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Imagem de capa da exposição

Ofício Barro Gabriella Marinho: Argila Griô

São Paulo

SESC - Pompeia

12/08/2024 - 08/12/2024

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Faixa 1 - Introdução

Navegação do Mapa Tátil e Introdução

Faixa 1 - Introdução

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Olá! Você está na exposição de arte contemporânea Ofício: Barro: Gabriella Marinho: Argila-Griô. Gabriella é artista, educadora e jornalista com especialização em Literatura Afrikana. Nasceu, cresceu e vive no Jardim Catarina em São Gonçalo, Rio de Janeiro. A mostra no Sesc Pompeia é sua primeira exposição individual em São Paulo e apresenta 25 trabalhos criados a partir de 2017. São esculturas, pinturas, instalações, fotografias e vídeo. Todas as obras têm a matéria e filosofia do barro como ponto de partida. A exposição é dividida em cinco eixos: Território/Barro, Corpo/Argila, Ritual, Memória e Transformação. Em cada um dos eixos você poderá ter uma experiência sensorial e conhecer mais sobre uma das obras. Em Caminhos, Pedras, Cobogó, Cascata, Maré Mexida e Engoma você poderá escutar audiodescrições e comentários da artista. Caminhos, Maré Mexida e Engoma também possuem reproduções táteis, em menor escala, feitas por ela. Além dessas, você encontra obras como Declive, Cortina, Relevo, Mosaico, Respiro, Acordelar, e Chão de barro seco quando bate o vento e muda toda terra de lugar. Convidamos você a ouvir os áudios através do QR Code tátil localizado na legenda da obra descrita, e a tocar nas reproduções que estão em bancadas próximas às suas obras originais. Todos esses conteúdos estão no aplicativo e no site do Musea, onde você também poderá descobrir um vídeo exclusivo da artista com tradução em libras. Estes recursos são um convite para você acessar a exposição de outras formas. Caso precise, peça auxílio para a equipe do educativo. Desejamos a você uma ótima visita!

