
1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira
Rio de Janeiro
CCBB RJ
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Apresentação
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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APRESENTAÇÃO O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro apresenta a exposição inédita “1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na coleção Andrea e José Olympio Pereira”, com 110 obras de 68 artistas, pertencentes à magnífica coleção do casal carioca, radicado em São Paulo há mais de 30 anos. Nos últimos anos, Andrea e José Olympio constam na lista publicada anualmente pela prestigiosa revista ARTnews como um dos 200 maiores colecionadores de arte do mundo. O conceito desta mostra chama a atenção para a importância do colecionismo no Brasil. “Arte é o alimento da alma, ela amplia o mundo, te leva para lugares, te leva a sonhar. O colecionismo é fundamental, além de sustentar a produção artística, é também uma forma de cuidar das obras, uma grande responsabilidade”, diz o casal, que começou a coleção na década de 1980 de forma despretensiosa, estudando e visitando exposições e leilões de arte. Hoje, possuem cerca de 2.500 obras. “Temos na coleção somente trabalhos com os quais estabelecemos alguma relação. Pode ser uma obra que nos toca ou nos perturba, mas que mexe de alguma forma conosco”. Com curadoria de Raphael Fonseca, a exposição ocupa as oito salas do primeiro andar do CCBB RJ, com obras de importantes artistas, de diferentes gerações, cobrindo um arco de 40 anos de arte contemporânea brasileira. “Poder expor a coleção é um privilégio para nós. É uma oportunidade de dividir a coleção com o grande público, de rever algumas obras e de vê-las em diálogo com outras, ganhando um novo significado”, contam Andrea e José Olympio Pereira. A mostra está dividida em oito núcleos temáticos e tem obras com diferentes linguagens, como pintura, instalação, escultura, vídeo e fotografia. “A ideia é que o público veja cada sala como uma exposição diferente e que tenha uma experiência distinta em cada uma delas. A arte brasileira é muito diferenciada e diversificada e queremos que o espectador tenha essa experiência”, afirma o curador Raphael Fonseca. TEXTO CURATORIAL Há muitas formas de olhar, pesquisar e estruturar uma exposição a respeito da história da arte no Brasil. A reunião de obras que vocês verão aqui teve um ponto de partida: a coleção formada pelo casal Andrea e José Olympio Pereira no decorrer de suas vidas. Tendo como opções mais de duas mil obras, majoritariamente feitas por artistas brasileiros em um arco cronológico que se estende do começo do século XX à produção de arte hoje, um desejo começou a se moldar: enfocar trabalhos assinados nas últimas quatro décadas. Diferentemente de outras exposições em torno desta coleção, esta mostra traz ao público a possibilidade de olhar especialmente para obras e artistas que compõem o que convencionamos chamar de “arte contemporânea brasileira”. Dentro desse recorte, há, novamente, diversas opções curatoriais que poderiam ser oferecidas ao público: realizar uma exposição dividida cronologicamente? Separar os trabalhos a partir de suas mídias? Após muita reflexão, esta exposição foi estruturada em oito núcleos pensados especialmente para as oito áreas do primeiro andar do CCBB. Em cada um desses espaços, um recorte é sugerido a partir da observação dos trabalhos das centenas de artistas que compõem esse acervo – diferentes gerações, tamanhos, pesquisas e linguagens dialogam em oito pequenas exposições dentro do mesmo projeto. Cada uma dessas salas foi intitulada a partir de uma obra; no lugar de o curador definir um nome para cada núcleo, atenção foi dada à maneira como os próprios artistas intitulam suas criações e como alguns desses nomes sintetizam as relações aqui propostas. Como o público atento perceberá, há obras que poderiam estar em mais de uma sala, assim como há diferentes títulos que poderiam nomear o mesmo núcleo. Como em qualquer outra exposição, o que temos perante os nossos olhos é uma organização temporária de objetos, imagens e ideias dentro de um mesmo espaço que apontam para várias direções. Fica o convite para que o visitante percorra estas salas, repare nas obras que mais chamaram sua atenção e, posteriormente, reflita sobre novas e infindas maneiras de criar conversas entre tantas obras importantes e, por muitas vezes, já consideradas clássicas dentro das narrativas da história da arte no Brasil. Esta exposição se configura, portanto, como uma oportunidade importante de ver – gratuitamente na esfera pública trabalhos de arte que compõem uma das coleções privadas mais importantes de artes visuais do país.
A coleção
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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Colecionar é, em certa medida, ostentar. De uma coleção de artes visuais a uma coleção de selos, o ato de resguardar objetos demanda dedicação, espaço e – certamente – dinheiro. Partindo de seu interesse pelas relações entre imagem, manipulação digital e arquitetura, o artista Pazé criou a instalação "A coleção (2009)". Mais de dez anos depois, apresentamos uma nova versão do projeto: apropriando-se da pintura "O arquiduque Leopold William na sua galeria de pinturas em Bruxelas (1651)", de David Teniers, o Jovem, Pazé convida o público a adentrar uma sala onde original e cópia se fundem em um. A partir da repetição de padrões da composição encontrada na pintura, o artista insere outras imagens – especialmente retratos – de sua preferência e convida o corpo do público a se perder perante tantos olhares que se voltam para si. Um comentário ácido sobre o ato de colecionar, a obra nos faz pensar que os excessos do colecionismo podem estar diretamente relacionados com a tentativa de iludir/enganar o público – e nós mesmos.
A coleção
Pazé A coleção Instalação, Edição: 1/3 Dimensões variáveis
Pazé

