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Imagem de capa da exposição

Labirintos Revisitados - Penna Prearo

São Paulo

SESC - Bom Retiro

08/09/2022 - 16/10/2022

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Penna Prearo

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Olá, sejam bem-vindas, sejam bem-vindos à exposição Labirintos Revisitados de Penna Prearo A exposição acontece em uma das galerias do 2º piso do SESC Bom Retiro. O prédio do SESC tem uma um grande vão central de onde se pode ver todas as galerias e espaços dispostos nos três pisos do edifício. Na galeria destinada a exposição Labirintos Revisitados há 12 faixas de tecido transparente, do tipo voal. Nesses tecidos estão escritos o nome do artista e o nome da exposição e eles se movimentam com o vento que percorre o espaço, criando uma dança fluida e instigante. Em um jogo de transparência, que revela e esconde, os painéis de tecido parecem convidar o visitante, desde o térreo, a buscar a imersão nas imagens da exposição. A cenografia da exposição foi feita com divisórias de aço que, junto com as paredes da galeria, abrigam as obras do artista. E mais uma vez no jogo de revelar e esconder, os suportes de aço são vasados e por eles é possível ver outras partes do espaço. O trajeto criado por essas divisórias intensifica a ideia de labirinto e nos fazem percorrer um caminho até a saída do outro lado do espaço. O projeto de acessibilidade da exposição inclui a locução dos textos institucional e curatoriais, nas próximas duas faixas. E o audioguia inclusivo de 6 obras escolhidas pelo SESC e pela curadoria como grandes expoentes do percurso do artista nesta exposição. Neste audioguia inclusivo o texto traz questões levantadas pelas obras e sua descrição. Boa visita!

Caminhos caleidoscópicos

Penna Prearo

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Caminhos caleidoscópicos O labirinto apresenta um significado cultural tão múltiplo quanto os percursos que encerra. Na mitologia grega a estrutura tinha como propósito aprisionar o Minotauro — um monstro metade humano, metade bovino — associando-se ao medo. Já na cristandade medieval, a estrutura simbolizava o longo percurso do indivíduo à iluminação espiritual, convocando um sentido otimista. O campo comum a tais interpretações consiste no efeito desorientador próprio ao labirinto, que faz com que um itinerário extenso se concentre num espaço repleto de esquinas, retornos e voltas. Num sentido metafórico, esses caminhos e descaminhos preveem narrativas — a saga do herói helênico Teseu; o caminho de fé percorrido pelo monge — que podem muito bem configurar uma biografia. A exposição Labirintos Revisitados propõe uma imersão nos itinerários poético-visuais de Penna Prearo. Ao longo de 50 anos de carreira, o artista tem se dedicado a explorar os limites da linguagem fotográfica, abordada segundo um viés experimental, que mescla imaginários heterogêneos. Difundir as linguagens artísticas — inclusive os percursos humanos que as constituem — trata-se de uma ação basilar do trabalho do Sesc. A presente exposição oportuniza a reafirmação do compromisso social da organização, dirigido no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de seus públicos por meio da construção de meios de partilha simbólica, dentre os quais a arte e a cultura representam um espaço essencial. Sesc São Paulo