Faixa 2 - Apresentação da artista

Vídeo de apresentação da artista

Faixa 2 - Apresentação da artista

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Olá, eu sou a Gabriela Marinho, sou uma mulher negra de pele escura, olhos castanhos escuros, dreadlocks abaixo dos ombros, castanhos escuros também, sorriso largo, boca grande, nariz largos, também. Estou vestindo uma blusa de gola rolê, branca, argolas grandes, tenho 1,70m de altura e 30 anos de idade. [Aqui Gabi molda a argila terracota, partindo de um bloco cilíndrico maciço de barro marrom avermelhado, amassa e transforma em placa fina. Ao juntar as pontas, a peça se torna um cilindro vazado. É o início da obra Respiro]. A exposição Ofício: Barro: Gabriella Marinho: Argila-Griô traz uma trajetória do barro enquanto materialidade, atrelada também às técnicas que vêm sendo desenvolvidas ao longo da história e como essa interação com nós enquanto indivíduos e também quanto coletivo conseguimos imprimir na cerâmica e na escultura possibilidades de sugestões de mundo. [Griô é como são chamados os contadores de histórias e guardiões da tradição oral na África ocidental. Qualificar a argila como griô é torná-la protagonista na transmissão da própria história]. A exposição é um percurso dentro dessa história e eu convido as pessoas a absorverem as técnicas a serem usadas, mas também o que vem por trás dessas técnicas. Como o solo, enquanto possibilidade de território, também se transforma por si só. E aí a gente tem o início com painéis pintados a seco, com pigmentos naturais, em que eu começo a convidá-los a traçar esse caminho, que é físico, mas também metafórico, e a partir disso a argila começa a se transformar com a interação com a natureza. Então, a partir do momento que a argila, o barro, entra em contato com outros elementos da natureza e ele transforma não só a nós, mas também o próprio território. E, a partir disso, a gente começa a construir memórias afetivas que também são registros históricos. E aí a gente entra no eixo de transformação, que é eixo em que eu trago e convido as pessoas, mais uma vez, a refletirem sobre a sua própria história, trazendo elementos da própria casa, elementos que fazem parte do senso comum das comunidades, principalmente suburbanas e periféricas aqui no Brasil. A partir disso, a gente entra num ambiente um pouco mais abstrato e transformador, não só na própria feitura do trabalho artístico, mas também no material a ser usado, levando em consideração que existem diferentes possibilidades de manuseio de argila, de cores de argila e de formas de construção do próprio material. Então a gente começa com a terracota, passa por diferentes cores e chega num momento mais abstrato que vem com a porcelana. E aí é convite a desmistificar um pouco essa ideia da linearidade, da sutileza da porcelana em si, que é do senso comum, mas que também traz, eu acho que, para a gente, uma... Uma contradição. Eu acho que quando a gente enxerga o trabalho e o material, quando ele é usado de uma forma que não é comum, acho que isso desperta no artista que produz e também no público que tem acesso, uma nova possibilidade de criação. Então esse Eixo Transformação também fala sobre isso. Como a gente consegue sair da zona de conforto enquanto artista, no meu caso, e enquanto espectador, enquanto a pessoa que interage com o trabalho artístico. A gente tem uma instalação interativa que também traz essa sugestão de sair da zona de conforto, mas que conversa com outros elementos sensoriais. A argila tem como principal possibilidade o tato, a sensação tátil, mas nessa instalação a gente convida vocês a também ouvirem o som do barro e é uma imersão e é um mergulho nesse som que vem acompanhado também da escultura e da materialidade. Para encerrar o circuito, eu convido as pessoas a enxergarem a utilidade da cerâmica como uma possibilidade também de... Uma possibilidade de interpretação estética. Eu entendo que, com o passar do tempo, a cerâmica passou a ser identificada única e exclusivamente como uma possibilidade utilitária. Mas desde o princípio, desde os primeiros surgimentos de objetos de cerâmica, a utilidade sempre foi atrelada à estética. Então, a gente encerra a exposição com um díptico que se chama Desenho Topográfico, em que são vasos que são delineados e desenhados de acordo com a linearidade e as oscilações da terra. Então é a utilidade atrelada ao registro do próprio território, também atrelada a uma memória que é estética. Então a exposição, ela une, eu acho que essas duas possibilidades que a argila tem, que é de se estabelecer e nos estabelecer enquanto indivíduos e também de trazer um frescor na possibilidade de criação a partir da escultura. E é isso que vocês vão encontrar em Argila-Griô, no Sesc Pompeia. A exposição conta com recurso de acessibilidade. Algumas obras têm audiodescrição e três delas têm reprodução tátil para qualquer pessoa interagir. Todas elas são acompanhadas de uma legenda de audiodescrição em que você pode acessar com QR Code. E um fato interessante é que todas essas obras foram produzidas também por mim. Então, é mergulho de fato a tudo que a exposição tem a oferecer.

Faixa 3 - Texto curatorial por Renata Felinto

Faixa 3 - Texto curatorial por Renata Felinto
Faixa 3 - Texto curatorial por Renata Felinto

