de idade. Nanette repete a mesma pose da amiga para ser retratada. Ela veste uma blusa clara com mangas compridas e delicada gola redonda. Sobre a blusa um colete acinzentado de tricô. Nanette tem a pele clara, os olhos claros e brilhantes e os cabelos castanhos, que estão divididos de lado e formam alguns cachos embaixo, na altura do pescoço. O rosto é ovalado com as bochechas um pouco salientes, a testa alta e o nariz fino. Ela olha para a câmera com um grande sorriso nos lábios.
Deportação de famílias judias de Amsterdã - Visita guiada Inspirar-te
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O que obriga uma pessoa a abandonar sua casa? O que alguém leva na mala quando vai embora? Nesta imagem, homens, mulheres e crianças são forçados a deixar suas casas e pertences. Eles carregam malas e sacolas, posses limitadas que tiveram a permissão de levar. Apesar das dificuldades que enfrentam, mantêm as cabeças erguidas. São famílias judias de Amsterdã, levadas para o Campo de Trânsito e Concentração. Esta expulsão ocorreu sob o regime nazista, que ocupou os Países Baixos durante a Segunda Guerra Mundial. Este momento foi documentado por um fotógrafo cujo nome é desconhecido, mas sua obra é um testemunho poderoso que nos convida a refletir sobre as vidas, os sonhos e as comunidades devastadas pela discriminação. Anne Frank e sua família trilharam um caminho semelhante. A família Frank também foi deportada de Amsterdã para Westerbork antes de ser enviada para o complexo de Auschwitz-Birkenau, na Polônia ocupada. Anne, como muitos outros, compartilhou o medo e a incerteza durante esses momentos sombrios. Anne foi obrigada a deixar seu diário para trás, mas será que em sua mala ela carregou algo que traria conforto e esperança? Quantas famílias partiram sem conseguir deixar seus diários? Nunca saberemos.
Foto de Anne e suas amigas - Audiodescrição
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Em uma foto em preto e branco, nove meninas, uma ao lado da outra, se abraçam e formam uma fila suavemente arqueada. Elas estão em um ambiente ao ar livre, com um edifício não muito alto ao fundo. As meninas usam vestido ou saia com comprimento perto do joelho, mangas curtas e decotes próximos ao pescoço. As estampas são suaves e delicadas. Elas calçam meias curtas e sapatos de pulseirinha. Algumas tem laços na cabeça. Regulam em estatura e todas são brancas. As sombras das meninas estão refletidas no chão de blocos de concreto atrás delas. E suas expressões, olhos um pouco fechados e cabeças levemente abaixadas, nos fazem acreditar ser um dia bastante ensolarado e iluminado.
Sala Tommy Fritta - Texto Curatorial
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Tommy Fritta, nome deste espaço educativo, era o apelido do garotinho tcheco Thomas Fritta, que completou três anos de idade enquanto vivia no gueto de Theresienstadt, também conhecido como Terezin. Guetos eram espaços ou até mesmo bairros transformados em prisões, principalmente para judeus, que eram forçados a viver sob condições miseráveis. Tommy foi mandado para Terezin com sua família apenas por serem judeus. Lá, seu pai, Bedrich escreveu e ilustrou o livreto Tommy como um presente de aniversário. Nos desenhos, ele representou o menino celebrando a data como as pessoas livres costumavam fazer fora do gueto. Colorem as páginas comidas, brinquedos, árvores, flores, pássaros, viagens e pessoas de todo o mundo. Todas elas idealizadas pelo artista, que nunca saiu da Europa e só podia imaginá-las. Mesmo assim, as fazia sorrindo, diversas e, apesar das diferenças, em harmonia. Uma vida que, naquele momento, parecia tão distante. Um futuro melhor. O livreto, encontrado enterrado numa lata, era um presente de otimismo e esperança. Assim como Anne Frank, Papai Fritta foi mais um dos artistas que imaginou um mundo onde todos poderiam ser crianças, felizes e tratados como merecem todos os seres humanos. Tommy viveu até ficar bem velhinho - e, segundo ele mesmo, feliz.
Tommy e as Artes - Visita Guiada Inspirar-te
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Qual é a prática artística que mais faz você se sentir bem? Escrever? Ler? Pintar? Ouvir uma música? Em tempos de desafios, a cultura tem um papel importantíssimo! Pode ser através da escrita que nos permite criar e inventar, da leitura, que nos envolve com histórias que nos fazem sonhar, das músicas, que acalmam nossos corações ou nos fazem dançar, da pintura ou do desenho, que nos lembram que podemos nos expressar e nos libertar. A arte pode nos conectar com nossas raízes, nos dá forças para continuar e nos une. Ela nos ajuda a encontrar significado em meio à incerteza e nos lembra que não estamos sozinhos. Mais do que isso, a cultura potencializa nossa imaginação - permitindo imaginar um novo mundo. Qual é a sua forma favorita de expressão? Use-a para presentear alguém que você ama - assim como Fritta fez no aniversário de Tommy!
Tommy e as Comidas - Visita Guiada Inspirar-te
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Cheiros, sabores, sensações, texturas… Qual comida te traz mais aconchego? Já reparou como a alimentação nos une? Quando combinamos de encontrar amigos, família, pessoas queridas… Quando vamos colocar o papo em dia, comemorar uma conquista, ou celebrar uma data especial… A comida está sempre presente, não é mesmo? Nas obras aqui apresentadas vemos uma fartura de alimentos, tanto em quantidade, como em variedade. Apesar da comida ser sempre vista como fonte de alegria, é importante lembrar que ela é também uma necessidade básica e humana. Tommy e seu pai passaram fome. Por isso, nos desenhos aqui ilustrados, a comida continua sendo representada como algo que o pai deseja para seu filho - um motivo de celebração! Quase dá para sentir a alegria de Tommy ao receber uma caixa enorme de alimentos, os cheiros dos pratos, e a esperança de que em breve a barraquinha de frutas estará mais colorida do que nunca. Qual a sua comida predileta para celebrar uma conquista? Com quem você gostaria de se reunir?
Tommy pelo Mundo - Visita Guiada Inspirar-te
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Você gosta de viajar? Qual impacto uma viagem pode ter na nossa vida? Presos no gueto, Tommy e sua família não podiam visitar o mundo para além daqueles limites. Por meio de desenhos, o pai apresentou ao filho variadas formas de ser. Vemos crianças de diferentes continentes: África, Ásia e América. Também vemos o pequeno Tommy desbravando um Oriente distante, vestido como um sultão e montado numa tartaruga. Os desenhos retratam um mundo de fantasia, onde pai e filho embarcam em jornadas imaginárias para terras estrangeiras. Conhecer outras culturas enriquece o nosso olhar para o mundo! Mas as crianças desenhadas são frutos de uma imaginação de Fritta. Se Tommy tivesse a oportunidade de conhecer de pertinho pessoas reais de diversas partes do mundo, talvez os desenhos fossem diferentes. O pai queria mostrar ao filho a beleza de estar aberto para outras formas de ser. Se você pudesse conhecer uma criança de qualquer lugar do mundo, qual seria? O que ela poderia te ensinar?
Tommy e a Felicidade - Visita Guiada Inspirar-te
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O que te faz feliz? Pode ser viajar por aí, caminhar livremente em um jardim ensolarado, presentear uma menina com uma flor e mostrar todo o seu charme… Este foi o futuro que Fritta imaginou para seu filho Tommy através de suas ilustrações. No desenho do jardim, vemos um muro que se quebra ao fundo. O que será que ele simboliza? De qualquer forma, aqui vemos ideais de liberdade. No aniversário de três anos de Tommy, ela não existia, mas foi imaginada, criada e vivida através desses desenhos. Tommy viveu até ficar bem velhinho… será que os ideais de liberdade dele eram os mesmos que seu pai idealizou? E os seus, quais são? Represente a felicidade através de um movimento, gesto, ou som!
