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Imagem de capa da exposição

Un lento venir viniendo - Capítulo 1

Niterói

MAC - Niterói

05/01/2023 - 26/02/2023

Idioma do conteúdo

Abertura Un Lento Venir Viniendo - Capítulo I, Colección Oxenford – MAC Niterói

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Madeira e fita viés
 Construídas em torno de uma rigorosa economia que consegue a maximização dos resultados formais a partir de uma aparente austeridade de meios, as peças de Daniel Joglar calibram a maior delicadeza do gesto e a maior precisão no recurso utilizado. Nestas, assim como em cada uma de suas obras, Joglar coloca em jogo, através de um exercício de seleção, organização e disposição no espaço, uma análise precisa de formas, cores e materiais que de repente se tornam absolutamente fundamentais e necessários. Cada elemento, pela sua mera presença, perturba qualquer alternativa possível e torna impensável seu desaparecimento. Neste caso, por exemplo, apenas quatro painéis inteiramente cobertos com fitas coloridas expressam, ao mesmo tempo, sua simplicidade material bem como a questão sobre seu significado.

Daniel Joglar

Sin título
Sin título

Michael y yo, Sin título e Polinesia

Michael y yo, 1998 / Sin título, 1994 Técnica mista Polinesia, 1998 Plástico, nylon e bordado sobre tela Se Jorge Gumier Maier foi o autor intelectual do programa estético e curatorial que promoveu o salão do Centro Cultural Ricardo Rojas na década de 1990, Marcelo Pombo foi um de seus autores materiais, conferindo-lhe concretude. Emblemáticas daquele período dominado por discursos retóricos contra o heroísmo pictórico e o triste artifício conceitual, estas três obras mostram a tentativa de ressacralização da arte por meio de uma subversão valorativa que utiliza referências, materiais, estilos e técnicas baixas desprezadas pelos cânones da alta cultura. Objetos de consumo doméstico e cultura pop são estetizados nestes trabalhos com recursos presentes em ateliês de costura, lojas de presente e oficinas de artesanato infantil. Artes aplicadas que, como disse a curadora Inés Katzenstein, alimentam uma estética que reinterpreta o popular como forma de expressão das minorias.

Marcelo Pombo

Michael y yo, Sin título e Polinesia
Michael y yo, Sin título e Polinesia
Michael y yo, Sin título e Polinesia

Arrecifes rosa

Pintura Após os anos nos quais forjou seu nome como figura central da arte dos anos 1990 e antes que seu trabalho como artista plástico fosse complementado por ambiciosos projetos de releitura da tradição das artes visuais argentinas, a produção de Marcelo Pombo se concentrou por aproximadamente uma década na realização de grandes obras inteiramente em esmalte. Cada uma delas, das quais a que vemos aqui faz parte, é fruto de um trabalho meticuloso e demorado. O dripping, que já tinha aparecido em suas produções anteriores, é agora um exercício de precisão por meio do qual as obras constroem, com camada sobre camada de brilho untuoso, a espessura cromática resplandecente de paisagens imaginárias. Partindo de novas ferramentas, porém, neste trabalho também vemos aquela forma de beleza que Pombo descobriu na década de 1990 para a arte argentina e que é a continuidade, por outros meios, do artesanato que costuma adornar as casas populares do país.

Marcelo Pombo

Arrecifes rosa

Pierdo el tiempo

Pintura Utilizando-se de todos os recursos que a pintura oferece, Silvia Gurfein construiu uma obra que questiona as possibilidades e as impossibilidades, a validade e a obsolescência da própria pintura como linguagem, experiência e forma cultural. Uma pintura que é obra e é ensaio, reflexão, ponto de vista e objeto de análise. Por trás, ou talvez diante, da aparência puramente abstrata da obra que estamos exibindo, impõe-se uma frase que é título e, ao mesmo tempo, slogan para a experiência do fazer e da contemplação artística: Pierdo el tiempo [em português, Perco o tempo]. Por um lado, perante a arte, o tempo é sacrificado, desperdiçado, subutilizado. Por outro, a arte encontra uma forma de representar visualmente o fluxo do tempo, de fazê-lo existir como uma coisa diante de nós. Em ambos os casos, o que aparece na presença destas duas pinturas é o enigma e o desafio de conectar sua representação visual com o que sobrevive, imanentemente, além delas.

Silvia Gurfein

Pierdo el tiempo
Pierdo el tiempo

Lavanderas

Pintura Depois de alguns anos dedicados à figuração costumbrista, a pintura de Mariana Ferrari passou a uma prática quase gestual, vandalizando bastidores e paredes com o poder de uma batalha protagonizada por pinceladas abruptas e definitivas. Sua pintura tornou-se registro de um exercício transbordante de força física e pigmentar que avança até onde o corpo e os recursos materiais da artista permitem. Em Lavanderas, assim como em outras obras do mesmo período, notamos no título, e podemos conjecturar a partir da paleta e de algumas de suas formas, a vigência de reminiscências bucólicas. Presentes, ainda que de forma inconsciente, a terra crua, o mato e um rio que rodopiam os corpos laboriosos. Sobre eles, engessados ​​pela explosão da tinta, estão as possibilidades de projetar esta obra na alçada expressionista, informalista e da chamada “má pintura”.