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Trechos do texto curatorial que está disponível completo em pdf acessível no aplicativo e site do Musea. Gabriella Marinho: Argila-Griô Escutar a Argila: respeitar a mais velha Por Renata Felinto, 2024 Trecho 1: Ofício: Barro: Gabriella Marinho: Argila-Griô revisita e restitui às tradições do barro, em suas muitas versões imaterial míticas e material artísticas que são convergentes, e não divergentes, o lugar de reverência, pioneirismo e atemporalidade que deve ser assegurado pelas narrativas históricas acerca da humanidade ao tratarmos dessa substância. Juntamente a isso, nos convida a testemunhar sobre a perenidade da Argila no campo da criação artística tendo como elo as obras de Gabriella Marinho, que por sua vez, nos cativam à escuta dessa Senhora Argila, cujas virtudes atuam no mundo, anteriormente à consciência da nomeação do mundo e do que há nele, de um tempo em que tudo era barro. Dado esse panorama, a primeira exposição individual da artista em São Paulo, Ofício: Barro: Gabriella Marinho: Argila-Griô concebida para o galpão de Oficinas de Criatividade do SESC Pompeia, busca verter e explicitar a incumbência assumida pela artista-educadora-pesquisadora, de posicionar a cerâmica e seus desdobramentos como uma potente expressão da arte do passado e do tempo presente. Logo, são apresentados 26 trabalhos, criados a partir de 2017, que nos permitem adentrar aos processos criativos geradores de uma poética genuinamente afro-referenciada urdida por Gabriella Marinho, acrescida à exaltação da importância incontornável e versátil do barro. Trecho 2: Nascida no Jardim Catarina na cidade de São Gonçalo, na Grande Rio de Janeiro, formada em Comunicação com ênfase em Jornalismo, essa mobilização pessoal a partir do contato com um romance no qual existe o protagonismo do território como marcador de identidade cultural, a reconectou às suas vivências familiares no trato com a artesania desenvolvida pela linhagem materna como trabalho a ser comercializado (...). (...) a artista optou por manejar a sua relação com a Argila orientando-se pelos desafios que se apresentaram durante esse processo, aprendendo organicamente as técnicas próprias dessa linguagem ancestral, isto é, conforme seus interesses a direcionavam. Sistematizando ela mesma, como artista-educadora-pesquisadora que é, as etapas de aprendizagem que lhe conferiam o domínio dessa tecnologia a fim de, através dela, elaborar conceitos e formas para as obras que vem desenvolvendo (...). Ainda que a pesquisa de Gabriella Marinho esmere-se à pluralidade de finalidades da Argila e à historicidade dessa substância, é de extrema pertinência que a artista circule por suportes diversos e que, a partir disso, questione a hierarquia e delimitação de linguagens, uma vez que equivocadamente, a produção com a Argila é situada como restrita e não pertencente à contemporaneidade das artes visuais. Trecho 3: Reexaminar a história mediada pela Argila e impulsionada pelas lentes advindas da leitura do livro “Luuanda”, de José Luandino Vieira, escritor português radicado em Angola, transportou a artista visual e educadora fluminense Gabriella Marinho para sua experiência de infância e juventude. Durante a sua especialização em Literaturas Afrikanas, seu interesse voltou-se para a autoria angolana na arte das letras. Na obra literária, Vieira traz três histórias que orbitam em torno dos musseques, palavra derivada do kimbundu (...), segunda língua mais falada em Luanda, capital de Angola cujo significado é terra vermelha (...). A terra vermelha na qual a população organiza a suas moradas vulneráveis em Luanda, se assemelha à terra vermelha também existente em muitas localidades fragilizadas Brasil afora, cujo contexto de vida precarizada também enuncia as falhas da proposta colonial nos territórios invadidos e explorados por europeus (...). O cenário do desenrolar das histórias fabuladas por José Luandino Vieira a partir dos musseques, do cotidiano dessas coletividades que embora tenham seus enfrentamentos em relação aos acessos básicos, convivem esperançosas de melhorias vindouras, contribuíram na recondução de projetos de vida de Gabriella Marinho, especialmente no que se refere à sua vida profissional (...). Gabriella Marinho acolheu como motes criativos suas memórias afetivas somadas à herança artística advinda das mulheres de suas família, em outros termos, incorporando a educação informal tão presente nas formações de pessoas não brancas, do mesmo modo o reconhecimento de seu território como extensão dos musseques angolanos num contexto colonialista e afro-diaspórico.

Faixa 4 - Eixo Território: Caminhos

Faixa 4 - Eixo Território: Caminhos
Faixa 4 - Eixo Território: Caminhos
Faixa 4 - Eixo Território: Caminhos
Faixa 4 - Eixo Território: Caminhos