Os Sonhos de Fritta - Visita Guiada Inspirar-te
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No desenho onde vemos os pais de Tommy, ambos choram mas têm sorrisos nos rostos. Tinham a esperança de que Tommy ficaria bem - e ficou! Após o período vivendo no Gueto de Theresienstadt, Tommy foi adotado por Leo Haas, - amigo de Fritta, pintor, ilustrador, artista gráfico e sobrevivente. Foi Leo quem ajudou a esconder os desenhos feitos por Fritta e os resgatou e publicou após a Guerra! Junto com sua esposa, Erna Haas, também sobrevivente, Tommy foi acolhido, abraçado e muito amado. A fotografia que vemos aqui é de Tommy, já mais velhinho, não é mais a criança tão representada ao longo desta sala. Vamos tentar imaginar, em meio a todos os desenhos, quais futuros criados por Bedrich Fritta se concretizaram? Será que Tommy viajou pelo mundo e conheceu diversas culturas? Será que ele pôde presentear a pessoa amada com uma bela flor? Será que Tommy se expressou por meio da escrita ou da pintura? Ou talvez organizou um grande jantar com todos os seus amigos e pessoas queridas? Talvez, nem todos os desenhos imaginados por Fritta para o futuro de Tommy tenham se tornado realidade, mas podemos sonhar que seu futuro foi repleto de amor e afeto!
Maquete do Anexo Secreto - Visita Guiada Inspirar-te
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O que faz uma pessoa se sentir em casa? Na maquete do “Anexo Secreto”, temos a representação em miniatura do local onde Anne Frank e sua família se esconderam da perseguição nazista. O edifício, localizado na rua Prinsengracht, número 263, típica construção de Amsterdã. Observando atentamente, vemos que uma das janelas do segundo andar está coberta por uma prateleira, escondendo o anexo em que os Frank viveram por dois anos. A entrada fica atrás de uma estante de livros que podia ser removida, revelando a escada estreita que levava ao anexo. Nos quartos, há camas, mesas e cadeiras simples, prateleiras e armários improvisados para armazenar suprimentos e pertences pessoais. Apesar da situação precária, as paredes são cobertas por fotos recortadas de revistas. Anne Frank as colou ali na tentativa de criar um sentimento de pertencimento ao espaço. Apesar de tudo o que deixaram para trás, a família cuidou desse novo espaço para que se parecesse com um lar. E você? Quais elementos da sua casa fazem com que você se sinta confortável? Nas próximas salas da exposição, você visitará uma reconstituição detalhada do “Anexo Secreto”. Aproveite essa oportunidade para observar quais elementos visuais e sonoros você identifica. Como eles ajudam a contar a história de Anne Frank? Imagem 1: Vista frontal da fachada da Casa da Anne Frank, 1957 Wikimedia Commons Imagem 2: Vista traseira da fachada da Casa da Anne Frank, 1957 Wikimedia Commons
Momento 2 - Texto Curatorial
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“Gostaria de andar de bicicleta, dançar, assobiar, olhar o mundo, me sentir jovem e saber que sou livre [...]” Anne Frank Aqui se abre a pequena porta do Anexo Secreto onde Anne Frank e outras sete pessoas se esconderam por pouco mais de dois anos. No pequeno esconderijo, Anne não era livre para fazer suas escolhas. No entanto, motivada por uma transmissão radiofônica clandestina, aflorou seu enorme objetivo. Um projeto que, dadas as circunstâncias, só caberia nos sonhos da adolescente: tornar-se escritora e jornalista. Entrar neste ambiente é um convite à imersão num espaço de memória reconstituído, com objetos e marcas pessoais mencionadas em passagens do Diário. Ao observar e caminhar, lembre-se de Anne escrevendo e de tantas outras pessoas olhando discretamente pelas janelas, conversando sobre as notícias e, por vezes, até rindo. Se é impossível e até indesejada a simulação ou repetição dos sofrimentos alheios, é possível a identificação, a empatia e o reconhecer-se por meio de outras experiências. Com uma introspecção reflexiva, solidária e transformadora, os sentimentos de Anne podem ecoar em nós. Suas memórias, vivas dentro de nós, são eternizadas.
Käthe Kollwitz - Visita Guiada Inspirar-te
As mães, 1921-22 Reprodução
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Um abraço de mãe pode afastar qualquer mal? Esta xilogravura representa várias mães unidas em um abraço. Cada mulher olha em uma direção, elas estão vigilantes. Käthe Kollwitz desenhou essas mulheres com expressões de dor e preocupação. Mas elas seguram seus filhos com amor, acreditando que em seus braços eles estariam seguros. Käthe era uma artista muito talentosa, foi a primeira mulher a se tornar professora na Academia de Belas Artes da Prússia, uma das escolas de artes mais importantes. Mas ela não concordava com os nazistas e foi perseguida por eles. Os desenhos de Käthe Kollwitz nos fazem refletir sobre o amor das mães e como elas sempre querem proteger seus filhos, mesmo quando não podem evitar a dor deles. É uma obra que nos inspira empatia pelas famílias que enfrentam guerras e nos lembra da importância de cuidarmos uns dos outros. Quando você está com medo, o que faz você se sentir seguro? Imagem 1: Käthe Kollwitz As mães, 1921-22 Reprodução Imagem 2: Hugo Erfurth Retrato de Käthe Kollwitz, 1927 Wikimedia Commons
Käthe Kollwitz - Texto Curatorial
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Em obras como As mães, Käthe Kollwitz (1867-1945) gravou a realidade da dor e do sacrifício de mães e famílias na guerra. Unidas em abraço, é também uma imagem de proteção, união e bravura frente ao perigo. Longe de antagônicas, essas ideias complementam-se no contraste. Segundo a pesquisadora Luiza Wollinger Delfino, “talhadas em claro e escuro tanto nos corpos das dramáticas figuras quanto na madeira base da xilogravura”. A artista perdeu o filho mais jovem na Primeira Guerra Mundial, quando registrou em seu diário: “Eu só posso ser uma mãe para meus próprios filhos”. Foi a primeira professora mulher na Academia de Belas Artes da Prússia, até ser expulsa por suas posições políticas radicalmente antinazistas e pacifistas. Ela foi ameaçada de ser enviada a um campo de concentração, e sua arte foi considerada degenerada e perseguida pelo regime nazista. Para a artista Fayga Ostrower, “diante das obras de Käthe Kollwitz, vemos que ela nos fala no maior desespero. Nós entendemos o desespero. Mesmo assim, em vez de deprimidos, saímos enriquecidos”.
Hall de entrada e entrada - Audiodescrição
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Estamos em um elegante hall de entrada da casa com paredes adornadas com papel de parede em tons suaves. Na parede lateral, as duas janelas têm vidros jateados emoldurados em madeira. Uma grande estante de livros de madeira escura é o personagem central do espaço, pois ela oculta uma porta que dá acesso a um hall passagem onde está a escada que leva ao Anexo Secreto. O áudio aberto no ambiente traz Anne contando sobre a chegada da família ao anexo. Após atravessar a porta atrás da estante, no hall de passagem, a escada estreita escada de madeira fica à direita. Nas paredes, há um cabideiro com roupas, casaco e chapéu. No espaço temos ainda uma obra de Käthe Kollwitz e textos da exposição. Vamos a um trecho de um dos textos: “Só quando estava na rua com seu pai e com sua mãe é que Anne descobriu para onde eles estavam indo. O esconderijo ficava na empresa do pai dela. Chegaram depois de uma hora de caminhada. Miep já estava à sua espera e abriu a porta. Ensopados e suando, eles entraram no prédio. Subiram a escada estreita em direção ao Anexo Secreto onde iriam viver na clandestinidade. Uma nervosa Margot já estava lá. Eles ficaram aliviados por não terem passado por nenhum controle pelo caminho e ficaram contentes por todos chegarem seguros.” Fique mais um tempo por aqui e ouça também o áudio abertos de Anne sobre não fazerem barulho durante o dia.
