
Tunga - Conjunções Magnéticas
São Paulo
Itaú Cultural
Idioma do conteúdo
1º andar
Quem é Tunga? Da distração à criação. Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, mais conhecido como Tunga, é um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira. Sua poesia se manifesta de diversas formas entre desenhos, esculturas, instalações, performances e vídeos que normalmente foram criados a partir de um estado de devaneio, de um instante em que realidade e imaginação se entrelaçam e se fundem. Assim, convidamos você a relaxar a sua mente e aflorar seus sentidos para adentrar neste universo.

Tunga: Conjunções Magnéticas
Apresentar a obra de Tunga em sua extensão, profundidade e integridade foi o que norteou a realização de "Tunga: conjunções magnéticas". Com mais de 300 trabalhos em exibição, muitos deles inéditos, a exposição é uma retrospectiva com as relações e os desdobramentos que se metamorfoseiam desde a década de 1970 – sua primeira individual foi em 1974, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) – até pouco antes do seu falecimento, em 2016. Além do desenho, a inquietude artística de Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão (1952-2016) o levou a outras práticas: esculturas, objetos, instalações, vídeos e performances. Esse conjunto de trabalhos revela a dimensão de seus múltiplos interesses, que transitavam livremente por diversas áreas do conhecimento, como arte, literatura, ciência e filosofia. Grande parte da obra do artista se encontra sob a guarda do Instituto Tunga, que tem a responsabilidade de manter, divulgar e resguardar seu legado. O espaço expositivo traz de maneira abrangente os momentos mais significativos da trajetória do artista, sem qualquer tipo de hierarquia ou cronologia, fiel ao seu pensamento contínuo e circular, sempre se ampliando mais e mais. Ao apresentar a amplitude da obra em consonância com sua poética plástica, inspirada no conceito de “instauração” por ele proposto para as suas “instalações performáticas”, "Tunga: conjunções magnéticas" é uma exposição que fisicamente se “instaura”, se é possível dizer, como uma verdadeira “obra”. Tunga, como poucos artistas contemporâneos, explorou as mais diversas mídias e materiais como ímãs, vidro, feltro, borracha, dentes e ossos, impregnando-os de uma estranheza poética, não familiar. Por meio de sua peculiar prática metamórfica, propunha experiências artístico-poéticas díspares, heterogêneas e heterodoxas. Suas “instaurações”, instalações, esculturas e objetos buscam explorar tanto o apelo simbólico e físico dos materiais quanto sua articulação plástica e poética, e se encontram lado a lado com sua intensa obsessão pelo desenho. Esse, para Tunga, nunca foi apenas um esquema ou projeto, mas uma realização em si, indissociável e fundamental para a produção e a compreensão da totalidade do trabalho. Sendo assim, a prática do desenho como raciocínio e realização está presente na mostra em toda a sua extensão e relação com os trabalhos tridimensionais. "Tunga: conjunções magnéticass" enfatiza a interação metabólica, em constante dinâmica e mutação, entre mídias e materiais que se apresentam ao longo de quase meio século, característica fundamental de Tunga. E percorre sua extensão num conjunto de trabalhos que vão do início ao fim de sua obra e vice-versa, dobrando-se sobre si mesmo em cada um e em todos os seus momentos. Antônio Mourão, diretor do Instituto Tunga Paulo Venancio Filho, curador da exposição

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Tunga: conjunções magnéticas A ideia central que estrutura Conjunções magnéticas é a de uma exposição retrospectiva que apresente a extensão da obra de Tunga em consonância com sua prática e sua poética plástica. Inspirada no conceito de “instauração” por ele proposto para as suas “instalações performáticas”, Conjunções magnéticas pretende apresentar as relações e os desdobramentos que se metamorfoseiam ao longo de sua obra. Desse modo, propomos uma exposição que fisicamente se “instaure” como uma verdadeira “obra”, reunindo os momentos significativos da trajetória do artista sem nenhum tipo de hierarquia ou cronologia, fiel ao seu pensamento contínuo e circular, sempre se ampliando mais e mais. Como poucos artistas contemporâneos, Tunga (Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, 1952-2016) explorou as mais diversas mídias – desenho, objeto, escultura, instalação, “instalação performática” (ou “instauração”, como preferia chamar), filme etc. –, sem fixar-se em nenhuma delas. O mesmo ocorre quanto aos materiais que utilizou: chumbo, feltro, cristais, vidro, borracha, metais, corpos, tecidos etc. Sem qualquer hierarquização, Tunga impregnava-os de uma estranheza poética, não familiar. Por meio de sua peculiar prática metamórfica, propunha aos materiais experiências e formas artístico-poéticas díspares, heterogêneas e heterodoxas. Seus trabalhos buscam explorar tanto o apelo simbólico e físico dos materiais quanto a sua articulação plástica e poética, e se encontram lado a lado com a sua intensa, diríamos, quase obsessão pelo desenho. Conjunções magnéticas pretende enfatizar a interação metabólica, em constante dinâmica e mutação, entre mídias e materiais que se apresentam ao longo de uma produção de quase meio século, uma característica fundamental dos trabalhos de Tunga. Sintetiza, assim, a sua extensão num conjunto de obras que vão do início ao fim de sua trajetória e vice-versa, dobrando-se sobre si mesma em cada um e em todos os seus momentos. Paulo Venancio Filho
Apresentação 01
Tunga em seu ateliê, 2014. Foto: Romulo Fialdini/Tempo Composto