Mariana Ferrari

Lavanderas

Pintura horizontal negra, roja y blanca

Pintura Eduardo Costa fez parte da geração que transformou a cena artística portenha a partir do Instituto Di Tella nos anos 1960. Os meios de comunicação, a moda, os sistemas de informação e mais tarde a pintura foram objeto de seu crivo conceitual. Eduardo Costa é um artista rigorosamente de vanguarda, atitude que lhe permitiu abordar cada obra com um objetivo fundacional. Neste trabalho, a intenção era criar "a primeira pintura horizontal" da história. A operação procura desmantelar a exigência de uma parede no desenvolvimento pictórico. Durante vários meses, Costa acrescentou uma a uma as múltiplas camadas de tinta acrílica preta, branca e vermelha que a compõem, esperando pacientemente que secassem. No encontro de todos elas surgiu uma nova “pintura volumétrica”, como o artista chama a série de pinturas-objeto na qual trabalha há algum tempo.

Eduardo Costa

Pintura horizontal negra, roja y blanca

Sin título

Bordado sobre tela A horizontalidade entre prática artística, ensino e ativação de projetos coletivos faz de Claudia del Río um dos nomes centrais da arte contemporânea da cidade de Rosário. Através do uso de uma multiplicidade de linguagens artísticas, incluindo colagem, desenho, escultura e textos, Del Río constrói obras pungentes – artefatos animados por uma sensibilidade crítica que pode questionar os aspectos mais complexos do presente, sem se refugiar na solenidade. Cada uma das 410 telas aqui expostas foi bordada pela artista entre 1997 e 2006 e incorpora uma manchete publicada na seção policial do jornal La Capital de Rosario, por meio do qual atos de violência eram denunciados. No centro da obra operam deslocamentos materiais e semióticos, nos quais as manchetes são transferidas do papel para o tecido, da enunciação jornalística para aquela que o mundo da arte é capaz de formular. Aqui, empilhadas e quebradiças, incorporadas em um exercício manual diário e desprovidas de referência e contexto, as chamadas se tornam tão poeticamente abstratas quanto rotundamente universais.

Claudia del Río

Sin título

Sin título, série “Que lindo…"

Escrita sobre papel Figura mítica da vanguarda portenha dos anos 1960 e 1970, que renunciou às distâncias entre vida e arte, Peralta Ramos combinou uma personalidade avassaladora com uma produção inigualável. O gesto, arrogante, excessivo e zombeteiro, converteu-se a partir dele em marca e identidade de uma arte caracterizada pela subversão da moral burguesa e pela originalidade de seu visionário. “Pintei sem saber pintar, escrevi sem saber escrever, cantei sem saber cantar. A falta de jeito repetida tornou-se meu estilo”, disse sobre si mesmo. A rotina de Peralta Ramos era passear pelos cafés do centro de Buenos Aires, onde rabiscava desejos, teorias e projetos em guardanapos. Estas notas, parte daquela série caprichosa, foram preservadas em um caderno que lhe foi dado pelo galerista Van Riel. Ao mesmo tempo testemunho de um tempo excepcional para a cultura local e do desejo avassalador de seu protagonista, nelas encontramos a rapsódia cotidiana de um dândi, inquieto e errante, e o coração de um palhaço, terno e melancólico.

Federico Manuel Peralta Ramos

Sin título, série “Que lindo…"

Índice

Livro Obstinadamente inclassificável, Fabio Kacero é um artista do estranhamento, que habita as margens dos cânones e das disciplinas características da comunidade artística de Buenos Aires. Suas obras apresentam um senso de humor peculiar e uma forte emoção estética. Com seu trabalho, entre outras missões, conseguiu construir uma ponte prolífica e experimental com a qual transita entre as artes plásticas e a literatura (Kacero também é poeta e contador de histórias). Pertencente a esta série, Índice é uma obra inserida entre a clarividência sorridente e instantânea de uma ocorrência e a produção metódica que exige o cumprimento de um slogan conceitual. Índice é um livro inteiramente composto de índices; isto é, uma lista de uma série de listas (um índice de índices?), que nos questiona por sua beleza poética – aquela que produz a ordem sistemática de um texto inexistente.

Fabio Kacero

Índice

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Escultura de piche Jane Brodie investiga materialidades urbanas – by products, como diz a artista – , seduzida por seus atributos plásticos mais essenciais (volumes, texturas, formas, cores) que permitem a ela construir uma perspectiva sobre os elementos concretos de tudo o que é material. Seus objetos são o produto combinado do acaso e da sistematicidade. Os fragmentos fortuitos da realidade que ela encontra são atravessados por um olhar afetivo e classificador que os preserva e assim os investe de uma aura artística. As três peças de breu em exibição fazem parte de uma série ainda em curso que começou em 2002. Quando o clima permite (o material é sensível ao calor), Brodie produz, a partir de golpes cegos com um cinzel, uma explosão de fragmentos de breu. Depois de estudá-los, preserva aquelas frações nas quais percebe formas únicas e combinações de superfícies brilhantes e foscas. E nesse momento, como acontece em todo ready made, artista e obra se constituem em um mesmo e único movimento.