Quarto Edith, Otto e Margot - Audiodescrição
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Entramos agora no ambiente do quarto que Margot, a irmã de Anne, dividia com seus pais durante o tempo em que ficaram escondidos no Anexo Secreto. O espaço retangular, mais comprido do que largo, abriga duas camas. As duas camas estão encostadas na parede e têm aspecto simples, sem luxo, com colcha e travesseiro sobre elas. Nas paredes, acima das camas, há um pequeno armário com portas, à esquerda quando entramos no quarto e, à direita, está uma estante contendo livros, que eram transportados todos os sábados por Miep, a secretária do Sr. Frank, responsável pelo abastecimento do grupo. No armário que está à esquerda, está presa uma cortina clara com estampa delicada que desce sobre a cama. Sobre o armário, objetos pessoais e mais livros. Do lado direito, um aquecedor com um grande tubo de exaustão ligado à parede. Um pequeno tapete estampado e retangular está sobre o piso acinzentado entre as camas. Ao fundo há uma janela que tem seus vidros cobertos por uma cortina branca. Embaixo está uma pequena mesa retangular com duas cadeiras, uma de cada lado. A mesa está coberta por uma toalha e há livros e uma vela em cima dela. Anne escreveu: “A situação não parece tão ruim à luz de velas quanto na escuridão. Eu estava tremendo como se tivesse febre, e implorei que papai acendesse a vela de novo. Ele foi rígido: não deveria haver luz nenhuma. De repente, ouvimos uma rajada de metralhadora, e isso é dez vezes pior do que os canhões antiaéreos.”
Quarto Anne e Fritz - Audiodescrição
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Agora chegamos ao quarto de Anne e do dentista Fritz. O espaço com papel de parede em suave tom rosado tem duas camas simples, uma escrivaninha e duas cadeiras. A escrivaninha de madeira tem um nicho onde estão apoiados vários livros. E há uma luminária sobre ela. Nas paredes, estão colados alguns cartazes, imagens recortadas de revistas e fotografias. Anne escreveu: “O Sr. Krugler me deixa feliz todas as segundas-feiras, trazendo um exemplar da revista Cinema & Theater. Os membros mais fúteis de nosso lar costumam se referir a esse pequeno mimo como desperdício de dinheiro, mas nunca deixam de se surpreender ao ver como posso citar com exatidão os atores de qualquer filme, mesmo depois de um ano. Bep, que no dia de folga costuma ir ao cinema com o namorado, me conta no sábado o nome do filme que vão ver, e começo a metralhar os nomes dos atores e o que diz a crítica. Recentemente, mamãe observou que eu não precisarei ir ao cinema mais tarde, porque sei de cor todos os roteiros, os nomes dos artistas e as críticas.” Objetos pessoais como roupas e sapatos são encontrados pelo espaço e um urso de pelúcia está sobre uma das cadeiras. Um tapete arremata o chão entre as camas. Na escrivaninha representada neste espaço, Anne escrevia em seu diário, a quem costumava chamar de Kitty. Fique por aqui e ouça o áudio aberto de Anne com Kitty, o diário, como sendo uma amiga confidente. Ela também conta dos cartões de artistas de cinema que ganhou de Otto e do interesse em artes plásticas, além de sua batalha com Fritz por um tempo pra usar sua escrivaninha.
Banheiro e Tunel de Transição - Audiodescrição
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O espaço é um pequeno banheiro com uma pia branca e um espelho sobre ela. Em uma prateleira entre a pia e o espelho estão vários frascos, remédios e escovas. Ao lado da pia, um armário baixo, com duas portas, está pintado em tom verde e também tem frascos e objetos pessoais sobre ele. O vaso sanitário fica isolado, separado por paredes. Nos áudios abertos neste espaço, você pode acessar a fala de Anne sobre os horários de cada um no banheiro e sobre sua depressão. Ela narra também sobre estar crescendo e reflexões sobre sua imagem no espelho e sobre suas amigas que ela já tenta imaginar onde estariam e se estariam vivas. Ela escreveu: “Estou tomando valeriana todos os dias para controlar a ansiedade e a depressão, mas isso não impede que me sinta ainda mais infeliz no dia seguinte. Uma boa gargalhada ajudaria mais do que dez gotas de valeriana, mas quase esquecemos aqui como se gargalha. Às vezes, tenho medo de que meu rosto fique flácido com toda essa tristeza e que minha boca fique caída para sempre nos cantos. Os outros não estão em situação melhor. Todo mundo anda apavorado com o grande terror conhecido como inverno.” Após o banheiro, vem o túnel que leva à próxima área, representando a escada que existia no local, onde você pode ouvir o áudio de Anne sobre o silêncio ao subir os degraus, pois o barulho pode revelar para o pessoal do escritório que eles estão morando ali.
Quarto Van Pels e Cozinha - Audiodescrição
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O quarto de Hermann e Auguste Van Pels abriga duas camas simples e uma escrivaninha e fica ao lado da cozinha. No quarto, o áudio aberto conta sobre a divisão de tarefas das oito pessoas do grupo que estava no Anexo Secreto. A cozinha tem uma mesa ao centro com cadeiras de madeira ao redor dela e um tapete no chão. Em uma das paredes há uma pia e um fogão e na outra está uma lareira. Os vidros da janela estão cobertos e uma escrivaninha com livros completa o mobiliária do espaço. O Rádio traz notícias da BBC inglesa e da rádio Orange. Anne conta sobre a restrição alimentar e há áudio da celebração da festa de São Nicolau numa noite agradável com troca de presentes e poemas. Por todo o espaço há louça, panela, relógio, cesta, garrafa, lata e outros objetos com rótulo design característico da época. Anne nos conta: “Quando penso em nossas vidas aqui, geralmente chego á conclusão de que vivemos num paraíso, comparado aos judeeus que não estão escondidos. Do mesmo modo, mais tarde, quando tudo voltar ao normal, provavelmente vou ficar me perguntando como é que nós, que sempre vivemos com tanto conforto, pudemos afundar tanto. Estou falando com relação às boas maneiras. Por exemplo, a mesma toalha cobre a mesa de jantar dese que estamos aqui. Depois de tanto uso, é difícil encontrar uma parte sem manchas. Eu faço o máximo para limpá-la, mas como o pano de pratos, também foi comprada antes de nos escondermos.”
Quarto Peter - Audiodescrição
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O quarto de Peter tem as paredes cobertas pelo mesmo papel de tom rosado suave de outros espaços da casa. Uma cama simples está encostada na parede. Na parede oposta está uma escrivaninha embaixo de uma escada de madeira que leva ao sótão. Livros estão em prateleiras na parede, há casacos em cabideiros e uma bicicleta pendurada na parede. Áudios de Anne comentam que Peter sobre poder ter o seu gato junto com ele e ela não pode. E também sobre o fato de que o jovem foi o único no anexo com um quarto só dele. Peter e Anne se apaixonaram e, segundo Anne, não havia nada mais lindo do que se deitar nos braços de Peter. Anne escreveu: “Sempre que vou para o andar de cima, é para vê-lo. Agora que tenho um objetivo, a vida melhorou bastante. Pelo menos o objeto de minha amizade está sempre aqui, e não preciso ter medo de rivais (a não ser Margot). Não pense que estou apaixonada, porque não estou, mas tenho a sensação de que vai se desenvolver uma coisa linda entre Peter e mim, uma espécie de amizade e uma sensação de confiança.”