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Tunga: um retrato do artista Olá, tudo bem? Que bom que você está aqui no audioguia da exposição “Tunga: conjunções magnéticas”. Ficamos muito felizes com o seu acesso. O audioguia é uma criação do Educativo do Itaú Cultural e vai complementar a sua experiência diante das obras de Tunga. Neste áudio falaremos brevemente sobre a história e a trajetória profissional desse artista, mas antes deixe eu falar um pouquinho sobre esta exposição: dividida em três andares, a mostra “Tunga: conjunções magnéticas” conta com mais de 200 obras, entre esculturas, desenhos e vídeos de performances criadas pelo artista. Com a curadoria de Paulo Venancio Filho e parceria com o Instituto Tunga, a exposição reúne obras que abrangem os mais de 40 anos de carreira do artista, abrindo as portas para um universo paralelo no qual realidade e ficção se misturam. Que tal começarmos a mergulhar nesse universo? Para fazermos isso, não há um ponto de partida melhor que este: - Quem é Tunga? Tunga, apelido de Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, é um dos nomes mais importantes da arte contemporânea brasileira. Artista prestigiado no Brasil e no mundo, ele realizou cerca de 300 exposições, entre individuais e coletivas. Para você ter uma dimensão do nível de impacto do trabalho dele, saiba que Tunga foi o primeiro artista brasileiro a expor uma obra no Museu do Louvre, em Paris. Filho do escritor e poeta Gerardo Mello Mourão e de Léa de Barros Carvalho – mulher eternizada no quadro “As gêmeas”, do pintor Alberto da Veiga Guignard –, Tunga esteve imerso num ambiente literário e cultural desde pequeno. Sendo assim, não é de estranhar que ele tenha se enveredado pela carreira artística, não é? Formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade de Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, na década de 1970, Tunga nunca chegou a exercer a profissão de arquiteto. No entanto, foi nessa mesma década que ele iniciou a sua trajetória no mundo das artes, com sua primeira exposição individual, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Autor de uma estética inconfundível, Tunga se inspira em vários campos do conhecimento humano, como filosofia, psicanálise, ciência, matemática e alquimia. A partir desses conhecimentos, ele lança toda a sua poética para criar diversas narrativas – e, se tem uma coisa que Tunga sabe fazer como ninguém, são narrativas! Todas as suas obras trazem histórias, e todas essas histórias nos revelam essa pessoa que ele assume ser: um “Tunga”. Um indivíduo que ora diz ter nascido em Pernambuco, ora no Rio de Janeiro, ora no planeta Vênus; uma pessoa que conta ter visto duas lagartixas se fundirem e se tornarem uma criatura de duas cabeças; alguém que relata ter presenciado a produção de esferas aromáticas criadas com flores e cascas perfumadas por três besouros; enfim, uma pessoa que assume como nome artístico, pelo qual ficaria famoso no mundo todo, o apelido que recebeu na infância e que significa literalmente “bicho-de-pé”. O que esperar de um artista que carrega tanta bagagem senão a criação desse universo? Pois então seja muito bem-vindo a ele!
Apresentação 02
Imagem 1 Tunga "Sem título", da série "Gravitação Magnética", ca. 1980 Foto: Gabi Carrera/Acervo Instituto Tunga Imagem 2 Tunga "Vênus de Âmbar", da série "From 'La Voie Humide", 2014 ferro, gesso, cerâmica, bronze, breu, esponjas marinhas, couro e desenho sobre papel de algodão Foto: Gabi Carrera/ Cortesia Mendes Wood DM São Paulo, Nova Iorque e Bruxelas Imagem