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Pazé é um artista visual que nasceu em São Paulo, Brasil, em 1962. A sua obra que faz parte desta exposição é um trabalho de 2009 chamado "A coleção". O artista tem uma série de trabalhos em que pensa a relação entre a imagem virtual, o espaço e a arquitetura. No caso de "A coleção", obra que foi apresentada previamente na Casa Triângulo, uma galeria de arte em São Paulo, ele parte de uma pintura datada de 1651, que faz parte da coleção do Museu do Prado, em Madri, de um pintor chamado David Teniers, o Jovem, artista que ficou famoso por fazer imagens das coleções do arquiduque Leopold William, em Bruxelas. O que Pazé faz, então, é uma apropriação da imagem da obra original intitulada "O arquiduque Leopold William na sua galeria de pinturas em Bruxelas", e, a partir disso, muda todos os quadros da pintura e cria um efeito de espelho, ou seja, ele espelha essa imagem em outras e vai inserindo obras que ele deseja – sejam de arte europeia, brasileira ou de produções de outros lugares do mundo. Logo, a galeria que representava os quadros do século XV, XVI e XVII que o arquiduque tinha se transforma numa espécie de museu que traz uma grande mistura de tempos. Nesse sentido, quando o público entra na sala, ele se vê num emaranhado de imagens, num labirinto, e se pega sendo observado pelos quadros, que em sua maioria são retratos, olhando para si.
Coluna de cinzas
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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Do excesso da sala anterior para um grupo de trabalhos que refletem sobre a passagem do tempo, a efemeridade e o desaparecimento, esse diálogo entre poéticas é intitulado a partir de um trabalho de Nuno Ramos, Coluna de cinzas (2010), em que o artista cria uma estrutura vertical de madeira que relembra uma torre e espalha cinzas em seu interior. Sendo um objeto vazado, as cinzas escapolem, caem sobre o chão e se espalham no espaço. Em um presente histórico com milhões de perdas devido à pandemia global que enfrentamos – incentivada por tantos descasos de nossos governos –, essa imagem ganha outra dimensão. Em diálogo com sua presença no centro da sala, outros trabalhos de Cao Guimarães, Jonathas de Andrade, Marcos Chaves e Paulo Bruscky nos levam a refletir sobre a brevidade da vida e sugerem certo tom melancólico.
Coluna de cinzas
Nuno Ramos Coluna de Cinzas Madeira e cinzas, 187 x 50 x 50 cm
Nuno Ramos

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"Coluna de cinzas", de 2010, é uma obra do artista paulista Nuno Ramos, relacionado na história da arte do Brasil à chamada Geração 80. Trata-se de um artista que começou sua trajetória durante os anos 1980 e que, em suas primeiras exposições, era adepto principalmente da pintura de larga escala. No trabalho da exposição, "Coluna de cinzas", o que podemos ver literalmente é uma coluna feita de madeira, como se fosse uma série de sarrafos um sobre o outro onde são dispostas cinzas. Esse trabalho faz referência à obra "Coluna de cal", presente em uma das primeiras exposições de Nuno Ramos, um objeto feito da sobreposição de madeira por cal. Já aqui, ele substitui esse material por cinzas. Olhando este trabalho, podemos pensar, por exemplo, em uma ideia de passagem do tempo e desaparecimento. Eis a única certeza da vida: a morte. O artista empilha cinzas em um formato de torre muito associado à arquitetura. Algo vertical e monumental é tomado por aquilo que vai no polo oposto disso, as cinzas. O trabalho se dá entre o jogo de tentar guardar uma coisa e saber que é impossível porque é pó, são cinzas – e, portanto, um sinal da morte.
O peixe
Jonathas de Andrade O peixe Video (16 mm digitalizado em 2K, cor e som, 5.1/16 mm transfered to HD file ), Edição: 2/5 ( 5 + 2PA) - 38"
Jonathas de Andrade