Penna Prearo - Labirintos Revisitados

Penna Prearo

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Penna Prearo - Labirintos Revisitados Prepare-se para ingressar num labirinto de labirintos: os labirintos construídos por Penna Prearo ao longo de 50 anos de carreira, desde sua progressiva saída de Itapevi, onde vivia as idas e vindas a São Paulo, metrópole cuja voracidade ousou enfrentar armado de câmeras fotográficas. Como todo mundo, Penna começou pela fotografia julgando que ela fosse um meio objetivo de capturar o mundo e aplacar seu tumulto perpétuo em instantes coagulados. Logo em seguida, percebeu que não, ou melhor, percebeu que preferia operar dentro do tumulto como alguém que, em lugar de observar o redemoinho, resolve avançar para dentro dele. Fotografar, concluiu, é traduzir num plano a confusão cromática, a profusão de acontecimentos que se davam à sua volta, acontecimentos que bem podiam ser fabricados por ele. Por que não? Ser fiel à fotografia, deixar-se levar por ela, não é o mesmo que ser fiel ao mundo. Mas, sim, à própria natureza de uma linguagem que, como tal, pode ser dobrada, bifurcada, embaralhada, obliterada, fraturada, tanto quanto se queira. Cedo, na altura em que passou a dominar os fundamentos da linguagem, algo conquistado por anos de prática fazendo retratos e saindo pelo mundo afora à procura daquilo que não sabia ao certo o que era, mas que reconhecia assim que encontrava. Penna, que também é poeta, foi fazendo o que os poetas fazem quando sopesam as palavras: descongelam-nas das prisões dos significados estáveis, absolutos, fazendo-as vibrar em direções e camadas imprevisíveis. Há décadas, Penna Prearo quebrou o discutível pacto que impõe, à imagem fotográfica o dever de capturar uma fração do mundo, o compromisso de ser transparente. Passou a fazer, da imagem fotográfica, um bumerangue que bate no mundo para voltar repicando sobre si. Começou desdobrando suas cores, optando por retratar o mundo sob outros ângulos cromáticos, como Matisse, que gostava de mulheres azuis e vermelhas; como Almodóvar, com seus laranjas escandalosos; como as cores alteradas de Kubrick; como as surpresas cromáticas propiciadas pelos filmes vencidos da Fuji e da Kodak. Com o tempo, como você que me lê poderá conferir em seguida, resolveu estilhaçar as imagens e submetê-las a um processo, digamos, caleidoscópico. Pois isso ainda foi pouco para ele. A coisa melhorou quando abandonou as pesadas câmeras convencionais e partiu para o celular, para o smartphone: rápido, portátil e profundamente eficaz, sobretudo quando se destina a produzir matéria prima a ser trabalhada no computador. Ah, as delicias do universo digital, um território aberto para a pesquisa de acasos e equívocos. Por fim, uma advertência: não pense o leitor que os títulos das séries dão a chave de solução dos labirintos. Ao contrário, sua função é ampliar a dimensão problemática desse artífice de enigmas. Agnaldo Farias Baixo Ribeiro

Apollo, Derradeira Viagem II

Apollo, Derradeira Viagem II Impressão em UV em alumínio 256 x 150 cm

Penna Prearo

Apollo, Derradeira Viagem II

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Apollo, Derradeira Viagem II Na entrada do labirinto de Penna Prearo, Apollo nos olha e apresenta um contrassenso: como Apollo, o deus da razão e da beleza, nos espera na entrada do labirinto caótico de Prearo? Não é na estética do belo, nem no signo da razão que moram as oníricas imagens do labirinto. É na subversão dos signos e na dissolução e reconstrução das imagens que Prearo constrói sua trama. O fotografo opera através de ruídos e interferências nas imagens, gestando uma obra carregada de enigmas. Decifra-me ou te devoro, diria a esfinge. Penna Prearo nos convida a mergulhar no mistério. A obra em questão se chama “Apollo, Derradeira Viagem II”. O título já mostra o deboche e o bom humor do artista. O fotógrafo costuma levar a cabeça de Apollo para suas deambulações fotográficas e usá-la como modelo de algumas de suas fotos. O título indica que essa viagem derradeira, talvez não seja tão derradeira assim. Para um fotógrafo longevo, que completa 50 anos de carreira, essa mensagem vem carregada de uma doce ironia. A fotografia é feita em impressão UV sobre alumínio e tem 2 metros e meio de altura por 1 metro e meio de largura. Nela está o rosto de Apollo, ou melhor, da escultura de Apollo, em um enquadramento fechado. Esse tipo de escultura, em geral, tem a tonalidade branca, mas na manipulação do fotógrafo ela adquire uma tonalidade esverdeada. Apollo tem o rosto imberbe, os lábios volumosos e bem desenhados, o nariz afilado e os olhos amendoados, mas como é comum nessas culturas, não há pupilas, o que lhe confere uma expressão um tanto atônita. Seus cabelos ondulados se perdem para fora do enquadramento. A imagem de seu rosto está na parte superior da imagem, em uma leitura de perspectiva, podemos dizer que ela está ao fundo. Na parte inferior da imagem, ou seja, em primeiro plano, há uma composição de elementos. Entre Apollo e esses elementos, na parte mais central da imagem, há um curso d’água, que só percebemos parcialmente, pois um dos elementos em primeiro plano é um sax, que cobre parte deste curso d’água. O sax tem sua parte superior, onde fica o bocal, coberto por um tecido rosa. Nesta parte, sobre o tecido, há um boneco de brinquedo, é um robô soldado. Mais abaixo, na parte descoberta do Sax, sobre suas teclas, estão um dinossauro e um tubarão de brinquedo. Tanto o tubarão quanto o dinossauro estão com a boca aberta e mostram suas presas com expressão feroz. O sax e os brinquedos estão na porção inferior direita da imagem. O tecido se estende para esquerda e ocupa toda essa parte, sobre ele está uma boneca. Ela tem a pele branca, os olhos azuis e os cabelos loiros e desgrenhados. Seu olhar está levemente voltado para direita e um de seus braços está erguido. Todos elementos que estão parte inferior do quadro estão salpicados de gotículas de água. No rosto da boneca algumas gotas se avolumam, dando a impressão que ela chora. O rosa vibrante do tecido molhado é a cor que mais se destaca na imagem.