Jane Brodie

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Desenho sobre papel As duas últimas décadas da produção de Karina Peisajovich mostraram uma evolução permanente e expansiva de sua linguagem artística, a partir de sua produção gráfica, como pintora e desenhista, e de suas instalações luminosas. Colocando no centro o problema da luz, e com ele, seu derivado, o da cor, todas as obras são, ao mesmo tempo, o resultado de um processo anterior e um ensaio para desenvolvimento futuro. Este trabalho nos mostra uma penumbra que surge como um borrão desde um coração escuro e circular de grafite. Poderíamos dizer, sem erro, que tanto aqui quanto em muitas de suas obras, vemos a geometria em ação na construção de arquiteturas planas. No entanto, enquadrada em sua produção recente, poderia se tratar de um estudo preparatório ou de um registro de uma das figuras que aparecem em suas instalações, embora o mais correto seja afirmar que são ambas; um estágio dentro das pesquisas de luz e cor de Peisajovich

Karina Peisajovich

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Espuma

Projeção de luz Definida pela artista como "uma evanescência de luzes", esta obra é o marco que determina a virada da produção de Karina Peisajovich da pintura para o trabalho com luz, cujas ferramentas ela já conhecia de suas experiências no teatro independente. A instalação é uma forma de expandir suas preocupações estéticas, centradas na cor. Uma forma de "tornar presente" o que, até agora, só tinha conseguido "representar" com pintura. A obra incorpora a temporalidade por meio de sequências compositivas e mostra deliberadamente seu artifício ao expor os canhões de luz. Peisajovich busca estabelecer uma relação mais próxima e dinâmica com as pessoas que habitam sua obra, atraídas por uma força inteiramente visual. Por isso, quem observar com cuidado obterá o ponto privilegiado dentro do espaço; a única posição capaz de dar existência e sentido à experiência da cor.

Karina Peisajovich

Espuma

"Cuidado con la pintura" a.k.a La (o mi) Peralta Ramos e Last disco years

"Cuidado con la pintura" a.k.a La (o mi) Peralta Ramos, 2010 Last disco years, 2012 Pintura Como protesto contra o prolongado fechamento do Museu de Arte Moderna de Buenos Aires devido a uma remodelação, Alejandra Seeber imaginou montar salas de exposição onde estas grandes telas substituiriam as paredes que faltavam. As duas pinturas expostas fazem parte de um sistema articulado com relações entre si, com a história da arte argentina e além. Em Cuidado con la pintura, Seeber representa numa dentro de sua obra Cuidado con la pintura, a representação de um letreiro (“Cuidado con la pintura”) com o qual Peralta Ramos interveio provocativamente na galeria Arte Nuevo em 1971, durante seu auge conceitual. Uma frase, porém, que na Argentina costuma ser colocada para anunciar que uma parede acaba de ser pintada e evitar manchas acidentais. Quatro décadas depois, com a pintura mais uma vez dominando a cena artística argentina, esta obra é uma ameaça contra os desavisados. Já Last disco years funciona para a artista em conjunto com o primeiro trabalho: esta seria a obra arrancada da parede em Cuidado com la pintura, passando de uma representação pictórica para uma presença concreta na sala expositiva.

Alejandra Seeber

"Cuidado con la pintura" a.k.a La (o mi) Peralta Ramos e Last disco years
"Cuidado con la pintura" a.k.a La (o mi) Peralta Ramos e Last disco years

Donde quiera que estés

Instalação Através da instalação, das peças gráficas, do vídeo ou da criação de objetos, Pablo Accinelli constrói peças capazes de se apropriarem de algumas das mais importantes tradições conceituais da segunda metade do século XX, reinterpretando-as. Poesia concreta, tipografia e grafite são os vetores de inspiração para esta peça. Um texto que é uma promessa e um estímulo – Donde quiera que estés –, projetado no espaço, como uma espécie de megálito ou outdoor modular com layout variável. Em uma primeira e muito rápida leitura, cada letra aparece em um prisma geométrico de diferente cor e altura. Então, descobrimos que cada cilindro concêntrico encerra, enrolado em si mesmo e preso por um elástico, todas as palavras que compõem a frase. Linguagem e geometria projetando materialmente a pesquisa anunciada no título, através das ferramentas fornecidas pela arte e pela poesia.

Pablo Accinelli

Donde quiera que estés

La gran salina, Ricardo Zelarayán

La gran salina, Ricardo Zelarayán (tipografía interna). Video. 18:39 min Assim como na outra obra que aqui exibimos, a linguagem aparece trabalhada em um jogo de tensões e sobreposições. A letra, a palavra e o texto agora convertidos em um fole que opera na forma e no sentido. Aqui, Pablo Accinelli trabalha a partir da produção de outro artista. Neste caso, um dos poemas fundamentais de Ricardo Zelarayán, importante figura para a geração de poetas que surgiu no final do século XX em Buenos Aires. Tipografía Interna é o nome do software com o qual o artista cria estes aparentes ideogramas. Cada um deles emerge do encontro em uma única forma de todas as letras que aparecem em cada verso do poema de Zelarayán. Cada uma dessas geometrias completa a separação entre signo e significado. O tempo de projeção de cada quadro equivale ao tempo de leitura de cada um dos versos que compõem o poema. Projetada ao nível do solo, a leitura cai ao mesmo tempo que a soberania corporal da cabeça, forçada a se curvar diante da poesia das formas.