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"O peixe" é um trabalho de 2016, de Jonathas de Andrade, artista nascido em Maceió, Alagoas, que hoje vive em Recife. A sua primeira individual aconteceu em 2009 e, de lá para cá, o artista tem participado de várias exposições, como, por exemplo, duas edições da Bienal Internacional de São Paulo, o Panorama da Arte Brasileira, a Bienal de Sharjah, a Trienal do New Museum, além de ter participado de residências artísticas em vários lugares do mundo e de ter recebido diversas bolsas. O artista é muito interessado em criar trabalhos que problematizam a construção do que podemos chamar de uma visualidade brasileira ou de uma história do Brasil. Ele está preocupado em, a partir de alguns estereótipos de Brasil, criar trabalhos de arte que tensionam esse lugar estereotipado. No caso de "O peixe", trabalho que foi comissionado para a Bienal Internacional de São Paulo de 2016, o artista filma uma série de homens que trabalham em uma vila de pescadores perto do rio São Francisco, entre Alagoas e Sergipe, sempre capturando e abraçando os peixes até a sua morte. É um trabalho que pensa também um lugar que é muito importante para a sua prática – a contemplação do corpo masculino –, ou seja, qual o lugar do corpo do trabalhador nas narrativas da arte no Brasil? É um trabalho que inevitavelmente fala sobre morte, dominação e certo conflito silencioso entre o corpo humano e o animal.
Costela de Adão
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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Costela-de-adão (Monstera deliciosa) é o nome dado a uma planta da família das aráceas. Natural dos trópicos, seu nome é um dos mais populares entre as plantas encontradas no Brasil não apenas por seu apelo doméstico, mas também por sua carga bíblica. "Costela de Adão (2013)" também é o título de uma pintura de Marina Rheingantz, em que percebemos um tensionamento entre a representação da vegetação e a ocupação da superfície do quadro por algo que remete à arquitetura. Olhando de outra forma, poderíamos ainda associar essa pintura às relações entre imitação e abstração. A partir dessa imagem, este núcleo – o maior desta exposição – reúne dezenas de trabalhos de artistas brasileiros que tensionam paisagem e abstração, espaço externo e espaço interno. De diferentes gerações e majoritariamente no campo da pintura – mas também passando pela fotografia, criação de objetos e vídeo –, as pesquisas reunidas nesta sala se debruçam sobre os desafios de lidar com uma paisagem que é, ao mesmo tempo, tropical, caótica e muitas vezes fadada à ruína.
Costela de Adão
Marina Rheingantz Costela de Adão Óleo sobre tela, 180 x 250 cm
Marina Rheingantz

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"Costela de Adão", de 2013, é uma pintura da artista Marina Rheingantz, que nasceu em Araraquara e hoje vive em São Paulo. Toda a sua trajetória artística se relaciona com a pintura, começando a participar de exposições aproximadamente em 2004. Esta obra que mostramos configura-se como um marcador dos seus dez anos de carreira. O título traz um dado narrativo: a costela de Adão, tanto de onde teria sido criada Eva, numa perspectiva cristã, quanto também a planta muito presente nas casas brasileiras, costela-de-adão, cujo nome científico é monstera deliciosa. É interessante observar como essa pintura tem um caráter de paisagem, com a presença de uma árvore em primeiro plano e ao fundo uma casa, onde se percebe um elemento amarelo que lembra uma espécie de cobogó, muito presente na arquitetura de clima tropical. Esse elemento joga com aquilo que está dentro e fora, com luz e sombra; eis o clima fresco necessário dos trópicos. A artista pinta de uma forma que não vemos uma imagem realista, fidedigna à natureza, mas sim uma espécie de colagem, de sobreposição de elementos que apontam tanto para o dentro quanto para o fora, e que mostram o seu interesse em certo tipo de pintura que ecoa a paisagem no mundo contemporâneo.
Maloca, Opike-Theri
Claudia Andujar Maloca, Opike-theri Fotografia, 100 x 108 cm
Claudia Andujar

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"Maloca, Opike-Theri" é uma fotografia de 1981, de Claudia Andujar, que foi reeditada em 2005. Filha de mãe suíça protestante e pai húngaro judeu, a artista fugiu durante a Segunda Guerra Mundial para Nova Iorque, Estados Unidos. Lá, iniciou a vida adulta e, em 1950, quando tinha 24 anos, chegou a São Paulo, onde comprou uma máquina fotográfica e começou a fotografar um país novo, cujo idioma ela desconhecia. A partir desse suporte, ela se especializou na área e criou uma relação com o Brasil que sempre foi de proximidade e de alteridade. Em 1971, quando trabalhava na revista Realidade, foi enviada à Amazônia para fazer uma reportagem fotográfica sobre os Yanomamis e se encantou com a cultura deles, ficando por um tempo longo, até a demarcação da terra indígena, em 1992. Esta fotografia é parte de uma série de outras imagens em que a artista registra e ficcionaliza diferentes elementos da cultura Yanomami. No caso desta imagem, vemos o teto de uma maloca dessa região chamada de Opike-Theri, da terra Yanomami. É uma foto que demonstra alguns fazeres da arquitetura Yanomami e da arquitetura indígena no Brasil, em especial o uso de elementos naturais que possibilita a essa maloca ter uma estrutura longa e rígida, mas ao mesmo tempo frágil.
Masks
Daniel Steegmann Masks Folha de Caboatã-de-leite e folha de ouro, 24 x 6 cm, 16 x 9 cm, 23 x 6,5 cm, 18 x 7 cm e 34 x 9 cm
Daniel Steegmann