Corredor de Transição e Escada - Audiodescrição
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O corredor que leva à escada é um espaço com um iluminação suave e direcionada, que destaca as reproduções de obras de Lasar Segall, Marc Chagall e Pablo Picasso que estão expostas e nos acompanham nesta transição. Após ouvir a descrição das obras, dirija-se à escada que dá acesso ao mezanino. Nas paredes do entorno da escada, temos diversos cartazes sobre o livro “Diário de Anne Frank”, em diferentes idiomas.
Lasar Segall - Texto Curatorial
Eternos caminhantes, 1919 Reprodução Cortesia do Museu Lasar Segall
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Lasar Segall (1889-1957), artista judeu-lituano de expressiva carreira em nosso país, retratou em suas pinturas os oprimidos do velho e do novo mundo: judeus da Europa, negros do interior do Brasil, imigrantes e refugiados obrigados a se deslocar. Em Eternos caminhantes, Segall representa essas pessoas; não há detalhes nas roupas ou na paisagem, sugerindo que elas podem estar em qualquer lugar e ser qualquer pessoa. O título sugere movimento, no entanto, as figuras parecem estáticas, paralisadas, enquanto seus rostos distorcidos olham para nós, como se estivessem procurando para onde ir. Modernista de primeira grandeza, o artista contribuiu para trazer ao Brasil as influências do impressionismo e expressionismo europeus, bem como para conscientizar sobre as mazelas da guerra e as migrações forçadas. Do Brasil, o artista assistiu à ascensão ao poder dos nazistas e à retirada de suas obras de museus alemães. Muitas delas foram destruídas. Imagem 1: Lasar Segall Eternos caminhantes, 1919 Reprodução
Marc Chagall - Texto Curatorial
O circo azul, 1950 Reprodução foto: Tate
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Marc Chagall (1887-1985) foi um pintor de memórias, lembranças e magia. Como ele mesmo disse, “o Circo é um espetáculo mágico que surge e desaparece como o Mundo”. Seu Circo azul foi pintado em 1950, quando a Segunda Guerra Mundial ficava para trás. Nele, destaca-se a figura feminina da trapezista cercada de imagens de sonhos, suspensa no ar em um salto pleno e confiante em direção a um futuro mais seguro. Considerado pelo crítico de arte Robert Hughes “o artista judeu essencial do século XX”, Chagall fez parte da primeira geração de modernistas e alcançou fama mundial. Unindo inovações e experimentações estéticas, ele trouxe consigo as tradições judaicas e folclóricas do leste europeu e de sua infância na aldeia. Imagem 1: Marc Chagall O circo azul, 1950 Reprodução
Pablo Picasso - Texto Curatorial
Pomba, 1949 Reprodução foto: Tate
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Pablo Picasso (1881-1973), um dos maiores artistas do século XX, foi um engajado crítico do nazismo, do autoritarismo e das guerras. Em uma de suas mais famosas declarações, destacou: “a pintura não foi feita para decorar apartamentos. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo”. Em um belo contraste, sua obra Pomba é um símbolo da paz, do amor e da reconciliação entre Deus e os homens. A litografia de composição simples, onde contrastam claro e escuro, foi produzida após a Segunda Guerra Mundial e a Declaração Universal dos Direitos Humanos para os cartazes do Primeiro Congresso Mundial dos Partidários da Paz, em Paris, em 1949. Foi um momento de luminosa esperança por um mundo melhor. Imagem 1: Pablo Picasso Pomba, 1949 Reprodução
Momento 3 - Texto Curatorial
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“É preciso combater atos de destruição com atos de criação.” Theaster Gates Do sótão do Anexo Secreto, janelas se abrem para a humanidade, para o presente, para a celebração da vida. Embora as páginas do Diário tenham terminado, a memória de Anne Frank não. Seu legado se une às lutas de muitas outras pessoas. No diálogo entre as artes, os direitos humanos e a essência do Diário, distintas temporalidades e territorialidades se encontram: a Europa do século XX e o Brasil do XXI. O foco está na exigência sempre urgente da liberdade, empatia e identificação. Cientes de que o direito à cultura é a base para a imaginação de todos os outros direitos, e que um espaço expositivo é também espaço social, convocamos artistas para a luta e sonho inspirados por Anne Frank. Para o belo e, por vezes, duro encontro entre as artes e o desejo de transformar a realidade. Esta seleção busca uma experiência inspiradora, sensível, plural e conscientizadora. Contra o cerceamento das maravilhosas possibilidades humanas e pelo direito à existência de pessoas, obras e ideias de todas as origens, religiões, orientações e gêneros: judaicas, afrodescendentes, indígenas, mulheres, LGBTQIAPN+, marginalizadas, minorizadas, perseguidas e violentadas. Todas. Para a humanidade que, infinita em sua diversidade, não cabe em catálogos e listas, nem em salas de exposição ou em um sótão de esconderijo. Mas que, das janelas abertas, se pode ver. Inspire-se: “Deixem-nos ser.”
Claudia Andujar - Série: Marcados - Visita Guiada Inspirar-te
Vertical 20 (Ericó, RR) (da série Marcados), 1980-83 Fotografia p&b Coleção da artista Cortesia da Galeria Vermelho
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Qual o seu nome? O que esse nome diz sobre você? Nestas fotografias, vemos três crianças Yanomami identificadas por números. Os Yanomami são um dos maiores povos indígenas do Brasil. Ao longo de sua história, houve muita luta para defenderem suas terras e sua cultura. Eles foram invadidos e desrespeitados pelos não indígenas que levaram doenças e conflitos para a Amazônia. Na década de 1980, houve uma campanha pública de vacinação, com o objetivo de evitar novas epidemias. Para isso, era necessário fazer uma lista com os habitantes dali. Mas, na cultura Yanomami, as pessoas não têm nome próprio, eles se identificam a partir da relação com seus familiares. A solução foi identificá-los por meio de números, como vemos nas fotografias. Claudia Andujar se responsabilizou em fotografar essa campanha. Artista suíça e judia, presenciou, assim como Anne Frank, a Segunda Guerra Mundial. Ao conhecer os Yanomami, Claudia se identificou com eles: lembrou-se de seus familiares que, marcados pelos nazistas, tiveram que resistir para sobreviver. Tanto Anne quanto Claudia usaram suas habilidades para compartilhar histórias importantes com o mundo e inspirar mudanças. Claudia tornou a questão Yanomami conhecida através de suas fotografias, enquanto Anne registrou em seu diário as injustiças que os judeus enfrentaram durante a guerra. Qual habilidade você usaria para transformar o mundo?
Claudia Andujar - Série: Marcados - Texto Curatorial
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As fotografias da série Marcados, de Claudia Andujar, iluminam esta exposição desde sua gênese. Destacam-se aqui os olhares, os diálogos entre lugares, épocas e pessoas que proporcionam. Andujar, ainda uma menina judia, aos 13 anos, presenciou, na Europa comandada pelo regime nazista, parentes e amigos portando uma estrela de David. Pessoas foram marcadas por números e tatuagens. Nos anos 1980, a artista acompanhou médicos em expedições de socorro aos Yanomami na Amazônia, quando a construção de estradas trouxe uma epidemia a seu território. Os Yanomami não possuíam nomes próprios e se identificavam por graus de parentesco. Por isso, para organizar a vacinação, receberam números. Ao contrário dos judeus durante o Holocausto, os Yanomami foram "marcados para viver". As fotografias de Claudia, entre o documento oficial e a prática poética, trazem outro significado para “listas” de seres humanos. Cada um, uma vida. Única e todas, um direito de ser.
