Menu

Acesso às principais seções do Musea

Imagem de capa da exposição

Abraham Palatnik – A Reinvenção da Pintura

Belo Horizonte

CCBB BH

02/02/2021 - 08/08/2021

Idioma do conteúdo

Texto curatorial

A Reinvenção da pintura Esta exposição tem, acima de tudo, um tom de homenagem a Abraham Palatnik (1928-2020). Queremos celebrar a obra e o legado desse artista seminal, que se dedicou intensamente ao trabalho e foi adorado por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. A sua obra caracteriza-se por uma qualidade inegável: permite não só observar as passagens do moderno ao contemporâneo, mas também reconhecer uma das primeiras associações entre arte e tecnologia no mundo. Esta exposição ultrapassa os limites da pintura e da escultura modernas, intenção que o artista manifestou claramente nos Aparelhos cinecromáticos, nos Objetos cinéticos e em suas pinturas, quando passou a promover experiências que implicam uma nova consciência do corpo. A contribuição de Palatnik para a história da arte não se dá apenas (como se isto fosse pouco) por sua posição como um dos precursores da chamada arte cinética, mas também pela leitura particular que faz da pintura e em especial pela articulação que promove entre invenção e experimentação. Seu lado “inventor” está presente em uma artesania muito particular que o deixava cercado em seu ateliê por porcas, parafusos e ferramentas construídas por ele mesmo, e não pelas tintas, imagem característica de um pintor. O crítico de arte Mário Pedrosa e o escritor Rubem Braga já afirmavam, na década de 1950, que Palatnik pintava com a luz. É importante destacar que o experimentalismo e a organicidade sobrevoam a sua trajetória, em particular a série de pinturas que utilizam a madeira como suporte e meio. A exposição também chama a atenção para mais dois aspectos importantes: a forma como o artista explora o tempo em suas obras e a sua ligação com a indústria. O movimento no espaço ativado por sua obra promove uma suspensão do tempo com o qual nos habituamos na vida moderna. Tudo se torna mais lento, delicado e preciso enquanto somos deslocados para um espaço cujas referências se perdem. Não há um centro, pois nossos olhos são constantemente intimados a percorrer os diversos percursos oferecidos. Nesta exposição reunimos todos esses momentos da obra extraordinária de Abraham Palatnik. Uma obra que oferece ao público experiências marcantes e solicita, em troca, uma entrega total. Felipe Scovino / Pieter Tjabbes CURADORES

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

A REINVENÇÃO DA PINTURA Esta exposição tem, acima de tudo, um tom de homenagem a Abraham Palatnik (1928-2020). Queremos celebrar a obra e o legado desse artista seminal, que se dedicou intensamente ao trabalho e foi adorado por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. A sua obra caracteriza-se por uma qualidade inegável: permite não só observar as passagens do moderno ao contemporâneo, mas também reconhecer uma das primeiras associações entre arte e tecnologia no mundo. Esta exposição ultrapassa os limites da pintura e da escultura modernas, intenção que o artista manifestou claramente nos Aparelhos cinecromáticos, nos Objetos cinéticos e em suas pinturas, quando passou a promover experiências que implicam uma nova consciência do corpo. A contribuição de Palatnik para a história da arte não se dá apenas (como se isto fosse pouco) por sua posição como um dos precursores da chamada arte cinética, mas também pela leitura particular que faz da pintura e em especial pela articulação que promove entre invenção e experimentação. Seu lado “inventor” está presente em uma artesania muito particular que o deixava cercado em seu ateliê por porcas, parafusos e ferramentas construídas por ele mesmo, e não pelas tintas, imagem característica de um pintor. O crítico de arte Mário Pedrosa e o escritor Rubem Braga já afirmavam, na década de 1950, que Palatnik pintava com a luz. É importante destacar que o experimentalismo e a organicidade sobrevoam a sua trajetória, em particular a série de pinturas que utilizam a madeira como suporte e meio. A exposição também chama a atenção para mais dois aspectos importantes: a forma como o artista explora o tempo em suas obras e a sua ligação com a indústria. O movimento no espaço ativado por sua obra promove uma suspensão do tempo com o qual nos habituamos na vida moderna. Tudo se torna mais lento, delicado e preciso enquanto somos deslocados para um espaço cujas referências se perdem. Não há um centro, pois nossos olhos são constantemente intimados a percorrer os diversos percursos oferecidos. Nesta exposição reunimos todos esses momentos da obra extraordinária de Abraham Palatnik. Uma obra que oferece ao público experiências marcantes e solicita, em troca, uma entrega total. Felipe Scovino / Pieter Tjabbes CURADORES