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"Masks" (Máscaras) é uma série de trabalhos do artista catalão Daniel Steegmann Mangrané, datada de 2012. Daniel vive há mais de uma década no Brasil e tem uma extensa pesquisa sobre as relações entre geometria, natureza e humanos. Na série "Máscaras", o artista se apropria de folhagens de plantas diversas. Nesta exposição, todas são de caboatã-de-leite. Sobre elas, ele desenha folhagens com a folha de ouro, remetendo a diferentes tipos de geometria. Essa associação entre o ouro e a folha se dá entre a valorização da natureza e a sua exploração, ou seja, olhar para a folha como um índice da natureza que é visto como algo não apenas sagrado, como algumas culturas lidam com o dourado, mas também valioso no sentido capitalista do termo. O artista cita diferentes tipos de pinturas referentes aos povos originários de todo o mundo que lidam com triângulos e círculos concêntricos para, a partir daí, mostrar essas folhas superfrágeis tomadas por dourado. É um trabalho que, de certa maneira, problematiza a relação entre humanos e natureza, lucro e exploração, preservação e aprendizados ancestrais.
Paisagem n. 40
Lucia Laguna Paisagem n.40 Óleo e acrílica sobre tela, 170 x 170 cm
Lucia Laguna

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"Paisagem n. 40" é uma pintura de 2011 da artista Lucia Laguna, nascida em 1941 e estudante da Escola de Artes Visuais do Parque Lage desde os anos 1990. Com uma pesquisa profunda no campo da pintura, e a partir da experiência que teve em vários cursos do Parque Lage, a artista ganhou cada vez mais espaço institucional até realizar a sua primeira exposição individual em 1998 e suas primeiras exposições em galerias comerciais no Rio de Janeiro e em São Paulo a partir de 2006. A pintura presente na exposição, como o título indica, gira em torno da paisagem. O próprio fato de intitular essa pintura de "Paisagem n. 40" já dá a entender que ela pintou outras séries de paisagens. Elemento muito importante nesta obra é a janela – espaço da tradição da pintura ocidental, comumente aberta para fora. No caso da sua pintura, porém, muitas vezes essa relação dentro-fora não se dá de forma tão cristalina e se apresenta cheia de interrupções. Trata-se, portanto, de uma pintura que, mesmo que se apresente inicialmente pela ideia da janela, joga com a figuração e a abstração, espaço vazio e excesso, convidando o corpo e o olhar do espectador para a contemplação.
War
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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As guerras e seu esforço por ocupar e se apropriar de territórios fundam as histórias das civilizações desde a Antiguidade. A relação entre conflito e geopolítica pode ser muito bem representada por meio de um mapa, assim como nos lembra a obra "War (2004)", de Rodrigo Matheus. O guerrear aqui se dá em dois planos: tanto pelo título em inglês, quanto também pela memória do famoso jogo de tabuleiro de mesmo nome, em que exércitos de diversas cores devem buscar a dominação total do mundo. A guerra proposta pelo artista está entre o lúdico e o trágico, especialmente quando ele monta um mapa a partir de peças provenientes de painéis de plástico encontrados em estabelecimentos comerciais populares. Os outros artistas presentes neste núcleo – Adriana Varejão, Afonso Tostes, Antonio Malta Campos, Carmela Gross e Paulo Nazareth – nos fazem lembrar de diferentes facetas da noção de guerra: a violência, as armas, os corpos humanos que se empilham, as caveiras e o racismo.
War
Rodrigo Matheus War Alumínio e plástico, 75 x 105 cm
Rodrigo Matheus

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"War" é um trabalho de 2004, de Rodrigo Matheus, artista de São Paulo. Ele estuda Artes Visuais na Universidade de São Paulo e tem um percurso de exposições que data mais ou menos do ano de 2003/2004. "War" é um trabalho do mesmo período e, portanto, faz parte do começo do seu percurso. Rodrigo tem uma pesquisa que lida com a apropriação de materiais e muitos trabalhos que pensam a instalação, o objeto, e que criam formas para o público em que as narrativas nunca se dão de forma explícita. São trabalhos que, de certa maneira, convidam o público a contemplar suas imagens e pensar quais as relações entre as formas, os objetos e de onde vêm seus materiais. “War” quer dizer guerra e se trata de uma série de trabalhos em que Rodrigo cita diferentes tipos de jogos que podemos brincar em nossa infância, adolescência ou mesmo na vida adulta. O trabalho cita o jogo de mesmo nome, no qual é preciso conquistar parte do mundo em uma série de missões, mas o faz a partir de uma estrutura que relembra os painéis de bares dos anos 1980, com letras de plástico onde é possível adicionar elementos. O artista sugere um mundo em guerra, com exércitos amarelos, brancos, vermelhos e pretos, tal como o jogo "War" nomeia essas peças. A série de trabalhos inclui outra obra que também faz parte da exposição, chamada "Batalha Naval", que, como o próprio nome diz, remete ao jogo de Batalha Naval – ao conflito, à violência, à guerra, à destruição, à colonização e à posse por um viés que tem algo de lúdico.
Sex War Dance
Carmela Gross Sex War Dance Neon, 100 x 550 x 10 cm
Carmela Gross