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Caminhos, 2023/2024 Série de 18 pinturas feitas com combinações de terras coloridas, originárias de regiões brasileiras e africanas, que Gabriella Marinho passou. Nas telas, de tamanhos variados, formam-se caminhos com linhas curvas e onduladas, faixas de terras de espessuras largas e finas. Preenchem a tela. Sensação de movimento. Cada linha ou faixa tem sua própria cor e elas variam em tons de terracota, preto, bege, creme, marrom, verde e laranja. Na maioria dos quadros, as linhas atravessam as telas de uma extremidade a outra, não possuem início nem fim, são percursos traçados pelo encontro de territórios. Quais são as terras dos territórios dos quais você faz parte? Esta série faz parte do Eixo Território/Barro. O QUE MAIS A ARTISTA NOS CONTA: A série Caminhos é desdobramento de uma pesquisa que começou em 2018. Eu comecei a coletar diferentes amostras de barros dos lugares que eu ia, no entorno do meu território, e a partir disso eu comecei a entender que a dimensão estética está atrelada também à dimensão ética da obra de arte e da própria terra em si. E esse trabalho foi materializado em Luanda, numa residência que fiz em 2023, em que fiz exatamente esse mesmo processo. Eu coloquei terras de diferentes lugares, lá de Luanda, e apliquei no painel de algodão cru. Então, foi o ponto de partida lá, e na exposição decidi dar continuidade numa outra escala. E é por isso que o nome da série, é Série Caminhos. Ela é literalmente uma impressão, uma aplicação dos caminhos que eu venho percorrendo nos últimos tempos. E isso é interessante perceber porque a própria paleta de cores define quais caminhos estão sendo seguidos na própria tela. E nas legendas, a gente vai aplicar cada cor em uma tela justamente para as pessoas conseguirem identificar as texturas desses fragmentos que também diferenciam a cor, né? Cada cor tem uma textura diferente e é isso que vai ser apresentado na exposição. Amarelo é Maranhão, Vermelho São Gonçalo, Vermelho Cintilante Búzios, Laranja Teresópolis e por aí vai, assim. (O vermelho cintilante de Búzios) é uma dos campos da geologia que eles analisam e comparam com as terras de Moçambique. E aí é uma praia que a areia é muito fina, mas ela tem muitos fragmentos coloridos. E aí quando eu aplico isso na praia, você consegue ver a cintilância. Mas quando aplica isso sobre a tela, você... Nossa, fica brilhando muito, assim. E aí é meio que uma forma que eu encontrei de trazer também essa relação de travessia, que não é na verdade só de travessia, também é de conexão e desconexão ali do próprio continente.

Faixa 5 - Eixo Corpo/Argila: Pedras

Faixa 5 - Eixo Corpo/Argila: Pedras
Faixa 5 - Eixo Corpo/Argila: Pedras

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Pedras, 2022/2024 Duas esculturas feitas com pedras empilhadas estão cortadas ao meio e suspensas na parede, lado a lado. Cada escultura, de um metro de altura, equilibra verticalmente pedras feitas de cerâmica e rochas com tamanhos, cores, texturas e formatos variados. A escultura da esquerda tem a base larga, como uma saia comprida redonda. As três pedras do meio são pequenas e equilibram a última que é grande, em formato de um cesto. Na escultura à direita, a primeira pedra de baixo, em cone, é seguida por duas pedras disformes, sobre elas uma pedra achatada pequena que equilibra a pedra do topo em formato de vaso. Pedra em cima de pedra se sustentam na instabilidade das formas. Lembram figuras de mulheres que equilibram baldes, bacias e latas d’águas na cabeça. Esta série faz parte do Eixo Corpo/Argila. O QUE MAIS A ARTISTA NOS CONTA: Dei início a esse trabalho numa residência que eu fiz em Taiwan, na Ásia. O eixo principal dessa residência era a relação territorial mesmo, as semelhanças entre Taiwan e Brasil. Como essa distância, ao mesmo tempo que traz uma diferença muito grande cultural, ainda assim tem algum tipo de conexão. E aí eu fiz uma alusão, esse trabalho é uma alusão, tanto às pedras que são empilhadas geralmente nas cachoeiras, principalmente no Rio, que é um lugar que eu desbravo mais, mas eu entendo que isso é muito do Brasil. E, quando eu cheguei lá, eu encontrei muitas pedras nas construções das próprias casas, na rua, e são pedras muito parecidas, pedras polidas mesmo, parecendo pedras de rio. E eu já estava buscando uma reflexão sobre a relação de peso e volume da própria cerâmica, porque geralmente é pesado. A gente encontra... Quando a gente se depara com uma obra em cerâmica muito grande, a gente já associa que aquilo é uma coisa muito pesada. E aí é um jogo de equilíbrio, literalmente. Eu pego essas pedras, construo elas com a própria cerâmica e suspendo uma em cima da outra e trago esse equilíbrio. Por isso que o nome... Na verdade, a primeira edição é Rock Stone Sea, que é pedra, rocha e mar, que é justamente unindo esses elementos e aqui eu trago uma série de pedras, que são pedras empilhadas e suspensas na parede.