Primeiras experiências

Em 1932, com 4 anos, Palatnik sai de Natal, onde nasceu, e segue com a família para a Palestina. Realiza seus estudos escolares e a seguir estudos de mecânica e física, especializando-se em motores de explosão. Frequenta um ateliê livre de arte e passa a ter aulas de pintura e modelo-vivo. Pinta principalmente paisagens, naturezas-mortas e retratos dos seus colegas, professores e familiares. Seus primeiros desenhos são feitos a carvão e impressionam pelo traço consistente e lírico. Quando retorna ao Brasil, ainda como pintor figurativo, em fins dos anos 1940, recebe o convite do artista e amigo Almir Mavignier para visitar o Hospital Psiquiátrico Pedro II, coordenado pela dra. Nise da Silveira. Palatnik toma contato com obras de arte realizadas pelos pacientes esquizofrênicos da dra. Nise e não entende como aquelas pessoas, especialmente Raphael Domingues e Emygdio de Barros, produziam imagens tão densas sem jamais terem passado por uma escola de artes ou objetivarem qual o significado da expressão ‘arte’: “Pensava que eu era um artista formado. Resolvi começar de novo. A disciplina es- colar, de ateliê, não servia para mais nada”. É fenomenal perceber que as linhas, os gestos e a expressividade dos dois artistas criam uma conexão fecunda e pertinente com os pintores canônicos da arte moderna, em especial Paul Cézanne e Henri Matisse. Criava-se ali outro rumo para o amadurecimento e compreensão das diferentes práticas que constituíram a arte moderna brasileira. Para Palatnik, foi o momento de abandonar temporariamente os pincéis e voltar-se para o estudo do cinetismo nas artes.

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS Em 1932, com 4 anos, Palatnik sai de Natal, onde nasceu, e segue com a família para a Palestina. Realiza seus estudos escolares e a seguir estudos de mecânica e física, especializando-se em motores de explosão. Frequenta um ateliê livre de arte e passa a ter aulas de pintura e modelo-vivo. Pinta principalmente paisagens, naturezas-mortas e retratos dos seus colegas, professores e familiares. Seus primeiros desenhos são feitos a carvão e impressionam pelo traço consistente e lírico. Quando retorna ao Brasil, ainda como pintor figurativo, em fins dos anos 1940, recebe o convite do artista e amigo Almir Mavignier para visitar o Hospital Psiquiátrico Pedro II, coordenado pela dra. Nise da Silveira. Palatnik toma contato com obras de arte realizadas pelos pacientes esquizofrênicos da dra. Nise e não entende como aquelas pessoas, especialmente Raphael Domingues e Emygdio de Barros, produziam imagens tão densas sem jamais terem passado por uma escola de artes ou objetivarem qual o significado da expressão ‘arte’: “Pensava que eu era um artista formado. Resolvi começar de novo. A disciplina es- colar, de ateliê, não servia para mais nada”. É fenomenal perceber que as linhas, os gestos e a expressividade dos dois artistas criam uma conexão fecunda e pertinente com os pintores canônicos da arte moderna, em especial Paul Cézanne e Henri Matisse. Criava-se ali outro rumo para o amadurecimento e compreensão das diferentes práticas que constituíram a arte moderna brasileira. Para Palatnik, foi o momento de abandonar temporariamente os pincéis e voltar-se para o estudo do cinetismo nas artes.