Claudia Andujar - Série: A Casa - Visita Guiada Inspirar-te
Yanomami (da série A casa), 1974-76 Fotografia p&b Coleção MAM São Paulo Doação da artista por intermédio do Clube de Colecionadores de Fotografia MAM São Paulo, 2002
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O que faz você se sentir em casa? Nesta fotografia, presenciamos uma cena íntima, no interior de uma moradia Yanomami. Vemos um contorno feminino que abraça e acolhe dois corpos infantis. As moradias Yanomami são feitas de materiais naturais como madeira e palha. Todos ajudam na construção. Para eles, trabalhar em união é imprescindível. As casas são grandes, abrigando muitas famílias ao mesmo tempo. Na casa Yanomami, não há muitos móveis, mas há humanidade, afeto e união. O trabalho de Claudia Andujar, artista judia que viu a Shoá de perto, tem como fio condutor o registro de tradições e modos de vida Yanomami. Além disso, ela também se destaca por seu ativismo político reivindicando a demarcação das terras indígenas e lutando pelos seus direitos. Claudia perdeu sua casa, mas foi abraçada pelos indígenas e construiu um lar entre eles.
Claudia Andujar - Série: A Casa - Texto Curatorial
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Na fotografia da série intitulada A casa, Claudia Andujar captura um abraço entre indígenas Yanomami em meio às sombras da floresta Amazônica. Abraços são aproximações, e este é uma poética lembrança da ideia de lugar de conforto, segurança, afeto, encontro e moradia. Direitos dos indígenas, judeus e de todos os seres humanos. Abraços unem. Artista judia de origem suíça, refugiada e que perdeu a família durante o Holocausto, Andujar é referência indelével desde os anos 1970 ao chamar atenção para os problemas enfrentados pelas populações indígenas no Brasil. Sua obra contribuiu significativamente para a construção da ideia contemporânea de ecologia e humanidade, destacando a importância da Amazônia e dos Yanomami. O etnônimo yanomami foi criado por antropólogos a partir da expressão “yanõmami thëpë”, que significa “seres humanos”, em oposição aos inimigos, animais e seres invisíveis.
Paula Trope - Visita Guiada Inspirar-te
Tríptico (da série Os meninos), 1994 Fotografia colorida Coleção MAM São Paulo Prêmio Price Waterhouse – Panorama 1995, 1995
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Todas as infâncias são iguais? Afinal, o que é ser criança? Através de fotografias desfocadas, Paula Trope denuncia a dura realidade das chamadas “crianças de rua”. Mas será que alguém pertence à rua? Assim como Anne Frank, essas crianças foram privadas de seus direitos básicos. Todas as crianças, independente de suas origens sociais, têm o direito à uma vida digna. Privá-las disso é um crime contra a humanidade. Nessas fotografias, Paula Trope usa uma câmera pin hole, instrumento bastante simples em que um buraquinho permite a entrada da luz e uma câmera escura captura a imagem. A fotógrafa ofereceu o material para as próprias crianças que decidiram como queriam ser retratadas. Aqui vemos sorrisos, amizades e afetos que resistem às dificuldades. Você já se olhou no espelho hoje? Como está o seu rosto? Quais emoções ele revela? Separe um lápis e uma folha de papel e tente fazer um autorretrato. Um autorretrato é quando um artista se representa, pode ser uma pintura, uma fotografia ou até uma escultura. Comparando o seu retrato com os de seus amigos e familiares, você pode notar que cada rosto é único!
Paula Trope - Texto Curatorial
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O tríptico de Paula Trope apresenta cenas urbanas ligeiramente desfocadas devido ao uso de uma câmera pinhole, um aparato simples e sem lente que remete às origens da fotografia, em que um pequeno orifício permite a entrada da luz, e uma câmera escura captura a imagem. Nas imagens desfocadas, podemos vislumbrar sorrisos, afetos e amizades que resistem ao apagamento. São instantes eternizados da dura realidade das crianças conhecidas como “meninos de rua”. No entanto, não é correto afirmar que essas crianças pertencem “à rua”. Essa é uma categorização social generalizante e preconceituosa. Todas as crianças, independentemente da condição social ou origem, têm direito à moradia, família, afeto e identidade. Rotulá-las dessa maneira diz mais sobre nós enquanto sociedade, sobre nossas desigualdades e preconceitos, do que sobre elas como seres humanos. Como disse o artista alemão do século XX, Bertoldt Brecht: “Quando você nomeia o outro, você sempre nomeia a si próprio”. A propósito, reais ou não, os nomes e apelidos com os quais se apresentam são: Menor, Rafael, Gil Gomes e Marcelinho. As outras fotos do tríptico são de suas autorias. A artista carioca traz em suas obras, desde os anos 1990, um pungente trabalho político, onde o ponto de entrada de luz da câmera serve de ponto de encontro entre a ética e a estética, a denúncia e a realidade social. Esta obra foi restaurada especialmente para esta exposição com o apoio da Associação Inspirar-te e da Unibes Cultural.
Eustáquio Neves - Visita Guiada Inspirar-te
Retrato falado #6, 2020 Fotopintura Coleção particular
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Quem tem o direito de ser lembrado? E quem pode ser esquecido? Na série Retrato Falado, Eustáquio Neves cria um retrato para seu avô João Catarino Ribeiro a partir de memórias familiares e fotografias de época. O artista jamais conheceu seu avô e não teve acesso a fotografias dele. Na imagem, o rosto foi arrancado, impossibilitando a identificação dessa pessoa. O apagamento de João nos mostra, de modo sensível, como algumas pessoas estão desaparecidas da História. Além disso, o Retrato Falado é um recurso usado pela polícia para identificar pessoas em conflito com a lei. Ao usar esse título para seu trabalho, Neves discute as violências vividas por pessoas negras no Brasil. Dessa forma, a obra nos faz refletir sobre memória, valorização e dignidade. Enquanto a memória de Anne Frank tem sido preservada e difundida pela sua comunidade, João e a população negra do Brasil têm sido excluídos da História. Corrigir esse apagamento é importante para construirmos um futuro com mais equidade racial. Você já viu fotos de seus antepassados? Como eles foram representados? Converse com seus familiares e tente traçar uma árvore genealógica de sua família.
Eustáquio Neves - Texto Curatorial
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Eustáquio Neves, na série Retrato falado, recria o retrato de seu avô João Catarino Ribeiro, que faleceu no início dos anos 1950, antes do nascimento do artista. Não há fotografias originais de seu avô, e o artista nunca o viu pessoalmente. Em suas palavras: “Ele era uma ausência, era só histórias” contadas em casa pela mãe e tias. Eustáquio o reconstruiu a partir das memórias familiares e da manipulação de fotografias da época e da região onde seu avô viveu em Diamantina, Minas Gerais. As partes que aparecem e desaparecem nas fotografias destacam ausências, apagamentos e esquecimentos. Suas intervenções sensíveis promovem lembrança, valorização, dignidade e memória. O artista contribui para a criação de narrativas essenciais nas histórias da arte produzidas no presente, aquelas que abordam indivíduos e grupos socialmente marginalizados, historicamente apagados: os diários não escritos e as fotografias não tiradas. O título da obra evoca uma grande provocação. Retratos falados são recursos usados pela polícia para identificação de pessoas envolvidas em crimes. Segundo o artista, “o título foi proposital nesse sentido, pois a ausência do avô, a ausência da figura paterna, não deixa de ser uma violência vivida por muitas pessoas negras no Brasil”.
Nino Cais - Visita Guiada Inspirar-te
Sem título, 2008 Fotografia digital – impressão digital sobre papel de algodão Acervo da Pinacoteca de São Paulo Doação do artista, 2016
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Por que alguém se esconde? No autorretrato de Nino Cais podemos criar várias hipóteses para esta pergunta. Talvez, ele quisesse se camuflar ou se proteger. Talvez, ele esteja se escondendo para se encontrar. Independente de qual for a resposta, Nino é um artista muito corajoso: ao se esconder, também se expõe. Ele escolheu se representar desta forma. E assim, admite que algo o deixa desconfortável. Pessoas podem se esconder quando não são aceitas, isso acontece por diversos motivos. No caso de Anne Frank, ela teve que se esconder por ser judia. Já as fotografias de Nino nos provocam: ele está em um esconderijo ou será que ele foi escondido? Ele está livre para se representar da forma que gostaria? Há algo que o está impedindo de ser quem ele quer? Você já sentiu vontade de se esconder por ser quem você é?