Árvore III

Árvore III Impressão à base de pigmentos minerais em papel 126 x 86 cm

Penna Prearo

Árvore III

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Árvore III O périplo labiríntico-imagético proposto pelo artista, parece cheio de símbolos. Passamos por Apollo e agora nos deparamos com as raízes retorcidas de uma árvore, que se intitula “Árvore III”. As imagens podem suscitar inúmeras leituras e interpretações, do prosaico ao sagrado. ApolLo, o deus olímpico, apareceu decaído, envolto por brinquedos, no que poderíamos chamar de Apollo no jardim da infância. Aqui o emaranhado de raízes pode evocar a bíblica árvore da vida. Diante das imagens de Prearo, cada intepretação é uma aposta, como um lance de dados jogado no ar. Sua poética da reconstrução penetra até a raiz dos símbolos, os desnuda para que eles possam ser tudo, inclusive nada. Ele é um fazedor de enigmas imagéticos, que não busca impressões únicas, nem definições. Pelo contrário, nos instiga a brincar com as dobraduras de sentidos que suas fotografias geram. Num enquadramento muito fechado ele captura o nodo de uma raiz. É um nó onde varias raízes se conectam em um emaranhado. Seu formato é arredondado e irregular e o enquadramento fechado só nos permite divisar fragmentos de um fundo escuro. A árvore mencionada no título é apontamento metonímico revelado pel A impressão da foto foi feita à base de pigmentos minerais em papel, está protegida por um vidro e emoldurada por uma fina madeira preta. Tem 1 metro e 26 centímetros de altura por 86 centímetros de largura. A imagem tem as cores saturadas o que lhe dá uma coloração azulada nas áreas mais escuras e avermelhada nas áreas mais claras. A coloração é bem leve e evidencia os contrastes das raízes, que se dobram sobre si mesmas cheias de texturas e reentrâncias. Vale notar que em uma das entrevistas concedidas pelo artista, ele carrega um tronco, com suas raízes voltadas para cima, como se fosse um cetro. Além de estar vestido com tecidos coloridos e rajados. Cabe mencionar isso para evidenciar como ele se apropria dos objetos que fotografa. Não necessariamente a raiz que usa como cajado é a que ele fotografou, mas ela é símbolo presente em suas subversões artísticas, como o demiurgo de um universo particular que partilha conosco em seu intrincado labirinto, que está tanto no percurso como nas raízes. Cabe partilhar uma de suas poesias, presente nesse trecho do trajeto: Vou descobrir a dança feita de movimentos leves e precisos. O que ainda há de rigidez vai passar. Percebo alterações. Eu que pensava não ter mais reserva de nada, zarpo vestindo a determinação e coragem dos que sobem serras rumo às cabeceiras dos rios. Quando não me reconheço nos espelhos das águas, sossego. Nem velho nem novo: sou agora outro.