Figurativo

Natureza Morta Óleo sobre tela 46 x 60 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Figurativo Em 1932, quando Palatnik tem 4 anos, sua família sai de Natal e migra para a Palestina, onde ele realiza seus estudos escolares e a seguir aprende mecânica e física, especializando-se em motores de explosão. Frequenta um ateliê livre de arte e passa a ter aulas de pintura e modelo-vivo. Pinta principalmente paisagens, naturezas-mortas e retratos dos seus colegas, professores e familiares. Retorna ao Brasil em 1948, e logo depois acontece uma grande reviravolta na sua obra, quando recebe um convite de Almir Mavignier para visitar o Hospital Psiquiátrico Pedro II, coordenado pela dra. Nise da Silveira: “Mavignier disse que iria me mostrar o trabalho de uns colegas, e eu fui”. Os colegas, na realidade, eram os pacientes esquizofrênicos da dra. Nise, pioneira no uso da pintura e do desenho no tratamento psiquiátrico. Palatnik não entendeu como aquelas pessoas, especialmente Raphael Domingues e Emygdio de Barros, produziam imagens tão densas sem jamais terem passado por uma escola de artes. Foi o momento de abandonar temporariamente os pincéis, mas isso não significou o abandono da pintura, pois ela apareceu de outras formas ao longo da sua trajetória.

Aparelhos cinecromáticos

Em 1951 o artista produziu o primeiro Aparelho cinecromático, um dos marcos da arte cinética no mundo. Utilizando motores e luzes em sua estrutura (e a primeira obra dessa série ainda possuía barbante em seu interior), o aparelho ampliava o termo “escultura” na história da arte e, ao mesmo tempo, produzia um diálogo profícuo com a pintura. O crítico de arte Mário Pedrosa afirmou, na época, que Palatnik realizava pintura com luz. Ainda naquele ano, a obra foi julgada para participação na 1ª Bienal de São Pau- lo, mas decidiu-se que não faria parte da exposição “porque não era pintura, nem escultura, não dava para encaixar”. Dias depois, em virtude da ausência da delegação do Japão, seu Cinecromático azul e roxo em primeiro movimento foi incluído na Bienal, na qual acabou ganhando menção honrosa do júri internacional. Nos Aparelhos cinecromáticos, assim como nos Objetos cinéticos, o movimento e a participação se dão de forma autônoma, mas nas pinturas de matriz construtiva de Palatnik é a mobilidade do espectador diante delas que redefine a ideia de movimento e confronta a rigidez habitual numa pintura.

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

APARELHOS CINECROMÁTICOS Em 1951 o artista produziu o primeiro Aparelho cinecromático, um dos marcos da arte cinética no mundo. Utilizando motores e luzes em sua estrutura (e a primeira obra dessa série ainda possuía barbante em seu interior), o aparelho ampliava o termo “escultura” na história da arte e, ao mesmo tempo, produzia um diálogo profícuo com a pintura. O crítico de arte Mário Pedrosa afirmou, na época, que Palatnik realizava pintura com luz. Ainda naquele ano, a obra foi julgada para participação na 1ª Bienal de São Pau- lo, mas decidiu-se que não faria parte da exposição “porque não era pintura, nem escultura, não dava para encaixar”. Dias depois, em virtude da ausência da delegação do Japão, seu Cinecromático azul e roxo em primeiro movimento foi incluído na Bienal, na qual acabou ganhando menção honrosa do júri internacional. Nos Aparelhos cinecromáticos, assim como nos Objetos cinéticos, o movimento e a participação se dão de forma autônoma, mas nas pinturas de matriz construtiva de Palatnik é a mobilidade do espectador diante delas que redefine a ideia de movimento e confronta a rigidez habitual numa pintura.

Aparelhos cinecromáticos

Aparelho cinecromático Motor, engrenagens e lâmpadas 112 x 70 x 20 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Aparelhos cinecromáticos Em 1948, instalado em um quarto cedido pelo tio em Botafogo, no Rio de Janeiro, o artista transforma esse cômodo em seu ateliê. Até 1951, dedica-se à construção do Cinecromático, que se transformará em um marco da arte cinética mundial, especialmente por ampliar as fronteiras da pintura de modo tão inesperado. Nota-se que as lâmpadas correspondem de certa forma a campos pictóricos, que até aquele momento eram associados unicamente à pintura. Para construir esse primeiro Aparelho cinecromático – que participou da 1ª Bienal de São Paulo – Palatnik desmontou um ventilador e se apropriou de seu motor. Essa obra não existe mais porque se mostrou muito precária ao longo do tempo e era grande demais. O aspecto lúdico e a forma como associa razão e intuição – ao criar um sistema interno que combinava de forma aleatória o acender e o apagar das lâmpadas coloridas com o movimento que elas realizavam numa espécie de “carrossel” – são características exploradas pela crítica ao analisar essa obra.