Pablo Accinelli

La gran salina, Ricardo Zelarayán

Tornado en el desierto, Planta de algodón e Dame una mano

Pintura As três obras pertencem às últimas séries que Marcelo Alzetta pintou antes de sua morte prematura. Geograficamente periférica, a pintura de Alzetta se desenvolveu ampliando e subjetivando o programa estético que emergiu do Centro Cultural Ricardo Rojas, por volta de 1989. Diante de um horizonte de paletas e contornos metafísicos, destaca-se o retrato de um personagem híbrido – entre o reconhecível e o irreconhecível, entre o humor e a melancolia, entre o infantil e o kitsch, relacionando-se à estética dos quadrinhos, aos quais se dedicou durante alguns anos, e à música, outro de seus meios de constante produção e evocação. Cada obra de Alzetta é uma peça de artesanato que celebra o compromisso com uma forma de beleza elegante, sintética e, acima de tudo, pessoal e restauradora.

Marcelo Alzetta

Tornado en el desierto, Planta de algodón e Dame una mano
Tornado en el desierto, Planta de algodón e Dame una mano
Tornado en el desierto, Planta de algodón e Dame una mano

Clock

Objeto Nos últimos anos, Liliana Porter transferiu sua preocupação com a temporalidade e a representação para instalações que recriam micromundos melancólicos, habitados por bonecas, enfeites e souvenirs. Espalhados pelo espaço, os ídolos em escala Porter protagonizam narrativas dominadas pelo estranhamento, que fazem face à pretensão explicativa dos nexos causais. Em Clock, os temas de Porter são poeticamente incorporados no objeto, a partir dos desequilíbrios entre o relógio representado e o bloco de madeira que o sustenta. Aqui, alguns ponteiros apontam para a parte borrada do visor, uma área onde o pretenso relógio perde sua certeza representativa. Ali, na base desse escândalo gráfico, encontramos os anéis concêntricos gravados no tronco, onde a passagem do tempo é registrada em uma escala não cronológica e pré-representacional.

Liliana Porter

Clock

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Desenho Enquanto a última ditadura militar perfurava de chumbo a sociedade argentina, em 1978, a Copa do Mundo distraia a população. Jorge Gumier Maier estava angustiado e doente, e, de seu leito de convalescença, modelava diária e obsessivamente centenas de rostos desconexos como os que vemos aqui. Cada um destes desenhos introduz ao mesmo tempo um clima de escuridão e doença, associado tanto ao momento social do país quanto à situação individual do artista. Uma obra que, em sua estridente convulsão de rostos desfigurados, parece contrastar com outra imagem: a do próprio Gumier Maier, artista e curador responsável pela sala do Centro Cultural Ricardo Rojas que, nos anos 1990, desestruturaria a sensibilidade estética da arte argentina. Contrastar sim, mas sem invalidar. Como diz Claudio Iglesias: “o abraço angustiado da história (mesmo que seja a história dos que foram enganados) e a fé explosiva no abandono da história, acompanhada da crença na arte como uma Arcádia que continua sobrevoando com segurança sobre ela, são duas atitudes solidárias.”

Jorge Gumier Maier

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Coleccionismo

Caixa colagem (Seleção de 9) Em inúmeros projetos e exposições, por meio da produção frenética de esculturas, instalações e performances, e no trabalho com as coisas e os corpos, Diego Bianchi construiu um estilo original que expressa ao mesmo tempo, e como nenhum outro, as marcas essenciais da geração que irrompeu na arte na primeira década deste século. O de Bianchi é um projeto que pretende ampliar as possibilidades materiais da arte a partir de uma intensa pesquisa sobre tradição artística, vida urbana, design e consumo popular. A seleção das peças aqui reunidas compõem a série Coleccionismo, que apresenta uma amostra do tipo de resíduo que Bianchi transformou em sua matéria-prima. As obras poderiam muito bem ser as vitrines nas quais um arqueólogo do amanhã exporia os "tesouros" de nossa civilização extinta. Então, como agora, expostos para dissecação, os fragmentos constroem um teatro da precariedade cotidiana, enigmático, belo e fútil.

Diego Bianchi

Coleccionismo

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Escultura Desde seus primórdios, Diego Bianchi tem sido um observador atento dos dispositivos e estratégias de display utilizados no mundo da arte e fora dele, nas lojas e nos comércios de rua. Assim como ocorre na obra Coleccionismo, aqui presente, nestas duas esculturas percebemos a mise-en-scène como recurso intencional. Neste caso, construído a partir da tensão entre uma série de formas e objetos encontrados ou criados pelo artista e os estandartes de madeira que os apresentam. A estrutura geométrica de madeira suporta e exibe elementos tão inconsequentes quanto essenciais ao vocabulário material de Bianchi. Lá descobrimos fragmentos de garrafas de vidro, formas suaves, um ovo e um lápis, elementos que, junto aos braços ortogonais de madeira, constroem uma sintaxe, um ritmo e uma posição tão sutis e eloquentes quanto inexplicáveis.

Diego Bianchi

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Coreo

Pintura Capturadas em um momento decisivo, estamos diante de três figuras em movimento durante uma Coreo(grafia). Este tríptico pertence a um período no qual Juan Tessi levou sua preocupação com o corpóreo para uma zona de tensão material e conceitual. Qual e como é o corpo da pintura? "A pintura como corpo" e "o corpo na pintura" são os extremos entre os quais se resolveu a operação do artista. Algumas cabeças de cerâmica são enxertadas na parte superior das molduras enquanto, dentro delas, linhas inquietas sintetizam as silhuetas dos corpos. Palavras como "exuberância" e "austeridade" são colocadas para redefinir limites e, com eles, o interior e o exterior da representação, bem como a materialidade do corpo para a pintura.