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"SEX WAR DANCE" é um trabalho de 2006, de Carmela Gross, uma artista com larga produção e cuja pesquisa começa no final dos anos 1960, durante a ditadura militar no Brasil, estendendo-se até a contemporaneidade. Ela trabalha com grande número de materiais, como desenho, instalação e objeto, e chama atenção em sua pesquisa a forma como lida com o espaço e com a palavra. Este trabalho especificamente traz no título três palavras que, em português, significam “sexo”, “guerra” e “dança”. É uma associação que a artista faz de três elementos que remetem ao corpo, ao suor, ao sexo, ao guerrear e ao dançar, que se dão na relação entre diferentes pessoas. Para pensar esses três atos, ela cria um neon vermelho que já foi usado no espaço público em São Paulo, e que, nesta exposição, estará em um dos cofres do Centro Cultural Banco do Brasil. Ao entrar no espaço, o público se depara com a frase gigante, remetendo tanto ao prazer quanto à dor, à guerra e à celebração.
Azulejaria com incisura vertical
Adriana Varejão Azulejaria com incisura vertical Óleo sobre tela, 221 x 163 x 29 cm
Adriana Varejão

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"Azulejaria com incisura vertical", de 1999, é uma obra de Adriana Varejão. A artista tem um percurso como pintora desde o final dos anos 1980 e é associada à chamada Geração 80, a mesma geração de artistas que, impulsionada pelo final da ditadura militar, experimentou mais e mais com a pintura. Este trabalho de Adriana faz parte de uma série que ela realizou no final dos 1990 e começo dos anos 2000, mas que segue desenvolvendo até hoje com azulejos e sua relação com a carne. Ela cria uma parede de azulejos inteiramente com tinta a óleo e, a partir dessa materialidade, faz uma cisão de onde sai carne. Trata-se de uma homenagem à pintura a óleo, sua corporeidade e seu caráter matérico. O trabalho também propõe uma reflexão sobre a relação entre os azulejos portugueses, que remontam à colonização, e a carne daqueles que morreram e morrem até hoje devido aos traumas e efeitos da colonização europeia. Trata-se de uma justaposição dos dois elementos em uma proposição da artista que comenta a História do Brasil.
Sem título (for sale)
Paulo Nazareth Sem Título (for sale) Impressão fotográfica, Edição: 4/5 + P.A. - 70 x 93 cm
Paulo Nazareth

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"Sem título (for sale)", de 2011, é um trabalho fotográfico que vem de uma série de obras que Paulo Nazareth desenvolveu no começo dos anos 2010. O artista, nascido no estado de Minas Gerais, tem um trabalho também longo com fotografia, performance, instalação e apropriação. No início de 2010, quando começou a ganhar maior visibilidade nacional e internacional, fez uma longa viagem, andando do Brasil até os Estados Unidos, que resultou na exposição chamada “Notícias de América”. No percurso da viagem, feita inteiramente a pé, ele só lavou os pés quando chegou aos Estados Unidos. No caminho, fez uma série de retratos fotográficos e, em alguns deles, seu corpo e rosto estão cobertos pelo crânio de um animal. Ao seu lado, uma placa diz “FOR SALE” – que, em português, quer dizer “à venda”. O que está à venda aí? A carne dele como animal, o corpo dele como homem negro, o lugar dele como viajante ou imigrante? Esta pergunta colocada por este trabalho e por outras fotografias desta série é sempre a aproximação entre o corpo humano e o corpo animal, e essa condição de fragilidade e de potencial de conflito que o corpo negro pode trazer pelo olhar público, seja no Brasil ou nos Estados Unidos.
Saramandaia
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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Se buscarmos em um dicionário, a palavra “saramandaia” aparecerá descrita como “bruxaria, feitiçaria”. No Brasil, talvez esse nome seja mais associado à famosa telenovela escrita por Dias Gomes e transmitida em 1976, em plena ditadura militar. Sua narrativa é muito associada ao realismo fantástico: alguns de seus personagens possuíam poderes mágicos, meio humanos, meio animais. Em 2006, a artista Erika Verzutti decidiu dar o mesmo nome a uma de suas primeiras esculturas em bronze. Assim como em outros trabalhos de sua trajetória, esta obra concentra fragmentos que remetem a animais, torsos humanos e vegetais; uma amálgama de corpos estranhos. Este núcleo da exposição, portanto, reúne trabalhos de outros artistas interessados em explorar essa fronteira entre o humano, o animal e o monstruoso. Embebidos por narrativas trazidas pela rica cultura oral do país ou mirando mais na exploração de materiais que apelam aos nossos sentidos, a reunião dessas imagens na mesma sala tem o poder de transformá-la em um pequeno bestiário.
Saramandaia
Erika Verzutti Saramandaia Bronze policromado, Edição: 3/3 - 48 x 36 x 45 cm
Erika Verzutti