O ateliê

Lugar de concepção do novo e de obras artísticas que marcaram profundamente a história da arte, o ateliê de Abraham Palatnik comporta esta que é uma das grandes marcas da sua trajetória: o gosto pela artesania, em que duas atividades (artista e inventor) caminham juntas. O rigor evidente em sua obra é sublinha- do por algo fantástico, que encanta os nossos olhos em poucos instantes. Seu ateliê nos mostra o quanto esteve à frente de seu tempo, envolvido com a tecnologia e também com a intuição. Ciência e subjetividade lado a lado. Parafusos e pregos convivendo com aparatos eletrônicos criados pelo próprio artista. Nos permite também imaginar a continuidade dessa pesquisa nos dias atuais, a sua busca permanente pelas ramificações desse estudo pioneiro que realizou. É um lugar mágico que pode ser confundido com um ateliê e, também, com uma oficina. Espaço para a invenção, mas fundamentalmente ali foram — e continuam sendo — realizadas operações artísticas que culminaram em um legado fundamental para a arte cinética, como é o caso dos célebres Aparelhos cinecromáticos e dos Objetos cinéticos. O espaço de trabalho de Abraham Palatnik é caracterizado pelo o uso de materiais industriais e ao mesmo tempo muito próximos do nosso cotidiano, aliado a um estudo radical sobre o espaço em movimento, é resultado de uma mente espantosamente criativa e de uma práxis que se encaminha pelo modo quase artesanal de conceber as suas obras.

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

O ATELIÊ Lugar de concepção do novo e de obras artísticas que marcaram profundamente a história da arte, o ateliê de Abraham Palatnik comporta esta que é uma das grandes marcas da sua trajetória: o gosto pela artesania, em que duas atividades (artista e inventor) caminham juntas. O rigor evidente em sua obra é sublinha- do por algo fantástico, que encanta os nossos olhos em poucos instantes. Seu ateliê nos mostra o quanto esteve à frente de seu tempo, envolvido com a tecnologia e também com a intuição. Ciência e subjetividade lado a lado. Parafusos e pregos convivendo com aparatos eletrônicos criados pelo próprio artista. Nos permite também imaginar a continuidade dessa pesquisa nos dias atuais, a sua busca permanente pelas ramificações desse estudo pioneiro que realizou. É um lugar mágico que pode ser confundido com um ateliê e, também, com uma oficina. Espaço para a invenção, mas fundamentalmente ali foram — e continuam sendo — realizadas operações artísticas que culminaram em um legado fundamental para a arte cinética, como é o caso dos célebres Aparelhos cinecromáticos e dos Objetos cinéticos. O espaço de trabalho de Abraham Palatnik é caracterizado pelo o uso de materiais industriais e ao mesmo tempo muito próximos do nosso cotidiano, aliado a um estudo radical sobre o espaço em movimento, é resultado de uma mente espantosamente criativa e de uma práxis que se encaminha pelo modo quase artesanal de conceber as suas obras.

Cinecromático aberto

Aparelho cinecromático em construção Lâmpadas, madeira e motor 49 x 16 x 68 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Cinecromático aberto Eis a possibilidade de assistirmos às “entranhas” do Cinecromático. A construção do objeto que está diante de nós teve início em 2004 e acabou não sendo finalizada. Como a tela que separa as lâmpadas e o seu mecanismo de rotação e funcionamento não foi instalada, o “esqueleto” da obra fica à mostra para nossa investigação. Percebemos a engenharia própria de Palatnik: o uso de objetos ordinários e baratos (lâmpadas, hastes metálicas, fios elétricos), as cores das lâmpadas que formulam o seu pensamento pictórico, marcações com números que demonstram as futuras articulações motoras e, finalmente, uma placa ou comando de madeira, que se assemelha à CPU de um computador. Esta última, como todo elemento de sua obra, foi desenvolvida pelo artista de forma artesanal, e é ela que realiza as combinações e os movimentos aleatórios dos jogos de luzes.