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Você está diante de uma prancha tátil. Comece sentindo os contornos do objeto. Posicione suas mãos na parte superior da prancha, à esquerda. Deslize-as até encontrar duas linhas em formato de V. Perceba, também, sua textura. Estas linhas tem a cor bege. A seguir, vá deslizando seus dedos para a direita, a partir do V. Repare que o objeto forma um semicírculo bem arredondado, até chegar perto da base da prancha. / Agora, sinta uma reentrância, formando um U invertido. / Encontrou? Prossiga, então, deslizando seus dedos e perceba que este caminho fica cada vez mais fino. Toda esta área sinuosa tem a cor preta e a textura de uma pincelada que deixa rastros de tinta grossos e finos. Entre o V e a área sinuosa, há um pequeno ponto na cor vermelha. Explore, agora, o centro do objeto Você consegue encontrar uma linha fina que lembra um pé? Ele está bem à esquerda da reentrância em formato de U. Encontrou? Sinta o calcanhar e a ponta do pé. Agora, explore um pouco mais para cima. Você vai encontrar um desenho que lembra uma perna dobrada. Deslize seus dedos para cima, sentindo panturrilha, joelho e coxa. Ao final da coxa, encontre um ponto maior e com a textura (identificar a textura). Continue explorando o desenho que se forma a partir dele. Que tal usar sua imaginação? O que o traçado deste objeto te sugere? Podemos pensar em uma cobra, com sua boca aberta e seu corpo esguio e curvo. O rabo da cobra se enrola, formando um tipo de espiral. Ou então, um fio com um plugue em sua ponta. Talvez um fio de cabelo. Ou ainda, pensando no desenho no centro do objeto, um corpo de alguém sentado, que se dobra sobre os próprios joelhos. Você tem alguma outra sensação sobre este desenho? Lembre-se que não há certo ou errado. Na obra de Tunga, os desenhos abstratos estão mais para pulsações, ou descargas gestuais, do que para abstrações em si. Portanto, é importante considerar como a obra reverbera em você. Aguardamos você na próxima parada, onde conheceremos mais sobre as outras obras expostas neste andar e exploraremos um objeto tátil. Para chegar lá, é só seguir pelo piso podotátil, depois virar à direita. Siga a trilha e vire à esquerda, depois à direita, depois novamente à direita. Até lá!
Processo Criativo
Tunga Objeto tátil "Tipiti" cabo de aço revestido de náilon, ferro fundido e cerâmica Foto: André Seiti/Itaú Cultural



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Olá, tudo bem? Você está no audioguia da exposição “Tunga: conjunções magnéticas”. Ficamos muito felizes com o seu acesso. O audioguia é uma criação do Educativo do Itaú Cultural e vai complementar a sua experiência diante das obras de Tunga. Neste áudio falaremos sobre o tema “processo criativo”. Para a gente começar, vou fazer uma pergunta, preste muita atenção: Você já se percebeu distraído? Isso aí, distraído! Num daqueles momentos em que nosso corpo fica estático, o movimento se suspende e a respiração se torna profunda, num estado de quase sono que faz nossa mente divagar? Nesses momentos, é como se sonhássemos acordados, não é verdade? Um instante em que ficamos um pouquinho descolados da realidade e a nossa imaginação voa como as nuvens no céu. Nessas divagações, que tipos de imagem, som, pensamento ou ideia pairam sobre sua cabeça? Tente lembrar da última vez que isso aconteceu. Se fosse possível materializar essas divagações, trazê-las para o mundo real, como elas seriam? Quais materiais você utilizaria para concebê-las? E, uma vez estando prontas, será que elas seriam exatamente como você imaginou? A materialização de ideias surgidas em momentos de devaneio é exatamente um dos principais pontos de partida no processo criativo de Tunga. Em várias entrevistas, o artista conta que sua criação acontece em dois ambientes de trabalho: no “Pensatorium” e no “Laboratorium”. O termo Pensatorium, criado por Tunga, está relacionado com a palavra “pensar” – tal como você já estava imaginando: um lugar para descansar, um lugar para relaxar, um lugar para o devaneio. É no Pensatorium que Tunga tem as ideias para criar suas obras; elas surgem para ele nos seus momentos de distração. Após ter ideias no Pensatorium, o artista se dirige para o Laboratorium a fim de colocá-las em prática, ou seja, torná-las concretas. O Laboratorium é seu ateliê, onde ele tem sua oficina com maquinários e equipe técnica especializada na produção de obras. É ali que suas esculturas são criadas, nos mais diversos tamanhos e com os mais diversos materiais. No entanto, mesmo materializando uma ideia, a obra em si ainda não está pronta; na verdade, é a partir desse momento que, segundo o artista, suas criações começam a trilhar o caminho de se tornarem obras, já que nesse instante elas passam a lhe ensinar coisas. Elas ensinam o que é uma escultura. Elas ensinam como estabelecer relações com o mundo e como desdobrar um significado a ponto de se tornar poesia. É só a partir desse ponto e estando num espaço público que suas criações se tornam obras de arte, pois, uma vez no mundo, elas deixam de ser um conjunto de reflexões de Tunga e passam a ser uma fonte de poesia para todos.
1º Subsolo
Corpo e relação. Observe o seu corpo: pele, ossos, músculos, respiração. Cada corpo é único, sendo assim, todos nós compartilhamos dessa diferença e exclusividade. O corpo é um dos temas mais recorrentes nos trabalhos de Tunga. Representado de diversas formas, geram um misto de sensações entre familiaridade e estranheza. Nesta exposição, os trabalhos com este tema estão por toda parte e quando você os encontra um diálogo entre corpos se estabelece, entre o seu e o da obra. Assim, fica a pergunta: sobre o que conversam esses corpos quando se encontram?