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"Saramandaia" é uma escultura em bronze, de 2006, da artista Erika Verzutti, de São Paulo. Com uma longa trajetória, a artista nasceu em 1971 e, no início dos anos 1990, começou a estudar Artes e Design em diferentes instituições. Em 1995, participou do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo para, logo depois, iniciar um mestrado em Artes Visuais na Goldsmiths, Universidade de Londres. No decorrer desse processo, o trabalho de Erika começa a se direcionar mais para os trabalhos tridimensionais, alguns em papel, outros em argila e, assim como em "Saramandaia", o bronze. O título da escultura remete à novela da Rede Globo exibida em 1976, e ao seu significado segundo o dicionário, que aponta para “feitiço, bruxaria”. Ao olhar para a obra, percebemos o quanto essa imagem é muito peculiar: há muitos animais que saem dela, assim como reproduções de coisas que parecem vegetais, todos em bronze. Há algo de fantástico em sua composição: uma cabeça, um pescoço do que parece ser um cisne, um torso humano. Temos uma pequena grande confusão de elementos que compõem tanto a ideia de feitiço, quanto a escultura.
Habitat
Eduardo Berliner Habitat Óleo sobre tela, 250 x 280 cm
Eduardo Berliner

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"Habitat" é um trabalho de 2011 do pintor carioca Eduardo Berliner. Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Berliner tem uma carreira extensa como pintor. Suas primeiras mostras individuais ocorreram nos anos 1990 e, desde o começo, traz ao plano uma certa pintura figurativa que muitas vezes tem elementos que remetem a algo monstruoso, misterioso e que questiona as nossas certezas sobre limites e possibilidades do que convencionamos chamar de corpo humano. Na pintura "Habitat", como indica o próprio título, há uma sugestão de um habitat, de uma redoma, por meio de uma piscina sem água. Dentro dela, metade do torso do que parece ser um homem jovem e três corpos de cisnes que saem da sua parte de baixo. Sentado na beira desse habitat, um homem de boné, do qual não conseguimos ver os olhos, observa essa cena estranha. Sempre há um caráter grotesco na pintura de Berliner, e muitas vezes suas imagens chamam atenção pela escala, uso de cores e forma como ele traz mais uma violência psicológica do que necessariamente uma violência física.
Sem título
Véio (Cícero Alves dos Santos) Sem título Madeira, 150 x 44 x 34 cm
Véio (Cícero Alves dos Santos)

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Datada de 2009, esta é uma escultura sem título do artista Véio, cujo nome é Cícero Alves dos Santos. Nascido na cidade de Nossa Senhora da Glória, em Sergipe, ele trabalha com escultura, mas sempre pelo viés da apropriação: observa árvores queimadas, abandonadas, em processo de deterioração e, a partir daí, retira seus troncos e galhos, compondo formas de caráter humano ou mesmo monstruoso/animal em sua estrutura. Esta escultura, especificamente, se mantém em pé no espaço expositivo e se destaca pelo contraste forte de cores entre amarelo, preto e vermelho. A figura tem dois olhos e uma parte vermelha que se estende como se fosse um bico, podendo lembrar animais ou uma espécie de ser estranho que parece estar prestes a se mover. O trabalho de Véio sempre joga com o caráter figurativo e brinca com certa abstração, nos fazendo perceber como é possível se apropriar de muita coisa da natureza, desde uma matéria como a madeira até um olhar que enxerga, nessas partes que seriam descartadas, o potencial de transformá-las em arte.
Como se fosse verdade
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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Este núcleo da exposição traz alguns trabalhos que tensionam a relação entre ficção e documento. Pareceu apropriado intitulá-lo a partir da série "Como se fosse verdade (2015)", de Barbara Wagner e Benjamin de Burca, feita a partir de retratos e questionários preenchidos por um grupo heterogêneo de pessoas. Com essas informações em mãos e com a ajuda de um designer, cada uma dessas fotografias foi inserida em uma programação visual diferente que ia ao encontro das frases e preferências de cada um dos fotografados. De diferentes formas, os trabalhos de Fabio Morais, Iran do Espírito Santo, Laura Lima, Laércio Redondo, Leda Catunda, Leonilson e Maureen Bisilliat presentes nesta sala também roçam essa relação entre verdadeiro e falso – seja pela montagem fotográfica, seja por um olhar que revisa e expande os clássicos da história da arte; isto é, pelas relações estabelecidas com nossos ídolos, este núcleo reúne diferentes maneiras de citar e se apropriar de muitas histórias da imagem.
Como se fosse verdade
Barbara Wagner e Benjamin de Burca Como se fosse verdade Impressão lenticular, caixa de Viroc e pivô Edição: 3/3 - 170 x 1345 x 5 cm (70 x 70 x 5 cm cada)
Barbara Wagner e Benjamin de Burca