Juan Tessi

Coreo

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Pintura Nos últimos anos, Juan Tessi recuperou a integridade da superfície pictórica como espaço para a figuração. O artista que duas décadas antes alcançou notoriedade por representar fielmente stills e fotografias retiradas de filmes, de revistas e do ciberespaço, agora recorre à cor como meio e como guia. Manchas que esboçam cenas e formas e volumes que emergem de contrastes cromáticos e pinceladas ondulantes. Neste caso, sugerido a partir de um perfil feminino e luvas vermelhas aparentemente desmembradas, é possível reconstruir um corpo completo integrando, numa única composição, as manchas que os separam. Surgem então ombros nebulosos, um torso de cintura estreita e uma saia colorida, e, em torno desta figura, uma paisagem exuberante e festiva.

Juan Tessi

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Los hongos nacen en silencio

Instalação sonora Como em outras colaborações, a dupla criou cenários para "sentir a música". Nesta oportunidade, Ros e Schanton idealizaram uma instalação de áudio na qual é possível ouvir fragmentos dos recitais que a poeta uruguaia Marosa Di Giorgio fez para o CD Diadema (incluído no livro Flor de Lis, publicado em 2004 pela editora El Cuenco de Plata). As faixas foram trabalhadas de forma a compor uma paisagem sonora complexa, que permite uma audição geral e uma escuta detalhada. A certa distância, o resultado da sobreposição dos áudios torna-se, como diz Schanton, “um sussurro coral mais parecido com um zumbido”. À medida que você se aproxima de cada locutor, por outro lado, os sons ganham clareza, e a voz de Di Giorgio torna-se definida, enunciando cada uma das palavras. Até agora, a obra tem sido ativada em jardins, local intimamente ligado ao universo simbólico e biográfico da poeta uruguaia.

Alejandro Ros e Pablo Schanton

Los hongos nacen en silencio

Collage #3, série Impresión

Colagem As colagens surgiram na produção de Rosana Schoijett após vários anos desenvolvendo projetos fotográficos dentro da arte contemporânea, muitos deles extrapolando a linguagem do retrato com recursos trazidos de seu trabalho como fotojornalista ou da história da arte. As colagens de Schoijett carregam grande virtuosismo e delicadeza, nas quais as sobreposições são reguladas estritamente para especificar efeitos narrativos. Elas captam um universo visual de paisagens, vida natural, história da arte e formas ambíguas que a artista tem alimentado com recortes de fotografias e ilustrações retiradas de publicações de diversas origens. Como neste exemplo, Schoijett costuma construir suas obras como dípticos, trípticos ou polípticos compostos por imagens semelhantes, em cada caso. Dessa forma, na comparação quadro a quadro, através das semelhanças e diferenças, ela alcança contrastes significativos que projetam suas obras em diferentes direções interpretativas.

Rosana Schoijett

Collage #3, série Impresión

Flora Rioplatense e Flora Misionera

Pintura A produção de Florencia Bohtlingk se destaca no contexto da pintura argentina contemporânea por sua fidelidade a um gênero abandonado por muitos de seus colegas: a paisagem rural. Em diversas obras de diferentes dimensões e técnicas, a artista retratou, sem ambições representativas e com um estilo inteiramente pessoal, longe de qualquer "ismo", cenas da vida no campo na província de Misiones e nas margens do Río de la Plata, dois locais onde residiu. Nas duas pinturas monumentais que aqui exibimos, Bohtlingk nos faz mergulhar, por meio de formas sintéticas que poderiam ter sido recortes feitos com tesouras, na exuberante flora desses dois espaços geográficos. Entre as duas obras, pairam continuidades e diferenças que emergem iluminadas pelos clarões verdes fluorescentes que sobrevivem na artista como experiência de vida na selva.

Florencia Bohtlingk

Flora Rioplatense e Flora Misionera
Flora Rioplatense e Flora Misionera

English Tea e Dos amigos y un tesoro

Marchetaria Por mais de três décadas, Sebastián Gordín vem construindo, com uma técnica prodigiosa, universos narrativos e personagens fantásticos em escala reduzida. Exímio desenhista, escultor e pintor, sua produção encontrou seus formatos mais característicos em duas disciplinas inusitadas para a arte argentina: o modelo e, como vemos nas obras aqui presentes, a marchetaria. São peças de uma preciosidade artesanal única e beleza hipnótica, animadas, como disse a artista e curadora Verónica Gómez, por “uma fantasia excessiva e precisa, tão cativante quanto cáustica”. As cenas de Gordín sempre exibem um momento de drama profundo dentro de uma história (um filme classe B, uma história em quadrinhos etc.) a qual desconhecemos, mas que não podemos deixar de tentar reconstruir e de cujo intrigante feitiço dificilmente conseguiremos nos livrar depois de deixar a mostra.

Sebastián Gordín

English Tea e Dos amigos y un tesoro
English Tea e Dos amigos y un tesoro
English Tea e Dos amigos y un tesoro

Situación de un círculo azul

Instalação Lamelas foi um dos jovens que animaram a cena artística dos anos 1960 em Buenos Aires. Viveu em cidades como Londres, Paris e Los Angeles, onde continuou a desenvolver um trabalho tão fiel ao seu conceitualismo original quanto sensível ao magnetismo dos estilos predominantes naqueles contextos particulares. A obra que exibimos corresponde à sua mais recente produção. Um círculo de alumínio pendurado e, na parede, esse mesmo círculo desenhado. Entre os dois, há uma eloquente diferença de matéria e registro, e também, a partir de uma conjetura, há uma ordem causal. Acima de tudo, um enigma, o de seu significado, que não é preenchido pela anedota de sua origem: Lamelas pediu a um acrobata que desafiava a gravidade se balançando dentro de um anel para fazer círculos semelhantes para ele. Situación de un círculo azul pode ser associada a um dos recursos que Lamelas melhor trabalhou em sua juventude: a sinalização e, por meio dela, a capacidade que possibilita à arte vivenciar transformações contextuais. Neste caso, menos aquela que faz a mediação entre a criação dos dois círculos do que aquela que estes, aí localizados, dirigem sobre o espaço expositivo e sobre quem os observa.