Design

Palatnik dinamizou a arte concreta para além de seu campo usual e integrou-a à vida cotidiana por intermédio do mobiliário. Em 1954 criou com seu irmão uma fábrica de móveis chamada Arte Viva, que funcionou até meados da década seguinte. Foram produzidos vários tipos de mesas com tampos de vidro pintados pelo artista, além de poltronas, cadeiras e sofás. A experimentação que guiava o seu trabalho no ateliê foi deslocada também para a fábrica. Na década de 1970 Palatnik e o irmão inauguraram a Silon, que produziu em larga escala objetos de design tendo principalmente os animais como tema. De alguma forma a obra só poderia adquirir um sentido pleno e integral se alcançasse a vida, a rotina e o uso mais comum do cidadão. O vislumbre das possibilidades cinéticas foi além das potencialidades da luz, mas no exercício de uma pesquisa sobre as qualidades do movimento e do tempo. Em 1959 o artista produziu Mobilidade IV; em 1962 criou o jogo de tabuleiro Quadrado perfeito, e em 1965 executou Objeto lúdico. São jogos que exibem os dois interesses do artista naquele momento: a pesquisa cada vez mais diversificada sobre as qualidades cinéticas e a exploração de um território de multiplicidade e disseminação dessa produção na sociedade. Nas décadas de 1950 e 1960 Palatnik desenvolveu também uma série de máquinas com vinculação industrial, como a de quebrar coco de babaçu e dispositivos para a alimentação de máquinas produtoras de farinha de peixe. A pedido do amigo e artista Ivan Serpa, desenvolveu uma tela com preparo especial que permite melhor absorção da tinta, mantendo as cores em sua tonalidade original, evitando rachaduras.

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Design Palatnik dinamizou a arte concreta para além de seu campo usual e integrou-a à vida cotidiana por intermédio do mobiliário. Em 1954 criou com seu irmão uma fábrica de móveis chamada Arte Viva, que funcionou até meados da década seguinte. Foram produzidos vários tipos de mesas com tampos de vidro pintados pelo artista, além de poltronas, cadeiras e sofás. A experimentação que guiava o seu trabalho no ateliê foi deslocada também para a fábrica. Na década de 1970 Palatnik e o irmão inauguraram a Silon, que produziu em larga escala objetos de design tendo principalmente os animais como tema. De alguma forma a obra só poderia adquirir um sentido pleno e integral se alcançasse a vida, a rotina e o uso mais comum do cidadão. O vislumbre das possibilidades cinéticas foi além das potencialidades da luz, mas no exercício de uma pesquisa sobre as qualidades do movimento e do tempo. Em 1959 o artista produziu Mobilidade IV; em 1962 criou o jogo de tabuleiro Quadrado perfeito, e em 1965 executou Objeto lúdico. São jogos que exibem os dois interesses do artista naquele momento: a pesquisa cada vez mais diversificada sobre as qualidades cinéticas e a exploração de um território de multiplicidade e disseminação dessa produção na sociedade. Nas décadas de 1950 e 1960 Palatnik desenvolveu também uma série de máquinas com vinculação industrial, como a de quebrar coco de babaçu e dispositivos para a alimentação de máquinas produtoras de farinha de peixe. A pedido do amigo e artista Ivan Serpa, desenvolveu uma tela com preparo especial que permite melhor absorção da tinta, mantendo as cores em sua tonalidade original, evitando rachaduras.

Poltrona

Poltrona Tinta friável sobre vidro 65 x 57 x 80 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Design Palatnik dinamizou a arte concreta para além de seu campo usual e integrou-a à vida cotidiana por intermédio do mobiliário. O que a Bauhaus defendia – um circuito envolvendo a prática artística com a eficiência industrial – de certa forma foi colocado em prática pelo artista e por outros colegas de geração. Em 1954 Palatnik criou com seu irmão Aminadav uma fábrica de móveis chamada Arte Viva, que funcionaria até meados da década seguinte. Foram produzidos vários tipos de mesa com tampos de vidro pintados pelo artista, além de poltronas, cadeiras e sofás. A experimentação que guiava o seu trabalho no ateliê foi deslocada também para a fábrica. Na década de 1970 Palatnik e o irmão inauguram a Silon, produzindo em larga escala objetos de design que tinham principalmente os animais como tema. Em entrevista a Frederico Morais em 1981, o artista afirma que “as indústrias deveriam convocar artistas plásticos porque eles possuem um potencial perceptivo que pode resolver muitos problemas”.