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"Como se fosse verdade" é um trabalho de 2015 da dupla Barbara Wagner e Benjamin de Burca. Barbara Wagner é uma artista pernambucana que veio da fotografia, ao passo que o irlandês Benjamin de Burca veio da área do cinema. O trabalho se constitui na instalação de uma tenda no terminal de ônibus Cidade Tiradentes, em São Paulo, onde as pessoas entravam e podiam ser fotografadas. Elas preenchiam uma espécie de questionário com as perguntas: “como você quer ser fotografado?”; “como você quer que o seu corpo apareça no trabalho final?”; “qual o seu nome?”; “qual o seu apelido?”; “de onde você vem?”; “para onde você vai?”; “escreva o seu passado em uma frase”; “escreva o seu futuro em uma frase”; “especialmente qual o seu estilo de música favorito?”. As pessoas fotografadas tinham posteriormente os seus retratos trabalhados por um designer chamado Bob Joy, que trabalha com entretenimento musical na Bahia. A partir daí, essas pessoas eram enquadradas, transformadas em capas de CDs, singles e materiais de divulgação fictícios. Trata-se de um trabalho que pensa a relação entre ficção e verdade na publicidade, na maneira como as pessoas se representam e se apresentam, e também na indústria musical e na arte contemporânea.
Ídolo partido ao meio
Leonilson Idolo partido ao meio Óleo sobre tela, 73 x 47,5 cm
Leonilson

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"Ídolo partido ao meio" é uma pintura de José Leonilson, geralmente chamado apenas de Leonilson, datada de 1983. Artista associado à chamada Geração 80 no Brasil, Leonilson nasceu em 1957, no Ceará, e teve uma prática artística desde o final da década de 1970 e começo dos anos 1980, ganhando bastante repercussão nacional e até mesmo internacional entre os anos 1980 e 1990. Em 1993, ano desta obra, Leonilson morreu em decorrência de complicações relativas à AIDS. "Ídolo partido ao meio" dá continuidade a outros trabalhos do artista em que, por meio da pintura sobre tela, palavras e imagens são associadas. Ele pinta uma espécie de escultura partida ao meio e escreve “ídolo partido ao meio mais duas pedras”, ou seja, é como se o rosto desse ídolo que foi partido se transformasse em dois rostos jogados no chão e, por consequência, em duas pedras. Há certa ironia nessa composição, uma perversidade em relação à ideia de ídolo e, logo, um convite à destruição dos nossos ídolos.
Ouro flexível
Laura Lima Ouro flexivel Caneta dourada sobre imagem de catálogos de arte, variaveis, 100 peças.
Laura Lima

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"Ouro flexível" é uma série de trabalhos da artista Laura Lima, datada de 2006, mas que segue em desenvolvimento até o presente. Desde o final dos anos 1990, o percurso da artista se relaciona a uma série de ações no espaço público e em espaços institucionais, nos quais ela se utiliza de animais e pessoas para criar imagens e desenvolver atividades. Além disso, a artista trabalha com instalações, objetos e produção de desenhos – como esta obra que, como o próprio nome indica, é realizada a partir de uma caneta dourada que, ao ser utilizada, imprime uma camada de ouro sobre as imagens, criando um universo onírico e paralelo às imagens da História da Arte que cita. Ela produz, então, uma extensão flexível de desenho sobre a superfície desses retratos apropriados dos séculos XV, XVI e XVII, e pensa a preciosidade dessas obras da tradição clássica numa condição contemporânea. Seu desenho tem certo cunho surrealista, imaginativo e por muitas vezes monstruoso, quebrando com o desejo de representação dessas obras apropriadas.
Blue tango
Coleção Andrea e José Olympio Pereira