David Lamelas

Situación de un círculo azul

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Pintura Alfredo Londaibere foi um importante membro da comunidade do Centro Cultural Ricardo Rojas, cuja sala de exposições dirigiu na segunda metade da década de 1990, sucedendo Jorge Gumier Maier, e no qual desenvolveu um notável trabalho como artista-professor, articulando diversas oficinas, cujo eixo central foi sempre a prática pictórica. Essa linguagem ocupou o centro de sua atividade como artista, atitude que lhe permitiu estabelecer diferentes experimentações formais e materiais, incorporar objetos do cotidiano ou apresentar um delicado desvio na forma de colagens fotográficas. Todos esses aspectos tornaram-se recursos com os quais ele contribuiu, como toda aquela geração, para ressacralizar uma arte que exigia ser apreciada de forma alegre e, de modo particular para o artista, ser um caminho de elevação espiritual. A obra que aqui exibimos reúne alguns dos elementos característicos de sua produção, como a pesquisa geométrica e uma paleta contrastante de tons saturados, capazes de aprofundar volumes e ampliar nossa percepção.

Alfredo Londaibere

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En el MoMA (Cy Twombly) e En el Metropolitan Museum I

Fotografia Como curador, professor e fundamentalmente como artista, Alberto Goldenstein construiu nas últimas três décadas um modo de fazer e um modo de ser para a fotografia (pelo menos, para a melhor dela) dentro da arte contemporânea argentina. Uma atitude estética que, sem trair um compromisso absoluto com a fotografia, foge sempre para o lugar contraditório que o sistema das artes visuais oferece a essa disciplina. As duas imagens fazem parte da série Americana (nome compartilhado por sua primeira série, do início dos anos 1980, feita enquanto estudava em Boston). En el MoMA (Cy Twombly) deslumbra pelo seu funcionamento especular. Tudo o que acontece está contido no jogo de espelhos que faz a mediação entre o reflexo no vidro que protege a obra de Twombly e a lente de Goldenstein. Um jogo que reproduzimos quando contemplamos a fotografia. Tanto quem observa a obra no MoMA quanto quem a faz agora se vê contido e submetido à força gravitacional exercida pelas obras de arte. Já En el Metropolitan Museum I apresenta uma complexa construção geométrica, na qual os olhares e trajetórias de seus visitantes, bem como a disposição das obras e do mobiliário, operam como um desafio à harmônica e estável arquitetura simétrica. Vetores, manchas e profundidades alteram e dinamizam um jogo emocionante para o olhar que introduz, mas não controla, a figura feminina representada na pintura que observamos centralmente.

Alberto Goldenstein

En el MoMA (Cy Twombly) e En el Metropolitan Museum I
En el MoMA (Cy Twombly) e En el Metropolitan Museum I

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Pintura A obra de Valentina Liernur foi desenvolvida incorporando e expandindo elementos de duas tradições pictóricas constitutivas: abstração e figuração. Um tipo de atenção que lhe permitiu usar retratos emblemáticos do sistema da moda, retratar vizinhos da cidade de Buenos Aires, transferir certos códigos dos quadrinhos à pintura ou compor pinturas a partir de manchas, máscaras ou pedaços de pano atravessados por marcas de alvejante, cortes e zíperes. A obra que aqui apresentamos é um ponto de inflexão, um olho mágico que revela o desenvolvimento de um procedimento pictórico. Aqui vemos o exato momento em que Liernur volta sua atenção para o brim, ainda sob o registro figurativo. Ampliada, a artista "representa" um tecido jeans e seus cortes. Imediatamente a seguir, após este trabalho, Liernur dará o salto da representação para a própria “presença” de um dos seus materiais mais emblemáticos: o denim, que começará a acolchoar e a intervir no espaço.

Valentina Liernur

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Sphere blanche

Escultura Referência internacional da op art e da arte cinética, a obra de Julio Le Parc é referência para a arte argentina há mais de meio século. Objetos que encantam e fascinam e permitem ampliar as possibilidades da experiência visual. Este trabalho sintetiza muitas das investigações realizadas pelo artista. Um móbile de grandes dimensões e geometria simples, dotado de leveza, movimento e efeitos de luz a partir de sua constituição material. Uma esfera que é um encontro de peças de plástico, ordenadas e sequenciadas ritmicamente, penduradas em cordas tênues. Sphere blanche é um artifício que recria a natureza, que incorpora e refrata as vibrações do ambiente como potência visual e motora. Esta “unidade de existência”, como o crítico Jorge Romero Brest chamou a obra de Le Parc, não só nos permite evocar corpos celestes como também descobrir a constituição volumétrica e composicional de uma figura, neste caso, uma esfera idêntica àquelas que habitam nosso mundo.