O "Toro" e a produção de encontro
Tunga "Toro", 1983 ferro fundido Foto: Acervo Instituto Tunga Gabi Carrera/Acervo Instituto Tunga

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Entrelaçamentos 01
Tunga "Tereza", 1999 metal e tecido Foto: Edouard Fraipont

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Olá, tudo bem? Você está no audioguia da exposição “Tunga: conjunções magnéticas”. Ficamos muito felizes com a sua presença. Este material é uma criação do Educativo do Itaú Cultural e vai complementar a sua experiência diante das obras de Tunga. Neste áudio falaremos sobre a famosa série “Eixos Exógenos”. Vamos começar! Nos mais de 40 anos de carreira de Tunga, alguns temas reaparecem em suas obras, entre eles a forte presença do feminino. Tunga costumava afirmar ser um artista do feminino, que sua poesia era feminina e que seguia um princípio dito pelo poeta Arthur Rimbaud: “Ou a poesia é feminina ou ela não é poesia”. Assim, a presença do feminino é uma constante que atravessa as obras de Tunga, tanto pelo conteúdo quanto pela forma como ele cria. Um dos grandes exemplos disso está na série de esculturas intitulada “Eixos Exógenos”. A palavra “exógeno” significa “aquilo que vem de fora”, “que provém do exterior”, portanto um “Eixo Exógeno” seria um eixo formado do lado de fora... “Mas do lado de fora de quê?”, você deve estar se perguntando. Bom, para responder a essa pergunta, deixe eu contar como essa série foi criada. O “Eixo Exógeno” é uma escultura de madeira com uma ponta de metal. Tunga criou sete “Eixos Exógenos” com base no corpo de sete mulheres reais e, para ilustrar o conceito dessa série, ele também concebeu uma pequena história que, além de embalar muito bem a proposta poética dessas obras, vai nos ajudar a entendê-las. Escute só: “Duas irmãs gêmeas idênticas, uma em cada polo da Terra, mastigam um fruto e cospem seu caroço no eixo da Terra e dão um passo para trás. As duas se transformam em gelo, as árvores germinam. A silhueta da árvore guarda a memória daquela que a semeou”. A árvore aqui seria a própria escultura, e a silhueta da árvore é a silhueta do corpo das mulheres que inspiram a obra e que, tendo sido transformadas em gelo, já não estão mais presentes, derreteram. O “Eixo Exógeno” é uma escultura que materializa o espaço entre a mulher e sua “irmã gêmea” no momento em que elas estariam de frente uma para a outra. O formato da obra é exatamente esse desenho virtual criado a partir do corpo dessas mulheres. Se você reparar bem nos contornos de um “Eixo Exógeno”, vai conseguir enxergar o desenho do corpo de uma mulher de perfil. Voltando agora para o significado da palavra e respondendo à pergunta inicial, esta obra é, então, um eixo que está do lado de fora do corpo dessas mulheres. Sendo assim, eles são como uma espécie de testemunho do encontro dessas musas que teria acontecido em algum momento do passado, mas que gerou um fruto permanente para o futuro.
Entrelaçamentos 02
Tunga “Sem título”, da série “Eixo Exógeno” pastel seco sobre papel Acervo Instituto Tunga Foto: Renato Parada/Itaú Cultural