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A noção de movimento é aquilo que aproxima os diversos trabalhos presentes neste núcleo. Assim como a fotografia "Blue tango (1984)", de Miguel Rio Branco, sugere a dança a partir de duas crianças que jogam capoeira, os outros artistas aqui reunidos se interessam pela maneira como os corpos, as formas e as imagens podem sair da inércia. Isso surge de forma explícita nos trabalhos de Luiz Braga e Dias & Riedweg, que se interessam pelo registro em fotografia e vídeo da relação entre dança e música, estar vivo, aglomerar e buscar o prazer. Já outras pesquisas presentes nesta sala se voltam para a forma como as relações entre diferentes materiais e cores podem também evocar o movimento em diálogo com várias narrativas da história da abstração – como em Carla Chaim, Luciano Figueiredo e Mira Schendel. Por fim, a gravidade e o peso surgem em trabalhos que possuem um diálogo mais forte com a escultura, como é perceptível nas trajetórias de Ernesto Neto, Iole de Freitas, Jarbas Lopes e Rodrigo Matheus.
Blue tango
Miguel Rio Branco Blue Tango Cibachrome, Edição: edição 2/3 - 40 x 60 cm cada (20 imagens)
Miguel Rio Branco

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"Blue tango", de 1984, é uma série de fotografias feita por Miguel Rio Branco, fotógrafo nascido nas Ilhas Canárias, mas que vive no Brasil há décadas. Desde 1979, Miguel Rio Branco tem pesquisado o Pelourinho, em Salvador, fazendo milhares de imagens da região, travando contato com os moradores, demonstrando em suas imagens certa intimidade com o espaço. "Blue tango" é composto por vinte fotografias que mostram duas crianças jogando capoeira. Quando o artista faz essa sequência de imagens – que remete a uma história em quadrinhos ou ao storyboard do cinema –, ele explora as cores de forma que o azul do entorno, dado pelo filme, pela iluminação, pelo espaço e pela revelação posterior, seja predominante na composição. Ele faz, portanto, uma brincadeira com o título, entre o tango, gênero musical originário da Argentina, e a capoeira, uma luta, um movimento corporal fruto da resistência das populações afro-brasileiras e das culturas quilombolas. Qual a relação entre o que poderíamos chamar de arte marcial e a dança? Qual o lugar da fotografia e do fotógrafo tentando registrar o movimento a partir de imagens estáticas?
Som na rua
Luiz Braga Som na rua Pigmento sobre papel fotográfico de algodão, Edição: 1/5 ( 5 + 2 P.A.) - 70 x 105 cm
Luiz Braga

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"Som na rua" é uma fotografia de 2010, de Luiz Braga. O artista nasceu em Belém do Pará, onde vive até hoje. Todo o seu trabalho de pesquisa como fotógrafo gira em torno de uma cultura visual paraense e de pesquisas que envolvem viagens a diferentes partes do estado. Não interessa a Luiz Braga a fotografia meramente documental, e sim o jogo do que é documento e do que é ficção, entre o que é capturado e o que ele pode modificar no processo de ampliação. A fotografia "Som na rua" chama atenção por ser uma imagem que traz um carro aberto que lembra a aparelhagem da música popular em Belém do Pará e o diálogo com o que se convencionou chamar de música brega. Esse carro com a caixa de som colorida, aberto no que parece ser um bairro popular de Belém, é um trabalho que, mesmo pelo viés da imagem, remete ao som, à festa, à aglomeração, à possibilidade de usar o carro não só para a locomoção, mas também como caixa de som. Logo, parece anunciar uma comemoração que está por vir. Assim, pensando na própria tradição da fotografia, é uma imagem que alude ao som, mas, como toda fotografia, é uma imagem silenciosa. Cabe a cada um de nós imaginar o som que poderia vir de dentro desse carro.
Menos Valia
Rosangela Rennó Menos valia 2005/2007
Rosangela Rennó




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Menos-valia [troca-troca] (2005-2007), de Rosângela Rennó, parte de uma provocação a partir do conceito de “mais-valia”, cunhado pelo sociólogo alemão Karl Marx. Para ele, a noção dizia respeito à diferença de valor entre o preço de venda de um produto e os custos com trabalhadores e meios de produção. O que a artista propõe é uma incursão por um universo onde a mais-valia é muitas vezes subvertida: a Feira de Antiguidades da Praça XV – ao lado do CCBB e popularmente conhecida como Feira do Troca. No dia 18 de junho de 2005, a artista visitou a feira e negociou diversos objetos relacionados à prática da fotografia – álbuns, diapositivos, câmeras, objetos de projeção, entre outros. Dando prosseguimento ao seu interesse pela história da fotografia, a artista mostra esses itens em caixas semelhantes àquelas utilizadas pelos trabalhadores da feira. Cada objeto pechinchado na negociação da compra é seccionado e seus fragmentos são mostrados diretamente sobre o chão, citando a forma como parte da Feira do Troca dispõe suas mercadorias. Esta proposição – especialmente dentro de uma exposição constituída a partir de uma coleção particular – nos faz lembrar o processo de desvalorização de objetos instituído pela fugacidade do capitalismo. Se a exposição inicia com o excesso do colecionismo parodiado por Pazé, parece justo terminar com outra artista que também pesquisa a partir da noção de coleção, porém convidando o público a olhar para o chão, encarar aquilo que muitas vezes foi despejado e pode ser enxergado como um item desprovido de valor.