Devaneios em Sinadúbia II

Devaneios em Sinadúbia II Impressão UV em alumínio 100 x 150 cm

Penna Prearo

Devaneios em Sinadúbia II

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Devaneios em Sinadúbia II Em “Devaneios em Sinadúbia II” uma passarela corta horizontalmente a imagem ao meio. É uma passarela descoberta, sua estrutura é de ferro treliçado, ela é sustentada por duas colunas equidistantes e tem um gradil de arame que permite ver quem está sobre ela. A imagem foi impressa em UV sobre alumínio e tem um metro de altura por um metro e meio de largura. A manipulação da foto cria certa sobreposição das linhas, mas não só isso, a imagem está cindida ao meio em um corte vertical e a imagem se espelha. O que se vê a direita é espelhamento do que se vê à esquerda. E isso fica evidente observando uma mulher que caminha sobre a passarela seguida de um cachorro. Ela caminha ao mesmo tempo para direita e para esquerda, na duplicação de sua figura e do cachorro que a segue. Não divisamos detalhes nem da passarela, nem da mulher e nem do cachorro. O que nos chega são apenas suas silhuetas. Compõe o fundo da imagem indícios de uma mata com a ponta de suas árvores e um céu cinzento e carregado. A manipulação não distorce a imagem, ela é facilmente compreendida. Além do espelhamento o que gera impacto é seu caráter pictórico. A variação de tons criada na saturação das cores, e o forte contraste presente nas silhuetas deixa a imagem mais próxima da pintura do que da fotografia. Pois, também há um realce dos grãos da fotografia que podem lembrar pinceladas. Há campos de cores bem definidos, o preto, o branco, o cinza e um halo azul mais acentuado do lado esquerdo e vermelho do lado direito. Reparando bem no título da obra, o que parece indicar uma localidade esconde um engenhoso jogo de palavras, que se não ilumina uma significação fechada, amplia seu campo semântico. A sina dúbia parece escapar ao caminho definido e determinado e abrir uma bifurcação para o impossível. Um jogo especular que foge do determinismo, que subverte a “realidade da imagem” e em sua manipulação abre portais para novas experimentações. Cindida e espelhada, a obra quebra o fluxo do tempo o duplicado em duas direções. É possível escapar do destino? Na obra de Prearo sempre há caminhos para o impossível e, nesse sentido, há de novo um chiste, uma brincadeira com a própria carreira. Há cerca de 7 anos o artista lida com o Mal de Parkinson ou, como ele brinca, com o Mister Parkinson. Como ele próprio nos conta: “Antes eu usava o ‘espertofone’ como rascunho, fazia anotações e experimentava sem me entusiasmar. Só que, com a chegada de Mr. Parkinson, isso mudou. Tive que encontrar soluções para trabalhar, usar outro tipo de ferramenta e, consequentemente, o processo de criação foi alterado. Dessa forma, o ‘espertofone’ abriu caminho e ocupou um certo espaço na minha criação fotográfica” Mais um dos poemas de Prearo que estão expostos aqui: Primeira pessoa: isso é sólido, insuportável. Está nos olhos assim como a esfericidade das coisas. Não se explica, independe de outras trajetórias. Às vezes é tão intransponível que mata minha vontade de traduzi-la."

Tribunal das pequenas alterações I

Tribunal das pequenas alterações I Impressão UV em alumínio 100 x 150 cm

Penna Prearo

Tribunal das pequenas alterações I

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Tribunal das pequenas alterações I Edifícios, objetos e formas já construídas são parte de um processo de apropriação do campo artístico, como se estivessem em uma prateleira, sempre reposta por estoques de informações a serem manipuladas. A pós-produção empregada pelo artista não significa uma superação dos materiais originais, e sim uma atitude que inventa novas regras para as maneiras conhecidas de representar o mundo. Assim cada obra parece um universo habitável pelo artista, como se fosse um apartamento alugado temporariamente, mobiliado com suas memórias e referências. Penna Prearo abre caminho para a imaginação sobre as fronteiras entre a arte e o nosso mundo, e propõe espaço e tempo para reflexão sobre o universo das imagens e seus significados em nossa sociedade e no mundo contemporâneo. Trata-se de um diálogo sobre a poética e a potência da fotografia e trocar sobre a experimentação e imaginação na cidade. É com essas características que Prearo nos apresenta a obra “Tribunal das pequenas alterações I”. A fotografia é uma imagem área de uma cidade, tem as bordas arredondadas, característica de imagens captadas com lentes grande-angulares. No todo, a fotografia capta um emaranhado de prédios e casas, delimitados à esquerda por uma cadeia de montanhas, abaixo por uma rodovia, acima pelo céu com densas nuvens e à direita a imagem tem uma pequena duplicação, que está levemente ampliada. É possível reconhecer que a cidade é Aparecida do Norte, pois, no centro da imagem, há um teleférico e ao fundo está a basílica de Nossa Senhora. Os prédios e construções que ocupam o centro da imagem tem um coloração cinza, um tanto azulada e o entorno da imagem tem um tom que vai do cinza ao levemente lilás. A imagem foi impressa em UV sobre alumínio e tem um metro de altura por um metro e meio de largura. O título da obra nos convida a tentar localizar quais fora as pequenas manipulações realizadas pelo artista. Além da manipulação da cor e da textura, que tem certa granulação, a imagem tem certos vultos e repetições de alguns detalhes, como nos carros que passam na rodovia. Essa acumulação de efeitos e manipulações dão a imagem um efeito de estilhaçamento, de fragmentação. Outro poema do artista no percurso do labirinto: Procura lei natural Que mantém o ciclo regular quase perfeito. Acrescentar depoimentos, emprestar anéis, fica sabendo dos nascimentos: gente, bicho e Milton. Olhar os aviões e as fotografias. Chorar quieto e convulsivo. Ouvir certas músicas e chorar de novo. Cair exausto numa correnteza, ser levado a deriva prum centro do mundo onde se chega sem avião. Encontrar a mesa enfeitada e o quarto branco com a cama macia com lençol de flor. Saber a felicidade nem que seja em conta-gotas.