Sem título

Tinta friável sobre vidro 70 x 70 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

SEM TÍTULO - 1959 Tinta friável sobre vidro Obra de 70 centímetros de altura por 70 centímetros de largura. A obra é quadrada e apresenta uma pintura sobre vidro. Seu fundo é preto na parte superior e central e a parte inferior vai ficando azul arroxeada num curto degradê entre o preto e o azul. Na parte superior da tela há uma volumosa forma amarela composta por uma grossa faixa pincelada que sai da borda superior, se estende quase até o meio da obra, faz uma curva e volta para a parte superior até atingir novamente esta borda. Essa faixa amarela forma uma espécie de letra “U” meio disforme. Dentro da curva na parte inferior da grossa faixa amarela, na parte de baixo desse “U”, se forma uma curva virada para baixo, no movimento contrário da faixa amarela principal. Dentro da faixa amarela, e desta forma secundária virada para baixo, há mais de 30 finas linhas pretas paralelas e contínuas que acompanham o movimento das faixas. As bordas da faixa amarela que forma o “U” têm uma tonalidade avermelhada. Na parte central da tela há uma faixa azul arroxeada, também preenchida pelas dezenas de finas linhas pretas paralelas. Essa faixa azul sai da borda esquerda da obra, se estende para o centro e, ao chegar na altura da curva inferior da faixa amarela, faz uma suave curva para baixo e se divide em duas, formando uma bifurcação. Uma das divisões segue no sentido vertical, em uma suave curva, que desvia da faixa amarela até desaparecer na borda direita da tela. A outra divisão da faixa azul segue uma suave curva horizontal e para abruptamente quando o fundo da tela passa do preto para o azul arroxeado. A parte inferior da tela se subdivide em duas: a parte de cima é mais suave e varia levemente em tons de azul. A parte inferior, no rodapé da obra, é uma faixa reta de um azul maciço e sem variações. Na parte superior desta zona azulada, há uma forma composta por suaves e sinuosas linhas vermelhas paralelas. Deste modo, com alguma liberdade interpretativa, é possível dizer que a parte de azul maciço seria o chão, que a linha que subdivide esta parte azul é a linha do horizonte e que as linhas sinuosas vermelhas formam uma espécie de caverna em meio à névoa, que é formada por esse azul mais suave. Acima de tudo isso está a região de fundo preto, que ocupa a parte central e superior da obra e evoca uma noite escura, cruzada por uma faixa azulada e, sobre essa faixa, há uma forma amarelo avermelhada que pode ser entendida como uma referência solar em meio à escuridão da noite. De qualquer forma, esta é uma maneira subjetiva de materializar a imagem abstrata que a obra apresenta.

Objetos lúdicos/Jogos

Quadrado perfeito Tabuleiro de madeira, peças de resina poliéster 37.0 x 37.0 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Objetos lúdicos / jogos De alguma forma a obra de Palatnik só adquiriria um sentido pleno e integral se alcançasse a vida, a rotina e o uso cotidiano. O vislumbre das possibilidades cinéticas vai além das potencialidades da luz, mas no exercício de uma pesquisa sobre as qualidades do movimento e do tempo. Em 1959 ele produz Mobilidade IV, um jogo em formato de caixa no qual bolinhas de metal têm a sua dinâmica acionada por eletroímãs; em 1962 cria o jogo de tabuleiro Quadrado perfeito. Trata-se de um jogo baseado no deslocamento de peças sobre um tabuleiro semelhante ao que se usa no xadrez. No entanto, difere na medida em que não existem peças a serem capturadas ou xeque-mate, tampouco uma posição inicial rígida. Seu jogo pede mais percepção que raciocínio. Em 1965, executa ainda Objeto lúdico. São jogos criados para seus filhos que exibem os dois interesses do artista naquele momento: a pesquisa cada vez mais diversificada sobre as qualidades cinéticas e o fato de que a ideia de “jogo” é algo que domina de ponta a ponta a sua obra, no sentido de que estamos sempre operando programas preestabelecidos de fazer e desfazer movimentos.