Nino Cais - Texto Curatorial
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Nos autorretratos de Nino Cais, seu corpo se mescla com objetos em um encontro de significados. O artista produz uma totalidade entre pessoas e coisas, e nos convida a refletir sobre quais os objetos nos definem e compõem. Qual o significado que atribuímos às roupas, camas, livros, máscaras, cartas, diários e demais objetos que nos cercam? Essas são coisas convidadas às categorias de afeto, memória, personalidade e desejos. Elas são parte essencial de quem somos. O rosto do artista está sempre oculto, entremeado, são autorretratos sem faces visíveis. Nino Cais evoca poeticamente questões relativas ao direito de ser e aparecer, de existir e se manifestar. Dele, artista, e também das pessoas que, devido a seus corpos, objetos, desejos, afetos e sexualidade, são tantas vezes impedidas de ocupar lugares físicos, artísticos e sociais.
José Leonilson - Visita Guiada Inspirar-te
Sem título, 1986 Acrílica, alfinete, aquarela e caneta permanente sobre papel Coleção MAM São Paulo Doação de Carmem Bezerra Dias e Theodorino Torquato Dias, 1997
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Vamos falar de amor? O que é amar? Todos têm o direito ao amor na mesma medida? Leonilson foi pintor, desenhista, bordadeiro, poeta, artista. Além de artista, amou e foi muito amado - amor este que nem sempre foi bem visto. Expressou-se através de suas obras de arte, compartilhando suas emoções com o mundo. Sua vida foi curta e dura. Através de seus desenhos e poemas, como estes que estamos vendo, tentamos captar a sua sensibilidade, admirando as sutilezas e complexidades aqui representadas. Mesmo enfrentando desafios por quem amava, Leonilson nunca desistiu de lutar pelos seus sentimentos por intermédio da arte. Ele sabia que todos têm o direito ao amor, independente de quem seja. Suas pinturas e desenhos celebram o amor em todas as suas formas e cores. Ele nos convida a refletir sobre a beleza e a importância das relações, mostrando que estas podem ser fortes, sensíveis e poderosas. Liste palavras que te fazem pensar no amor. Agora, organize-as em um poema. Como você representa o amor? De que forma podemos celebrar os afetos em nossas próprias vidas?
José Leonilson - Texto Curatorial
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José Leonilson, artista nordestino criado em São Paulo e de projeção global, apresenta em muitas de suas obras sua intimidade e seu ensimesmamento, como um voltar-se para dentro, para si mesmo, de forma semelhante a um diário. Os suportes reduzidos, como na obra intimista do artista, encontram intervenções diversas: frases e formas feitas com materiais que acompanham o artista desde as brincadeiras de infância na casa de sua mãe, que era bordadeira. O olhar sensível e autobiográfico volta-se para questões pessoais, lugares de afeto, sonhos, o amor e seus amantes; temas inseparáveis das grandes questões sociais do tempo do artista. Segundo ele mesmo: “Eu percebo a segregação que existe. E eu, é óbvio, eu faço parte de uma dessas minorias”. Tradução livre do texto presente na obra: “o prêmio veja estou sonhando pela primeira vez e nós somos apenas sortudos amigos talvez seja um lugar para mim e você é um homem de visão”
Flávio Cerqueira - Visita Guiada Inspirar-te
No meu céu ainda brilham estrelas, 2023 Escultura em bronze Galeria Simões de Assis Obra cedida especialmente pelo artista para a exposição
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Você já olhou para o céu hoje? Na escultura, observamos uma menina negra em pé sobre uma cadeira de escola pública. Com os braços esticados, ela segura um livro cheio de furos, através dos quais a luz penetra e ilumina seu rosto como o brilho das estrelas. Essa obra mostra a importância da leitura para a nossa formação e, de forma mais ampla, a diferença que o acesso ao conhecimento pode fazer na vida de alguém. Esta imagem vai ao encontro da trajetória pessoal do artista que, quando jovem, trabalhou de office boy e viu sua vida mudar por meio da educação. Por intermédio dos processos tradicionais da escultura em bronze, Flavio Cerqueira busca captar um movimento, um gesto, um instante. Tente reproduzir o gesto dessa menina. O que você sente? Flavio Cerqueira problematiza questões de classe, identidade, raça e gênero. Assim como o livro pode nos fazer enxergar o mundo com um olhar mais lúcido, o conhecimento amplia nossos horizontes de possibilidades. Anne Frank, confinada em seu anexo secreto, também encontrou nos livros e na escrita, uma janela para o mundo. O que mais essa personagem tem em comum com Anne Frank? E você? Quais livros te fizeram pensar mais alto?
Flávio Cerqueira - Texto Curatorial
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Flávio Cerqueira brindou a exposição com esta obra especialmente escolhida por ele, que monumentaliza a identidade e a memória de todas as meninas e mulheres que, como Anne Frank, foram e são vítimas da violência - e, ainda assim, abrem livros e miram o céu e o brilho das estrelas. O artista é reconhecido por seu engajamento social e por representar questões raciais e associadas à afirmação da diversidade que compõe a sociedade brasileira. Sua técnica e linguagem na escultura em bronze, geralmente associada aos grandes personagens históricos e heróis do passado, são direcionadas às pessoas negras, jovens e mulheres do presente. Especialmente aquelas que foram historicamente marginalizadas nas periferias das cidades, da sociedade e da história da arte. Em um processo de ressignificação de tradições artísticas e do nobre metal utilizado em suas esculturas, ele produz monumentos de enorme atualidade. São homenagens-denúncias dedicadas àquelas que escrevem, leem, erguem a cabeça e lutam de diversas formas pelo direito de ser.
Savério Castellano - Texto Curatorial
Artigo VI, 1991 Litografia a cores sobre papel Acervo da Pinacoteca de São Paulo Doação do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, 1999
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Artigo VI da Declaração Universal dos Direitos Humanos: Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Savério Castellano traz em sua litografia uma miríade de rostos, diversos em aparência e semelhantes em essência. As figuras humanas ocupam todos os espaços de sua obra, dirigindo seus olhares para nós, espectadores, transformando em mensagem e exigência o breve artigo VI da Declaração dos Direitos Humanos. *** Esta obra faz parte da coleção A Declaração dos Direitos Humanos – 30 artigos ilustrados por 30 artistas. Realizada em 1991, em homenagem ao aniversário de 200 anos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada durante a Revolução Francesa. Essa declaração é considerada uma precursora histórica da atual Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 após a Segunda Guerra Mundial.
Erich Brill - Visita Guiada Inspirar-te
Amsterdã, c. 1937 Aquarela sobre papel Coleção MAM São Paulo Doação de Alice Brill, 1970
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Olhe à sua volta. Todas as obras aqui nesta sala são chamadas de contemporâneas, feitas há pouco tempo, falando sobre o momento presente. Então, porque uma obra de quase 100 anos atrás está aqui? A obra de Erich Brill, feita quando Anne Frank tinha 8 anos de idade , nos convida a refletir sobre uma Amsterdã que já foi, e deixou de existir, para ser hoje uma cidade diferente, com novas características, histórias, cicatrizes e visões. Olhar para o passado para refletir sobre o presente e o futuro é um exercício que devemos fazer sempre. A pessoa que éramos há alguns anos é a mesma pessoa de hoje? A pessoa que somos é a mesma que queremos ser no futuro? Nossa história é marcada por cicatrizes. Erros e acertos, conquistas e fracassos. São essas experiências que formam nosso ser, quem somos e quem queremos nos tornar. Observe a sua cidade. Reflita sobre como ela é hoje em dia, observe as pessoas, os prédios, as casas, os carros, a natureza… Faça uma paisagem de como você supõe que ela era 100 anos atrás. Agora, represente como você imagina essa mesma cidade daqui a 100 anos! Compare as duas paisagens. O que mudou? O que permaneceu? Como você gostaria que a sua cidade fosse? Qual o futuro que aspiramos criar para nós? E para o mundo?