Julio Le Parc

Sphere blanche

Kuitca

Pintura Poeta, artista visual, editora, educadora e fundadora, ao lado de Cecilia Pavón, de Belleza y Felicidad, espaço que dinamizou a cena artística de Buenos Aires no início dos anos 2000, Fernanda Laguna é em si um código sem o qual não se parece possível interpretar a vida cultural argentina das últimas três décadas. “Ingenuidade” é o conceito que tem sido utilizado, de forma crítica ou elogiosa, para dar conta do tipo de imagens, vozes e operações conceituais com as quais constrói suas múltiplas obras. Como assinalou o curador Francisco Lemus, as coordenadas de sua arte são "a infância, o que aconteceu e o que inventamos, os objetos, a cópia sem lugar para o original, a pobreza e as afirmações". Laguna fez parte da bolsa de formação organizada por Guillermo Kuitca – principal protagonista no retorno da pintura ao centro da arte argentina nos anos 1980. É em relação a essa experiência pessoal e a esse passado heroico que Laguna faz esta pintura de pequenas dimensões. Um trabalho que funciona como um manifesto “em ação” promovendo outro tipo de arte possível.

Fernanda Laguna

Kuitca

Naves nubes

Pintura Marina De Caro é dona de uma obra em permanente expansão, na qual elementos essencialmente visuais vibram, se multiplicam ilimitadamente e avançam do plano para a conquista do objeto, dos tecidos, do vestido, dos corpos e do espaço. Estas duas peças vêm dos mundos que essa expansão possibilita quando impulsionada pela visão de De Caro. Dois fragmentos oriundos de um universo de formas sugestivas, no qual os objetos possuem cores elétricas e dimensões industriais, e no qual ainda se encontram as marcas da criação pessoal da artista. É o artifício exposto, como marca e como estilo, por exemplo, por meio do pulso que direciona o corte e empurra o pincel ao delinear contornos borrados no papel.

Marina De Caro

Naves nubes
Naves nubes

Sin título

Pintura É o pintor que por excelência celebrou a pintura local e internacionalmente e a recolocou no centro do sistema da arte. Guillermo Kuitca organizou um decisivo programa de formação, através do qual acompanhou o desenvolvimento de várias gerações de artistas locais. Os planos, cenários e mapas que Kuitca pinta desde o final da década de 1980 nos são anunciados como espaços a serem habitados. Embora sejam apresentados e delimitados como áreas de tensão e evoquem o vazio territorial de um deslocamento militar ou o drama de uma planta de um apartamento representada por coroas de espinhos, é difícil não imaginar um corpo e suas possíveis tramas de vida. A pintura aqui exibida introduz uma cena em que a arquitetura induz à intimidade. No entanto, como em outras pinturas, descobrimos objetos e corpos esvaziados de carga sentimental, pois o mobiliário doméstico, neste caso uma cama, é um objeto em que a vida se aloja sem fixar um tipo específico de experiência.

Guillermo Kuitca

Sin título

Monumento al cenicero

Escultura A mais banal, a mais indescritível e, portanto, a mais fundamental questão: por que algo existe ou, na tradição filosófica, por que o ser em vez do nada. Esta é uma das perguntas que, despojada de qualquer solenidade, as obras de Navarro trazem à tona através de performances, desenhos, objetos ou instalações, reforçando a arte contemporânea como uma das potências essenciais do nosso tempo: como o terreno onde ainda é possível fazer a irracionalidade produtiva por si só, dispensando qualquer operacionalização argumentativa, economicista ou instrumentalizadora. Um monumento ao cinzeiro que não pretende representar mais do que ele próprio. Um objeto tão aberto quanto refratário, que se oferece inteiro em sua absoluta superficialidade porque não pretende oferecer nada além de sua mera presença. Na sua mais pura essência, um monumento à possibilidade de o monumento existir. Um objeto, então, tão absurdo que se torna necessário, indispensável.

Eduardo Navarro

Monumento al cenicero

El Árbol

Video. 4 min A partir do vídeo, com o meticuloso entusiasmo de um cinéfilo-pesquisador, Joaquín Aras construiu um trabalho sobre o cinema, sobre suas condições e sobre seus modos de narrar, que dão as costas para as formas de atuação na indústria cinematográfica e faz da sala de arte um espaço expositivo. Em suas origens, antes de abordar a reconstrução de episódios esquecidos da cinematografia nacional com técnicas documentais, Aras criou vídeos inspirados por uma sensibilidade próxima de alguns dos códigos de distanciamento que ordenam cognitivamente a arte contemporânea: o conceitualismo, o absurdo, a falta de habilidade técnica, o humor ou os jogos de referência. No vídeo que aqui exibimos, um dos últimos desta primeira etapa, vemos o artista perambular numa idílica paisagem alpina – a mesma que inspirou pensadores e artistas em seus trabalhos mais profundos – parando aqui e ali, “camuflado” atrás de um simples galho. Uma coreografia infantil e absurda que lembra uma cena frequente em desenhos animados. A ação funciona como uma ferramenta que nos permite desnaturalizar nossa percepção das cúpulas da cultura, da documentação e, com ela, de forma performática, da linguagem cinematográfica.