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Em suas obras, Tunga costumava juntar elementos distintos para criar um sentido diferente e inusitado. Para criar este efeito surpreendente, utilizava-se de símbolos justapostos, materiais diversos, bem como outros elementos. Tunga chamava este jogo de associações de “cola poética” ou “energia de conjunção”. Em 1974, no MAM do Rio, aconteceu a exposição Ar do Corpo. Nela, Tunga começou a explorar a tridimensionalidade em sua obra. Nos objetos, utilizava materiais como feltro e chumbo, numa oposição entre flexibilidade e rigidez, e também trabalhou com o contraste entre a grandiosidade e o intimismo. Aqui, no espaço expositivo, encontraremos algumas obras expostas em uma vitrine. Lá, você poderá encontrar cadernos com esboços do artista, obras e alguns estudos de Tunga para elaborar a série Morfológicas. Dentre elas, podemos encontrar uma obra chamada Escalpo. É um aglomerado de fios de cobre, lembrando fios de cabelo, presos a uma plaquinha de latão. No centro do espaço expositivo, encontraremos algumas esculturas da série Morfológicas. Na série Gravitação magnética, de 1987, há alguns desenhos feitos a nanquim. Lembra do desenho na prancha tátil, que exploramos no primeiro andar? Ele faz parte desta série. Uma das obras desta série foi exposta em 1987 na Bienal de São Paulo. Era um desenho gigantesco que se transmuta em escultura - e a escultura em desenho - e que ocupou todo o vão central do prédio da bienal - do teto ao chão. Fios metálicos desciam do teto e se esparramavam pelo chão, unidos a uma cabeça decepada - que se ligava ao corpo através de ímãs. Agora que você já sabe um pouco do que esperar da visita a este andar, que tal explorarmos o primeiro objeto tátil? Vamos seguir para a próxima parada.
Morfológicas 01
Imagem 1 Objeto tátil "Mentex" cera Foto: Rafael Adorján/Itaú Cultural Imagem 2 "Sem título", da série "Morfológicas", 2014-2017 bronze Acervo Instituto Tunga Foto: Gabi Carrera/Acervo Instituto Tunga


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Olá! Que bom que você está aqui no audioguia da exposição “Tunga: conjunções magnéticas”. Este material é uma criação do Educativo do Itaú Cultural, preparada especialmente para você a fim de complementar a sua experiência diante das obras de Tunga. Neste áudio falaremos sobre a série “Morfológicas”, último trabalho escultórico do artista. Vamos começar com esta mediação sonora? Então “bora” lá! A partir do ano de 2011, Tunga trouxe a público os resultados de cerca de seis anos de estudo apresentados na série “Morfológicas”. Tal como o nome nos sugere, a série “Morfológicas” é um estudo sobre a forma – neste caso, a forma humana. Nesse estudo, Tunga criou várias esculturas com contornos, tamanhos e materiais diferentes, trazendo o tema do corpo humano em duas espécies de camada: nós conseguimos ver, ao mesmo tempo, formatos que remetem a partes de um corpo e formatos que parecem ter sido produzidos pelo contato de um corpo, como se as esculturas tivessem sido amassadas, dobradas ou torcidas por alguém. Fernando Santana, assistente de Tunga durante mais de 15 anos, afirma que o estudo em “Morfológicas” começou com a simples manipulação de pequenas massas de modelar, daquelas usadas por dentistas, pela qual o artista foi descobrindo a potência de uma forma que nos suscita sentidos. Em “Morfológicas”, o corpo humano não está representado de maneira direta, explícita ou realista. Na verdade, não é possível afirmar que existe categoricamente um corpo representado nessas esculturas. A genialidade de Tunga se dá exatamente por criar formas que nos conduzem a associá-las a partes do corpo humano, que nos fazem interpretar, portanto que nos despertam a imaginação e a memória. Com isso, eu pergunto: - O que você enxerga quando está diante de alguma obra dessa série? - E isso que você enxerga lhe desperta o que internamente? Admiração? Vergonha? Talvez desconforto? Ou um sorriso? - Por último, na sua opinião, por que essas sensações são produzidas? Vou deixar você pensando nisso. Até a próxima!
Morfológicas 02
Tunga Objeto tátil "Mondrongo" resina Foto: Rafael Adorján/Itaú Cultural