Erich Brill - Texto Curatorial
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Nas artes, dialogam tempos, lugares e pessoas. A aquarela de Erich Brill nos mostra Amsterdã pouco antes da Segunda Guerra Mundial e da barbárie nazista. Vemos a cidade onde Anne e sua família buscaram refúgio, com sua catedral, canais e aquosa beleza. Erich era judeu e foi morto pelos nazistas no campo de concentração de Jungfernhof. Sua arte foi considerada degenerada e perseguida pelo Terceiro Reich. Providencialmente, o artista passou pelo Brasil entre 1934 e 1936, país que também representou em lindas aquarelas e onde sua filha Alice, também artista, viveu até 2013. Em nosso país, algumas de suas importantes obras foram salvas e preservadas da barbárie nazista. Esta em exposição é uma delas e foi especialmente restaurada com o apoio da Associação Inspirar-te e da Unibes Cultural.
João Urban - Visita Guiada Inspirar-te
Roberto e família, 1999 Dona Rosa, 1999 Fotografia colorida (Cibachrome) Coleção MAM São Paulo Doação de Morgan Guaranty Trust Company of New York, 1999
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Você já observou os trabalhadores nas ruas de São Paulo? Quem são eles? Nas imagens de João Urban, encontramos uma variedade de pessoas, incluindo crianças e famílias inteiras carregando seus pertences em carrinhos. Para quem mora em cidades grandes como São Paulo, esses trabalhadores urbanos são bastante comuns. Apesar da falta de reconhecimento, os chamados “catadores” são fundamentais para a reciclagem e reuso de materiais. Por meio de um olhar sensível, o fotógrafo retrata seus personagens com clareza. Eles sustentam um olhar direto e franco, exibindo suas ferramentas de trabalho com dignidade e orgulho. Ao longo de sua carreira, João Urban se comprometeu com movimentos sociais e combate à desigualdade social. Ele retratou presidiários, trabalhadores rurais temporários, manifestações estudantis, pescadores, operários, agricultores, trabalhadores domésticos, tropeiros e imigrantes, incluindo membros de sua própria família, de ascendência polonesa. Caminhe pela sua cidade e observe as pessoas. Liste todos os trabalhadores que você viu na rua. Pense sobre as suas condições de trabalho. Você percebe que algumas profissões são mais valorizadas que outras? Por que isso acontece?
João Urban - Texto Curatorial
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Nas fotografias de João Urban, há pessoas, crianças, famílias inteiras que encontramos nas ruas das grandes cidades. Puxando seus carrinhos, são alvos das buzinas dos carros e são chamadas de “catadores”. Esses importantes trabalhadores urbanos da reciclagem são capturados no olhar sensível do fotógrafo e nos encaram em composição clara, de fronte, sorridentes, demonstrando dignidade ao lado de suas ferramentas de trabalho. O artista, dedicado desde os anos 1960 às causas sociais e à denúncia das injustiças e desigualdades, fotografou também presidiários, boias-frias, manifestações estudantis, pescadores, operários, camponeses, diaristas, tropeiros e imigrantes - como sua própria família, de origem polonesa.
Anna Bella Geiger - Visita Guiada Inspirar-te
Blonde & Brunette Indian & Indian, 2014 Impressão a jato de tinta sobre papel Coleção MAM São Paulo Doação da artista por intermédio do Clube de Colecionadores de Fotografia MAM São Paulo, 2015
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O que nos torna brasileiros? Na série “Brasil nativo/Brasil alienígena” de 1977, Anna Bella Geiger, uma artista judia, nos faz refletir sobre a busca da identidade nacional brasileira. A artista contrapõe nove cartões postais com fotografias de pessoas indígenas a imagens de brasileiros ocidentalizados. Com ironia, a obra critica a forma como os povos indígenas são representados, como personagens de um teatro folclórico. Anna Bella acredita que o Brasil tem duas partes importantes. A primeira parte é mais antiga, com florestas, povos indígenas e muita história. Isso é o "Brasil nativo". A segunda parte é mais nova, com as cidades e as pessoas que moram nelas. Isso é o "Brasil alienígena". O Brasil é feito da mistura dessas duas partes, essa é a nossa identidade. Somos um povo diverso! Podemos comparar essas duas imagens? Notamos que não conseguimos nivelar duas mulheres brancas em um ambiente urbano a duas mulheres indígenas. Nesse jogo de imagens, eles são os nativos; nós, os alienígenas. Por outro lado, a artista se posiciona em favor da defesa da equidade e respeito às diversas formas de ser.
Anna Bella Geiger - Texto Curatorial
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Na obra de Anna Bella Geiger, nesta exposição, em nosso mundo, encontram-se imagens, pessoas, hábitos e territorialidades diversas em aparência; harmonizadas na composição da artista, equalizadas em essência. De um lado, mulheres vestidas à moda europeia do século passado, o século de Anne Frank, no branco e preto das antigas fotografias e memórias; do outro, mulheres adornadas no colorido ritualístico das culturas indígenas originais do Brasil. Iguais em humanidade. Anna Bella Geiger, artista judia brasileira, é pioneira, desde os anos 1970, na defesa das causas ecológico-ambientais associadas à proteção dos direitos dos povos indígenas à terra, vida e direito de ser, por meio das artes.
Gê Viana - Visita Guiada Inspirar-te
Entre a cabeça e o ventre eu deixei um arrebâm as Vodunsis Reis – Nossas mães (da série Atualizações traumáticas de Debret), 2024 Colagem digital – impressão sobre papel Coleção particular
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Nos seus livros de escola, você viu obras de Jean-Baptiste Debret? O que essas pinturas revelam sobre o nosso passado? Quem são os personagens principais dessas histórias? Entre 1816 e 1831, Debret, um pintor francês, se dedicou a retratar a biodiversidade brasileira, e as interações entre europeus, indígenas e africanos escravizados. Suas obras são documentos históricos importantes. Mas não podemos negar que Debret contou a história do ponto de vista dos colonizadores europeus, que ocupam o centro de suas imagens. A série Atualizações traumáticas de Debret criada por Gê Viana reinterpreta as cenas originais do artista francês. Seu olhar é provocativo, destacando como as injustiças da escravidão continuam a afetar o Brasil contemporâneo. Nessa série, somos apresentados aos rituais afro-indígenas das Casas de Tambor de Mina no Maranhão. Ali as mulheres negras são as protagonistas, elas comandam os ritos. Trazer essas figuras à tona é um gesto de reparação histórica. Viana resgata e valoriza o papel das mulheres negras na História do Brasil, produzindo memórias históricas e poéticas. Quais obras de arte você escolheria para contar a História do Brasil?