Faixa 6 - Eixo Ritual: Cobogó

Faixa 6 - Eixo Ritual:  Cobogó
Faixa 6 - Eixo Ritual:  Cobogó

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Cobogó, 2023/2024 Cinco cobogós de cerâmica, cobertos por redomas de acrílico, estão sobre um balcão. Cada peça é única, são quadrados vazados e em seu interior estão moldadas curvas, dobras e ondulações. Lembram labirintos. As cinco peças de argila terracota estão dispostas lado a lado, em um balcão comprido com a superfície em degraus assimétricos. Umas mais altas, outras um pouco mais baixas, e todas protegidas por suas redomas transparentes. Cobogós são blocos vazados presentes em muitas construções e utilizados na arquitetura brasileira desde 1929. São estéticos e funcionais, tanto por sua variedade de desenhos, como por criarem paredes que permitem ventilação e luminosidade. Esta série faz parte do Eixo Ritual. O QUE MAIS A ARTISTA NOS CONTA: A cerâmica, para mim, é muito sobre registro histórico, muito sobre memória, como a gente aplica ali o que a gente sintetiza da nossa memória e eterniza isso no material. E aí eu percebo também que a cerâmica foi perdendo e vem perdendo com o tempo a singularidade da artesania mesmo. Tudo passa a ser uma grande linha de produção, uma grande fôrma ou várias formas diferentes que são reproduzidas. E aí também é uma provocação a quebrar com essa linha de produção. Então são cobogós feitos individualmente e que as formas que são encontradas neles não são formas lineares e geométricas, são formas orgânicas. Então é uma forma de eu resgatar essa memória afetiva do cobogó, que a gente encontra em praticamente todos os lugares, mas trazendo uma provocação até que ponto realmente é interessante pensar só na industrialização do material, né? Até que ponto a gente também pode pensar na individualidade da própria peça, né? Isso que eu acho que deixa ela com uma potência maior, assim, e essa série é isso.

Faixa 7 - Eixo Memória: Cascata

Faixa 7 - Eixo Memória:  Cascata
Faixa 7 - Eixo Memória:  Cascata

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Cascata, 2024 Cascatas geralmente se referem a quedas d'água. Aqui, nesta obra instalativa, o que mimetiza cair sobre nós são peças de porcelana rústica brancas. Aproximadamente 30 peças de porcelana são suspensas por fios no teto. O público caminha por baixo delas, e precisa olhar para cima de suas cabeças para ver a obra. Cada peça tem um formato único, partindo de uma forma cônica básica, mas ganhando contornos orgânicos. A marca dos rastros da mão da artista fica registrada e as ondulações da superfície não nos deixam esquecer do trabalho manual. As peças têm entre 25 a 30 cm de diâmetro e caem como cascata sobre o público, propondo outros modos de ver uma obra de arte. A porcelana é comumente vista como algo delicado, sutil, mas a artista revela a faceta mais crua e rústica do material. Esta obra faz parte do Eixo Memória. O QUE MAIS A ARTISTA NOS CONTA: Essa obra é uma obra instalativa também, suspensa. Eu gosto muito de convidar as pessoas a interagirem com a obra de outro ponto de vista, literalmente falando. Quando vamos ao espaço expositivo, o costume é enxergar de frente a obra. E eu entendo que a escultura, apesar de em alguns momentos ser plana, já é convite para você conseguir enxergar de outros ângulos. E aí essa obra se chama Cascata, que é uma série de pendentes mesmo, dispostos, espalhados em porcelana, que justamente são mais rústicos, essas esculturas são mais rústicas justamente para provocar as pessoas a entenderem que a porcelana não há uma regra específica de utilização dela. Eu acho que é interessante reverenciar, principalmente, a Ásia por enfatizar esse traço fino do material, mas também é interessante pensar que isso não é uma regra. Isso pode ser reinterpretado e recolocado ali no espaço expositivo. Então, nada mais do que isso. É uma instalação suspensa em porcelana, em que essa porcelana é apresentada de uma forma mais rústica, justamente pra gente se surpreender um pouco com a versatilidade do material.