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O corpo tem papel central na obra de Tunga, sendo ao mesmo tempo o gerador e o gerado. Através de suas esculturas e instaurações, o artista tratava desta relação, que é sempre subjetiva, pois como cada um tem seu próprio corpo, as percepções e vivências nunca são as mesmas. Em 1976, na Revista Malasartes, foi publicado um artigo de Tunga com o título “Prática de Claridade sobre o Nu”. Em um dos trechos, o artista deixa claro seu pensamento sobre a utilização do corpo como parte da expressão artística. Ele diz: “Lançar uma nova luz sobre um corpo e explorá-lo de todas as maneiras até a sua reaparição reinventada; reinstaurar o corpo na escultura – o corpo é a escultura e vice-versa”. Agora, que tal explorarmos mais um objeto tátil? Você está diante do Mondrongo. Em primeiro lugar, convidamos você a explorar o objeto, que tem dimensões de 95 por 65 por 60 de altura. Ele está apoiado em uma base sobre uma espécie de mão francesa, estruturada na parede. Agora que você já teve um primeiro contato com o objeto, pense um pouco sobre que sensações ele te traz. Este objeto é branco e confeccionado em fibra de vidro. Sinta que o formato do Mondrongo é levemente oval e perceba as ramificações a partir de sua base. Consegue identificar alguns formatos? Tome um tempo para tocar essas ramificações. / Você percebe que algumas possuem a ponta esférica, ou cilíndrica, em formato de taça ou funil… Perceba, também, que há alguns fios ligando essas ramificações. Uma delas, que possui uma pequena ponta em formato de taça, está ligada ao mondrongo por uma haste vermelha. Este objeto faz referência a uma obra que conheceremos no próximo piso, a Balança com dentes. Que tal prosseguirmos nossa visita, indo até o segundo subsolo? Até já!
2º Subsolo
Material e técnica Existe uma certa magia no trabalho de Tunga. A forma como ele investiga os materiais é um exemplo disso, porque ele procura as várias possibilidades que eles têm de fazer poesia. Às vezes, por um jogo de contradições, criando uma obra que suscita leveza, mas que foi forjada em material pesado como na sua série de Tranças, outras vezes por um jogo de aproximações, fazendo uso da própria capacidade dos materiais de se atraírem, como quando usa ímãs para criar uma escultura. A esse potencial de juntar ideias, materiais e coisas para transformar em arte, Tunga dá o nome de Energia de Conjunção, e aqui na exposição "Tunga: conjunções magnéticas" você é convidado a refletir e estabelecer essas conexões.

Campo Expandido 01
Tunga "Ão", 1981 filme 16mm e instalação de som Foto: Murilo Salles/Acervo Instituto Tunga * esta obra está em exibição na extensão da exposição, no Instituto Tomie Ohtake

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Olá! Você está no audioguia da exposição “Tunga: conjunções magnéticas”. Este material é uma criação do Educativo do Itaú Cultural, preparada especialmente para você a fim de complementar a sua experiência diante das obras de Tunga. Neste áudio falaremos sobre o conceito de campo expandido presente no trabalho do artista. Vamos começar? Quando estamos numa exposição com obras de Tunga ou vemos algum material que fale sobre ele, muitas vezes nos deparamos com o conceito de Campo Expandido, usado para explicar a dimensão poética do trabalho do artista. - Afinal, o que é Campo Expandido? A primeira vez que esse nome apareceu na história da arte foi em um artigo escrito pela teórica e professora de arte moderna Rosalind Krauss em 1978. Intitulado “A escultura no campo ampliado”, o texto apontava a incompatibilidade do uso do termo “escultura” para denominar manifestações artísticas desenvolvidas num espaço físico de maneira diferenciada. Chamar de escultura uma obra que continha, por exemplo, vários monitores de televisão num corredor ou um quarto com vários espelhos dispostos em ângulos diferentes não era mais compatível, ou então a ideia de escultura teria uma flexibilização quase que infinita. Portanto, a autora lançou o conceito de Campo Expandido para nomear esses trabalhos que já não são mais como uma escultura no sentido clássico, pois dialogam com o espaço físico criando outras tessituras interpretativas. Ao longo do tempo, esse conceito foi utilizado para nomear processos artísticos que ultrapassam fronteiras normativas, que não estão em nenhum lugar exato, ou seja, que estão “entre lugares”. A partir dos anos 1990, esse conceito se estende ainda mais, aplicando-se também nas definições de “arte” e de “artista”. A obra de arte já não seria mais uma propriedade do seu criador, mas, sim, um bem a ser compartilhado e desfrutado por todos nós. Se você já conhece o trabalho de Tunga, não é preciso dizer mais nada, não é verdade? Porque isso que contei tem tudo a ver com a prática desse artista! A atuação de Tunga no Campo Expandido se dá tanto nos seus trabalhos quanto na sua posição como artista. Na sua obra intitulada “Gravitação Magnética”, de 1987 – que está presente no Instituto Tomie Ohtake como parte desta exposição –, conseguimos ver como o nome “escultura” realmente não dá conta de classificar esse trabalho de proporções monumentais, porque ele consegue gerar tamanha ruptura no cotidiano que a obra nos confunde sobre se está em diálogo ou em conflito com o próprio espaço. A trabalhos como esse, que atuam no Campo Expandido gerando uma transformação no ambiente, damos o nome de instalação. Tunga ficou muito famoso no mundo da Arte Contemporânea com suas instalações. Elas realmente exploram um Campo Expandido, propondo um ambiente fantástico no qual o público é convidado a adentrar e fazer conexões. Uma de suas instalações mais famosas é a obra “Ão”, de 1981. Formado pela projeção de um vídeo gravado dentro do Túnel Zuzu Angel, no Rio de Janeiro – em que é possível ver carros percorrendo-o –, e reproduzido em um looping infinito, esse trabalho traz ao espectador uma sensação agoniante de estar preso num túnel circular, onde não há entrada ou saída. É por trabalhos como esses e outros que podemos tomar Tunga como uma grande referência de atuação nesse campo da arte.
Campo Expandido 02
Tunga “Albinos”, 1982 cordão de algodão, feltro de lã e ferro Acervo Instituto Tunga Foto: Gabi Carrera/ Acervo Instituto Tunga