Gê Viana - Texto Curatorial
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Gê Viana se inspira em encontros. Por um lado, a vida familiar maranhense, as tradições e heranças afro-indígenas, seu olhar crítico, pessoal e atual; por outro, contrastam os documentos históricos oficiais, tradicionais e traumáticos, refletindo a grande história colonial brasileira no olhar de viajantes europeus do século XIX, como Jean-Baptiste Debret. A imagem evoca as práticas rituais das Casas de Tambor de Mina, no Maranhão, e o culto aos ancestrais, denominados Voduns. Essa tradição, desenvolvida nas Américas, tem raízes na costa ocidental africana e combina elementos de diversos povos, incluindo indígenas e europeus. Nas Casas de Tambor de Mina, as matriarcas comandam os rituais, determinam os trabalhos e guardam os segredos. Para a artista, “a força que alimenta o reinado dessas mulheres é a continuação do agodjié, um regimento de mulheres do exército do reino do Daomé – Benin”. Realizando intervenções sobre as gravuras históricas que até hoje ilustram exposições e livros didáticos Brasil afora, Gê Viana insere imagens e pessoas de sua comunidade, especialmente meninas e mulheres, nos livros de História. Na marra. Para não serem esquecidas. Produz memória.
Renina Katz - Visita Guiada Inspirar-te
Cárceres III, 1977 Litografia colorida sobre papel Coleção MAM São Paulo Doação da artista, 1988
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O que é uma prisão? E o que é a liberdade? Renina Katz, artista judia brasileira, é conhecida por expressar seus valores através de sua arte. Na série "Cárceres", elementos como barras e grades sugerem aprisionamento e violência, enquanto manchas vermelhas adicionam uma dimensão simbólica à obra, refletindo sobre as diferentes formas de perda da liberdade. Liberdade pode significar poder fazer o que gosta, como brincar com os amigos, escolher o que vestir ou decidir como passar o tempo livre. É sobre ter a oportunidade de explorar o mundo ao seu redor, com segurança e responsabilidade. Poder ser feliz, expressando suas ideias e sentimentos. Nessa obra, a artista representou uma prisão. Você já pensou em representar a liberdade? Você pode fazer isso por meio de um desenho, uma palavra ou mesmo um movimento do corpo. O importante é se sentir livre! Qual o valor da liberdade?
Renina Katz - Texto Curatorial
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Renina Katz, artista judia brasileira, tem uma produção marcada por um firme posicionamento ideológico. Tanto na juventude, associada ao realismo social e ao antifascismo, quanto na maturidade, como na obra aqui exposta, sua trajetória foi em direção à abstração figurativa e à defesa da democracia e do Estado de Direito. Nas litografias da série Cárceres, elementos figurativos como as barras e grades prendem nosso olhar; atrás destas, vemos manchas vermelhas. Referências atemporais e simbólicas às variadas formas de enclausuramento, violência e cerceamento da liberdade contra as quais a arte pode posicionar-se.
Gustavo Rosa - Texto Curatorial
Artigo IX, 1991 Litografia a cores sobre papel Acervo da Pinacoteca de São Paulo Doação do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, 1999
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Artigo IX da Declaração Universal dos Direitos Humanos: Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Na litografia do artista brasileiro Gustavo Rosa, encontram-se um tema duro e a estética infantil. A dor da prisão e do exílio que acorrentam, e a beleza esperançosa da liberdade que o pássaro carrega dentro de si. Gustavo Rosa, artista brasileiro, foi autor dos livros Pintando um Mundo Melhor e Diferentes sim e daí?, um exemplo pertencente ao grupo de artistas que ajudaram a imaginar nossas ideias de liberdade e a ensiná-las às crianças. *** Esta obra faz parte da coleção A Declaração dos Direitos Humanos – 30 artigos ilustrados por 30 artistas. Realizada em 1991, em homenagem ao aniversário de 200 anos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada durante a Revolução Francesa. Essa declaração é considerada uma precursora histórica da atual Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 após a Segunda Guerra Mundial.
Maria Bonomi - Texto Curatorial
Artigo XI, 1991 Litografia a cores sobre papel Acervo da Pinacoteca de São Paulo Doação do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, 1999
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Artigo XI da Declaração Universal dos Direitos Humanos: 1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Maria Bonomi, artista de origem italiana, fugiu da Segunda Guerra Mundial ainda criança, acompanhada de sua família, com destino ao Brasil. Em sua obra, ranhuras formam barras ou grades que constituem a silhueta de um pássaro em voo. A artista simplifica, com traços firmes, o objetivo maior da justiça e presunção da inocência, o direito à liberdade, apresentado alegoricamente na forma de um pássaro. *** Esta obra faz parte da coleção A Declaração dos Direitos Humanos – 30 artigos ilustrados por 30 artistas. Realizada em 1991, em homenagem ao aniversário de 200 anos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada durante a Revolução Francesa. Essa declaração é considerada uma precursora histórica da atual Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 após a Segunda Guerra Mundial.
Zoravia Bettiol - Texto Curatorial
Artigo XIX, 1991 Litografia a cores sobre papel Acervo da Pinacoteca de São Paulo Doação do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, 1999
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Artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos: Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Deve ser o direito à cultura, informação e liberdade de opinião o primeiro dos direitos. Aquele que nos possibilita questionar, discutir, imaginar, sonhar e exigir todos os outros. “Deixe-me ser eu mesma e estarei satisfeita”, escreveu Anne Frank em seu Diário. Já em sua obra, Zoravia Bettiol, artista brasileira militante das causas sociais, traz uma figura feminina, cercada de livros e jornais, carregando em uma mão o míssil e na outra as ideias; entre elas equilibra-se a malabarista. Os pés da figura unem-se aos da multidão, às lutas pela liberdade, pelos direitos dos indígenas no Brasil e pela democracia na China. *** Esta obra faz parte da coleção A Declaração dos Direitos Humanos – 30 artigos ilustrados por 30 artistas. Realizada em 1991, em homenagem ao aniversário de 200 anos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada durante a Revolução Francesa. Essa declaração é considerada uma precursora histórica da atual Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 após a Segunda Guerra Mundial.
Amelia Toledo - Texto Curatorial
Artigo VIII, 1991 Litografia a cores sobre papel Acervo da Pinacoteca de São Paulo Doação do Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo, 1999
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Artigo VIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos: Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Na obra, o texto da Declaração dos Direitos Humanos encontra-se com a caligrafia pessoal da artista brasileira Amelia Toledo, que se apropria e personaliza o texto. As formas geométricas e cores, elementos abstratos, convidam à expansão dos horizontes de interpretação, possíveis céus, pontas de estrelas, caminhos, horizontes. *** Esta obra faz parte da coleção A Declaração dos Direitos Humanos – 30 artigos ilustrados por 30 artistas. Realizada em 1991, em homenagem ao aniversário de 200 anos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, promulgada durante a Revolução Francesa. Essa declaração é considerada uma precursora histórica da atual Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 1948 após a Segunda Guerra Mundial.
Direitos Humanos - Visita Guiada Inspirar-te
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A Declaração Universal dos Direitos Humanos é como uma grande lista de regras que nos protege enquanto indivíduos e sociedade. Ela foi proclamada em 1948, logo após o final da Segunda Guerra Mundial pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Por meio da declaração, nossos direitos são assegurados. Direitos de liberdade, expressão, respeito, segurança, educação, cultura… Nesta sala, encontramos cinco gravuras que ilustram alguns desses direitos. Você consegue encontrá-las? O que as imagens podem nos dizer sobre este tema? Você se sente representado?
Eli Wiesel - Texto Curatorial
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“O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença. O oposto da arte não é a fealdade, é a indiferença. O oposto da fé não é a heresia, é a indiferença. E o oposto da vida não é a morte, é a indiferença.” Elie Wiesel, 1986 Elie Wiesel (1928-2016) foi um escritor judeu, nascido na Romênia, e sobrevivente do Holocausto. Em 1986, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em reconhecimento ao conjunto de sua obra, constituída de 57 livros. Ativista de direitos humanos, dedicou sua vida à rememoração das vítimas e à educação das novas gerações. Wiesel foi o presidente-fundador do Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos e também iniciou uma fundação que leva seu nome, dedicada à luta contra o racismo e o antissemitismo.