Vida em Marte V

Vida em Marte V Impressão UV em alumínio 100 x 150 cm

Penna Prearo

Vida em Marte V

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Vida em Marte V O caleidoscópio de Prearo dá um giro e cria uma nova imagem. Será que existe vida em marte? Com essa característica movediça e transitória o artista desloca um detalhe na imagem, satura uma cor, cria um efeito e nos leva até “Vida em Marte V”. A imagem é impressa em UV sobre alumínio e tem 1 metro de altura por 1 metro e meio de largura. Nela uma paisagem árida, de um campo com torres de metal, que se elevam alto, um céu avermelhado e carregado de nuvens. A imagem tem uma vinheta que a deixa mais clara no centro e mais escura nas bordas. As leves duplicações na imagem criam um céu fumegante e a linha do chão, de onde partem as torres, tem um efeito levemente borrado. Prearo constrói uma estação com torre e antenas, num planalto cercado por montanhas, que projetam no ar as formas estranhas; a imagem parece carregada pelo efêmero pó das tempestades de areia. Mas, olhando mais atentamente para imagem, conseguimos perceber sua origem: trata-se de um porto com seus altos guindastes de carga e os containers azuis e vermelhos, bem pequenos. Embaralhando a realidade para criar novas possibilidades, o artista nos conduz a planetas distantes e realidades inventadas. Tudo originalmente captado pela câmera de seu celular. Agnaldo Silva, curador da exposição, também comenta o uso do celular como ferramenta de trabalho: “[...]hoje (Prearo) limita-se a usar o que todos, fotógrafos e não fotógrafos, usam: um singelo celular, um desses prosaicos prodígios chineses, coreanos, sabe-se lá. Isso é um tripé que ele apregoa como indispensável, e o computador, a rigor um programa: Photoshop. Sim, sua poética disparou quando desfez-se das câmeras pesadas e partiu para o smartphone, rápido, portátil, eficaz, sobretudo quando se destina a produzir matéria prima a ser trabalhada no computador.” Outro poema do artista presente na exposição: Pedaços de luz vão compondo quadros da vida acordando preguiçosa. Apesar de tanta beleza me espera uma dura batalha: -inverter o tempo e enlouquecer a bússola."

Celestinas

Celestinas Lambe-lambe

Penna Prearo

Celestinas

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Celestinas Um céu estilhaçado em fragmentos azuis e brancos. O mosaico é formado por 6 linhas e 8 colunas de pequenas imagens do céu captadas por Prearo. Esse céu feito de pedaços desordenados lembra um quebra cabeça que parece não se encaixar, numa metáfora que questiona a narrativa que pode nos contar uma imagem. Em uma realidade complexa e multifacetada, até o próprio céu, que sempre foi utilizado pela humanidade para se orientar, não é mais confiável. Agnaldo Silva diz o seguinte: “A poética de Penna Prearo foi se constituindo na medida do aplacamento de sua perplexidade, olhando e respirando. Fotografar, concluiu, e traduzir num plano o caos cromático, a enxurrada de signos o profusão de acontecimentos que se dão o tempo todo e a toda volta. Tudo isso estava ao alcance de sua câmera, tudo isso podendo ser alterado, como foi percebendo durante as infinitas horas gastas revelando, ampliando, trabalhando e retrabalhando o material, entorpecidos pelo o aroma dos preparos químicos e pela luz vermelha dos antigos laboratórios analógicos.” Diferente das obras anteriores o mural das “Celestinas”, título da obra, é feito com lambe-lambe e ocupa toda uma parede da exposição no fim do percurso do labirinto. É como se saíssemos do labirinto e víssemos o céu. Mas não céu inteiro, um céu estilhaçado e manipulado. Obrigado pela visita Ficamos com um último poema: A vida pra entender: a pupila dilatada que o olhar disfarça (às vezes muda a direção); a umidade teimosa que embaça o dia.