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Na série Vê-nus, Tunga sugere que não há nudez sem um certo voyerismo. O título da série é escrito com separação de sílaba, gerando a ambiguidade de leitura entre o nome da deusa e a expressão “ver nus”. Os desenhos aqui expostos são feitos com aquarela e nanquim sobre papel. São traços e manchas pretos, com bordas levemente arredondadas, com pequenas ondulações na borda inferior. No centro do espaço expositivo, podemos conhecer uma escultura da série Vê-nus. Uma dessas manchas desenhada por tunga, com pequenas ondulações na borda inferior, é transposta aqui em uma escultura em borracha preta. Ela está presa a uma base de metal assimétrica e vazada. No chão, em meio a fios elétricos, lâmpadas iluminam a obra. Sobre ela, diz Paulo Venancio Filho: “Vê-Nus é um trabalho de borracha, flexível e pesado, maçicamente negro, recorte de um plano ao qual permanece atado, o “outro”, o rejeitado fica abaixo, suspenso no jogo visual vazio e cheio, dentro e fora, como peça de um quebra-cabeça que antes se comunicava pelas bordas. Limites, fronteiras, tudo a ultrapassar, afinal nada mais do que a pele que nos separa do mundo exterior e esconde o que somos por dentro”. Aqui neste andar, poderemos observar as obras Albinos, de 1982, que trazem a referência de uma marionete, com elementos que separam e ao mesmo tempo conectam o corpo da marionete ao corpo do manipulador. São peças de chumbo, feltro de lã e ferragem. As obras lembram corpos recortados no feltro e remontados por meio de parafusos e cordões em diversas variações, colocando em oposição a estrutura rígida e a flexibilidade do feltro. Também poderemos observar a instalação Lezart, exposta originalmente em 1989. Nela, há algumas placas de cobre e aço agrupadas. Sobre as placas, há uma porção de ímãs. Um emaranhado de fios de cobre, presos aos ímãs e às placas, se espalha pelo chão, lembrando cachos de cabelos. Lezart ocupa um espaço de 50 cm de altura, 35 de largura e 75 de profundidade. Podemos destacar, também, a balança com dentes, feita com aço carbono, alumínio e poliéster. A balança possui dois metros de altura, 70 cm de largura e 3 metros de profundidade. Nesta obra de 2008, o artista traz novamente a referência de uma marionete. Há uma barra horizontal presa ao teto. De um lado, uma enorme peça de metal que lembra um dente. De outro, pequenos dentes pendurados por trás de uma cortina. Os objetos se equilibram. Lembra do objeto tátil Mondrongo, que exploramos no primeiro subsolo? Então. Tocar neste objeto é como tocar uma parte da Balança com dentes. Nas próximas estações, você poderá entender na prática o processo criativo de Tunga, ao explorar os objetos táteis aqui expostos. Para chegar, siga em frente pelo piso podotátil, depois vire à direita. O primeiro objeto está no x alerta. Até lá!
Materiais e magnetismo
Imagem 1 Tunga Objeto tátil "Copos e ímãs" ferro e ímã Foto: André Seiti/Itaú Cultural Imagem 2 Tunga "TaCaPe", 1991 ferro, ímã e limalha de ferro Foto: Edouard Fraipont