Joaquín Aras

El Árbol

Sin título e Sin título, série Portfolio Buenos Aires

Fotografia Três obras que, apesar da distância temporal que as separa, são inseridas com plena coerência dentro da mesma jornada estética, urbana e pessoal, aquela que Bruno Dubner construiu como fotógrafo da cidade de Buenos Aires. Suas imagens não pretendem encenar o heroísmo do alto nem a insubordinação do baixo. Ao contrário, acompanham aquela zona urbana intermediária, tão reconhecível e emblemática quanto insignificante, ordinária e invisível ou, pelo menos, sem dignidade suficiente para ser registrada. Dubner fotografa os letreiros e marquises de lojas esquecidas por sua clientela, as assinaturas dos arquitetos dos prédios nas fachadas, o desenho dos pavimentos dos prédios ou a paisagem que as copas das árvores encenam nos muros da cidade. Espaços construídos pelo olhar do artista, potencializados por composições e identificáveis ​​por sua paleta e representações sintéticas. Suas fotografias estabelecem um vínculo com a topografia e a arqueologia urbana e, portanto, com as cronologias e referências que atravessam a cidade de Buenos Aires. Espaços revelados em imagens que, justamente por sua natureza trivial ou anódina, fazem da fotografia uma ferramenta de construção e não um dispositivo de documentação.

Bruno Dubner

Sin título e Sin título, série Portfolio Buenos Aires
Sin título e Sin título, série Portfolio Buenos Aires
Sin título e Sin título, série Portfolio Buenos Aires

abecé

Publicação Nesta publicação fotográfica Alberto Goldenstein, Bruno Dubner e Cecilia Szalkowicz, responsáveis ​​por três dos trabalhos fotográficos mais importantes e singulares da arte contemporânea argentina, descobrem o caminho alquímico para transformar afinidades estéticas e afetivas em um novo sujeito-artista grupal que suspende todas as noções de estilo individual e autoria. Uma condição que permite descobrir a vontade de habitar a cumplicidade, a perda individual e a fusão coletiva. abecé é o trabalho gerado na combinação, incentivado pelo uniforme preto e branco que encontra uma imagem na outra. abecé é a tensão provocada pelo enigma do sentido e que, ao folhearmos suas páginas, enquanto ligamos formas e temas, tentamos silenciar, tecendo as fotografias em uma ou várias narrativas. abecé é isto e muito mais porque, antes de tudo, é um conjunto de imagens que se apoiam absolutamente em tudo o que a fotografia contém em si mesma para produzir.

Alberto Goldenstein, Bruno Dubner e Cecilia Szalkowicz

abecé

Bodegón acordeonado e Sin título

Pintura Através do uso da abstração, mas também da figuração, a pintura de Deborah Pruden parece nos receber antes de existir plenamente, como se tivesse pedido licença e estivesse seguindo para a metade do caminho entre ser uma pintura e ser alguma outra coisa. Isso parece ser sugerido por aquela pincelada tão sua – el brochazo [com pincéis do tipo broxa], como nomeou seu professor Alfredo Londaibere –, que desbota à medida que perde pigmento, antes mesmo de se tornar uma camada de cor. As diferenças entre as duas obras aqui apresentadas dizem muito menos sobre elas do que sobre o que as une: um modo de ser da pintura. São pinturas que não guardam segredo técnico, narrativo ou teórico, mas são ditas apenas uma vez e exigem ser vivenciadas em seu imediatismo mais explícito. Pinturas sem projeto, mais próximas do rabisco do que do esboço. Um trabalho que parece ser sustentado no impulso inicial, naquele instante em que o entusiasmo ainda não teve que trocar de pele, passar pelo crivo do método ou fazer as contas de tudo o que pode e de tudo ao qual aspira.

Deborah Pruden

Bodegón acordeonado e Sin título
Bodegón acordeonado e Sin título

Selfie boy

Performance Under de si é o nome da performance produzida pela colaboração entre Diego Bianchi, artista, e Luis Garay, coreógrafo. Uma experiência imersiva, coral e sem forma, composta por 28 peças individuais que ativam 50 performers simultaneamente. Em um ambiente que juntava a discoteca à masmorra ou o shopping à pornografia, numa sucessão de situações desconcertantes, evocativas e exemplares, expunham o desejo em todo o seu brilho e pathos. Um teatro sarcástico, eufórico e contraditório, que transformava as reações dos espectadores em espetáculo. Selfie boy, a obra que aqui apresentamos, oferece-nos, por meio de uma citação, o clássico Hermes, o escravo contemporâneo da representação de si mesmo que, do alto do seu pedestal, desafia diretamente a nossa compulsão por nos tornar públicos.

Diego Bianchi e Luis Garay

Selfie boy

Unto a land that I will show thee I, II, III, IV y V

Pintura sobre sapatos Entre as ambições mais desenfreadas da pintura está a de engolir o mundo e transmutar sua existência em um efeito representativo. Em trabalhos anteriores, Ana Vogelfang havia explorado na tela o poder ornamental contido na roupa, sua capacidade de classificar, de construir modos de ser, olhar e sentir. Os sapatos e peles desta obra são uma herança de família, o testemunho intergeracional que a artista recebe da avó e, com ele, também uma forma de manter viva a memória de uma trajetória migrante. Pintar é, portanto, um ato de reapropriação, uma intervenção que permite projetar e ampliar o sentido para além do tempo e dos afetos pessoais. Nestes sapatos está a arte e o que a arte não é, está o passado e está o presente, como velado no título da obra, retirado do Gênesis, está a ordem para Abraão de abandonar tudo e partir em direção a uma nova terra.

Ana Vogelfang

Unto a land that I will show thee I, II, III, IV y V