Faixa 8 - Eixo Transformação: Engoma

Faixa 8 - Eixo Transformação: Engoma
Faixa 8 - Eixo Transformação: Engoma
Faixa 8 - Eixo Transformação: Engoma

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Engoma, 2018/2024 Engoma 2018/2024 é uma escultura-pintura. A artista usa seu material protagonista, o barro, agora para pintar uma superfície de um tecido algodão cru com dois metros e meio de altura por um e vinte de largura. Uma vez que ela faz isso, o barro seca e endurece o tecido, o transformando numa peça escultural também. A primeira vista, pode parecer apenas um tecido pendurado pelas pontas superiores, mas ao chegar perto você percebe que o tecido é rígido. O algodão cru, é o material comumente usado em telas de pintura. E aqui Gabriela borra as fronteiras do que é pintura e o que é objeto escultural. Na reprodução tátil desta obra, na bancada ao lado, você consegue perceber que o caimento do tecido com a gravidade fica endurecido. Sinta as texturas, tente relembrar a textura do tecido, por baixo da camada de barro. Sinta as partes levemente rachadas e se quiser até cheire. Esta série faz parte do Eixo Transformação. O QUE MAIS A ARTISTA NOS CONTA: E aí esse trabalho, eu trago o pigmento natural como uma forma de pintura no algodão cru, só que essa pintura vira uma escultura, porque com o peso da própria gravidade esse material fica engessado. Então, é uma pintura, mas não é uma pintura. É uma tela engomada. Que é isso, né? Vamos valorizar a pintura? Isso é uma pintura, mas também não é. Que é o jeito que eu consegui encontrar até agora. Essas duas formas, na verdade, tanto a série Caminhos como o Engoma, são as duas formas que eu encontrei de trazer a pintura num outro ponto de vista. E não desvalorizando o material que eu uso, que é o barro. Às vezes, se eu transformar em aquarela, por exemplo, eu vou trazer uma característica muito mais forte de aquarela do que do barro em si. E aí esse trabalho traz isso, assim, ele é mais abstrato, mas também ele brinca com volume, densidade, peso também, que você olha e acha que é uma escultura pesada, mas é tecido super leve, apesar de grande. E é isso, assim.

Faixa 9 - Eixo Transformação: Maré Mexida

Faixa 9 - Eixo Transformação: Maré Mexida
Faixa 9 - Eixo Transformação: Maré Mexida
Faixa 9 - Eixo Transformação: Maré Mexida

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Maré Mexida, 2024 Maré Mexida de 2024 é um conjunto de três esculturas feitas em porcelana e expostas na parede lado a lado. São brancas, mas cada uma tem um formato único, uma vez que feitas a mão, jamais poderão ser copiadas pois registram o momento e os movimentos de quem a fez. Suas ondulações contornam a obra, ora passando por baixo, ora por cima uma da outra. Te convidamos a tocar na reprodução tátil na bancada próxima a obra. Comece colocando suas duas mãos sobre a escultura. Sinta a temperatura do material. Em seguida pense no que esses volumes te fazem lembrar. Para onde essas ondulações te levam? Tire um tempo pra explorar todo o diâmetro da escultura. Tente se conectar com uma maré brava, os movimentos e desenhos que só o mar é capaz de fazer. Esta série faz parte do Eixo Transformação. O QUE MAIS A ARTISTA NOS CONTA: É, a maré mexida, que ela tem dois nomes, o oficial é maré mexida, mas eu também gosto de chamar de Um punhado de inhame pilado, porque eu acho que esses dois nomes trazem o mesmo sentido. A porcelana, ela tem essa característica de ser muito mais maleável do que os outros tipos de argila. Ela é muito mais fina, ela é muito mais... Ao mesmo tempo que ela é fácil de moldar, ela é muito mais difícil de concluir porque ela realmente é mais frágil. E aí eu trago essa fragilidade que eu vejo também no mar quando ele tá revolto. A fragilidade dele mesmo e também nossa quando tem algum acesso a ele, né? Seja visualmente falando, a gente se sente super pequena, seja tentando entrar nele. E aí, Um punhado de inhame pilado é uma referência a Orixá Oxaguian, que é o Orixá que é meu pai de cabeça, e que ele geralmente pega os inhames e macera, e isso se transforma numa massa branca bem mexida, e que também parece muito com a própria estética da obra. Então, assim, são duas interpretações que eu acho que têm o mesmo sentido quando a gente enxerga a obra, A gente vê aquele volume mexido, a gente se sente balançado pela própria oscilação do material, mas também por perceber que eu acho que é isso, né? A porcelana... Eu estou tendo hiperfoco na porcelana, assim, porque... Não sei explicar direito, mas ela... Ao mesmo tempo que ela traz leveza, ela traz peso muito grande, assim. E eu acho que a Maré Mexida é pouco sobre isso, assim. A mesma potência e força também é a vulnerabilidade, a leveza, sabe?