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Oi! Tudo bem? Você está no audioguia da exposição “Tunga: conjunções magnéticas”. Este material é uma criação do Educativo do Itaú Cultural, preparada especialmente para você a fim de complementar a sua experiência diante das obras de Tunga. Neste áudio falaremos sobre o tema “Instaurações”. Vamos lá? A esta altura do campeonato, você sem dúvida tem a dimensão do quanto a arte de Tunga é especial e se manifesta de diversas formas, não é? Desenhos, esculturas e instalações são alguns dos principais meios pelo qual o artista se expressa. No entanto, existe um tipo de manifestação que ainda não abordamos e que merece nossa total atenção: as “Instaurações”. “Instaurações” são performances que Tunga realiza em determinados espaços, a maioria delas feita por pessoas convidadas que criam uma partitura corporal dialogando com algumas esculturas ou objetos criados pelo artista. O nome “Instauração” é, na verdade, um conceito criado pelo próprio Tunga, e seria o resultado da soma de uma “instalação” com uma “ação”. Instalação, como já vimos, é um tipo de arte do Campo Expandido que gera transformações no ambiente, de modo que, ao circular nesse espaço, o público vai criando várias tessituras interpretativas. E o termo “ação” vem de onde? Essa ação à qual Tunga se refere vem do campo do teatro. Isso mesmo! Tunga também bebe dessa água. Chamada muitas vezes de “ação cênica”, trata-se de um ato, gesto ou movimento simbólico interpretado por um ator ou uma atriz. Portanto, o conceito de instauração evoca a realização de uma ação cênica em uma instalação. Tunga realizou várias “Instaurações” ao longo da vida, e algumas ficaram bem famosas, como “Xifópagas Capilares entre Nós”, de 1985. Nessa “Instauração”, duas meninas gêmeas percorrem um trajeto na exposição; elas aparentam ter por volta de 12 anos e ambas estão usando uma grande camiseta branca. Num primeiro momento, elas não parecem ter nada demais, são apenas meninas; no entanto, ao reparar bem, você percebe que o cabelo das duas está conectado pelas pontas, elas são xifópagas! Isto é, gêmeas siamesas, pessoas conectadas uma ao corpo da outra, neste caso pelos cabelos. Além da condição genética, a imagem dessas duas meninas gera uma gama de perguntas e interpretações, e uma que o próprio artista faz é: “Como elas vestiram a camiseta? Se uma tirar, vai para o corpo da outra... Então como isso aconteceu?”. Outra interpretação possível é que essa obra fala sobre a ideia da circularidade, tal como na obra “Toro”: elas seriam quase que a personificação dessa ausência de começo ou fim, ou seja, sempre um eterno retorno. O trabalho de Tunga nas “Instaurações” é muito instigante. Ele junta elementos tão criativos e diferentes de tal maneira que é impossível não se afetar – a obra sempre nos atravessa, despertando várias sensações. Na nossa página do Musea, temos um vídeo de uma das “Instaurações” de Tunga, ao qual convido você a assistir e verificar o que ele desperta em você!
Equilíbrio e Sensações
Imagem 1 Tunga Objeto tátil "Mesa de três pés" madeira Foto: André Seiti/Itaú Cultural Imagem 2 Tunga "Sem título", 2007 latão fundido, madeira, material elétrico, resina époxi e tela de latão Edição 1/3 Foto: Otávio Schipper/Acervo Instituto Tunga


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Chegamos à última parada de nossa visita! E aqui, você encontrará mais um objeto tátil para explorar. Comece sentindo o objeto. / Já sabe o que é? / Isso mesmo, uma mesa em miniatura! Ela é feita de madeira e o tampo é um pouco maior que a palma de uma mão. Agora, toque os pés da mesinha. Eles são um pouco mais largos na parte próxima ao tampo e vão ficando um pouco mais finos, à medida em que se afastam. Você deve estar se perguntando por que a mesinha tem apenas três pés. Percebeu que, no tampo, há um orifício redondo, por onde passa um bastão? Pois é! Ao colocar ou retirar o bastão, você decide se a mesinha fica em pé ou se ela cai. Este objeto tátil é uma referência direta às obras que estão expostas aqui, no centro do espaço expositivo. São mesas parecidas com a que você tocou, com três pés fixos. Mas nelas, Tunga explorou usar abajures no lugar deste pé móvel. Os abajures dessas obras estão enroscados em asas de borboleta vazadas, feitas de metal. Da haste de cada abajur, sai um fio elétrico. Percebe como o equilíbrio da mesa pode mudar, dependendo de qual objeto colocamos como suporte? Após experimentar um pouco do processo criativo de Tunga, através dos objetos expostos aqui neste andar, fica uma reflexão: o que te mantém de pé? O que é capaz de te desequilibrar? Como você pode unir dois objetos, que talvez se repilam? Esperamos que tenha gostado da visita! Para voltar, é só seguir o piso tátil, voltando até os elevadores. Até a próxima!"
Instituto Tomie Ohtake
Pelo seu porte e dimensão, dois dos mais importantes trabalhos da trajetória do artista, "Gravitação Magnética" e "Ão", assim como alguns de seus desenhos fundamentais, são exibidos também no Instituto Tomie Ohtake - situado no bairro de Pinheiros. "Gravitação Magnética" e "Ão" estão entre os trabalhos mais importantes da trajetória artística de Tunga. Dois momentos que apresentam diferentes aspectos da sua prática artística, sem que seja estabelecida qualquer hierarquia entre eles.

"Gravitação Magnética" e "Ão"
Tunga Obra "Gravitação Magnética", 1987 exibida na 19ª bienal de São Paulo Foto: Rômulo Fialdini/Tempo Composto