Objetos cinéticos

Em 1964 Abraham Palatnik deu início aos Objetos cinéticos, formados por hastes ou fios metálicos,tendo em suas extremidades placas em madeira com formas de figuras geométricas que se movimentam de maneira lenta, acionados por motores e, em alguns casos, por eletroímãs. Se nos Aparelhos cinecromáticos a parte eletromecânica não fica aparente ao espectador, nos Cinéticos parte dessa estrutura é visível. Esta série consolida a obra de Palatnik como uma das mais importantes do mundo e a aproxima de artistas como Calder, Moholy-Nagy, Miró e Soto, ao mesmo tempo em que inaugura uma nova pesquisa sobre a prática das linguagens construtivas no Brasil. Sua obra recorre ao movimento para criar uma forma no espaço, além de ampliar as fronteiras, agora fluidas, entre pintura e escultura. São movimentos que possuem um tempo distinto daquele que experimentamos no dia a dia, pois nos oferecem a possibilidade do repouso e da delicadeza; somos suspensos no tempo e no espaço pelo encantamento que esses objetos sedutores e hipnóticos nos revelam. A forma como a tecnologia opera na obra de Palatnik é bem particular. O artista não abre mão da artesania, exemplificada pelo uso de materiais como vidro, barbante, cartão e hastes metálicas, elementos baratos e abundantes no comércio varejista e popular que nesta série realizam um procedimento de alto valor poético.

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

OBJETOS CINÉTICOS Em 1964 Abraham Palatnik deu início aos Objetos cinéticos, formados por hastes ou fios metálicos,tendo em suas extremidades placas em madeira com formas de figuras geométricas que se movimentam de maneira lenta, acionados por motores e, em alguns casos, por eletroímãs. Se nos Aparelhos cinecromáticos a parte eletromecânica não fica aparente ao espectador, nos Cinéticos parte dessa estrutura é visível. Esta série consolida a obra de Palatnik como uma das mais importantes do mundo e a aproxima de artistas como Calder, Moholy-Nagy, Miró e Soto, ao mesmo tempo em que inaugura uma nova pesquisa sobre a prática das linguagens construtivas no Brasil. Sua obra recorre ao movimento para criar uma forma no espaço, além de ampliar as fronteiras, agora fluidas, entre pintura e escultura. São movimentos que possuem um tempo distinto daquele que experimentamos no dia a dia, pois nos oferecem a possibilidade do repouso e da delicadeza; somos suspensos no tempo e no espaço pelo encantamento que esses objetos sedutores e hipnóticos nos revelam. A forma como a tecnologia opera na obra de Palatnik é bem particular. O artista não abre mão da artesania, exemplificada pelo uso de materiais como vidro, barbante, cartão e hastes metálicas, elementos baratos e abundantes no comércio varejista e popular que nesta série realizam um procedimento de alto valor poético.

Objetos cinéticos

Objeto cinético C5 Motor e engrenagens 100 x 70,6 x 16 m

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Objetos cinéticos A partir de 1964 Palatnik começa a produzir a série icônica dos Objetos cinéticos. É como se de alguma maneira ele deslocasse o mecanismo interior dos Cinecromáticos, com suas chapas, hastes e motores, para a visualidade externa. A obra de Palatnik cria uma forma no espaço pelo movimento, além de confundir e ampliar as fronteiras, agora fluidas, entre pintura e escultura. A relação entre arte e tecnologia, as novas conquistas da ótica e a virtualidade da imagem também se fazem presentes nos Objetos cinéticos. As chapas e hastes são suspensas como varetas, criando curvas sinuosas e figuras geométricas, articuladas de modo que apesar de se movimentarem por meio de um motor, variam em sua velocidade e direção. A forma como a tecnologia opera na obra de Palatnik é bem particular. Seja nos Aparelhos cinecromáticos, nos Objetos cinéticos ou nas suas pinturas, o artista não abre mão da artesania, de certa gambiarra que pode ser ilustrada por meio de materiais como vidro, barbante, cartão e hastes metálicas.

Objeto cinético

Objeto cinético CK8 Tinta, madeira, fórmica, metal, motor e engrenagens 120 x 40 x 40 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

OBJETO CINÉTICO CK-8 - 1966 e 2005 Tinta, madeira, fórmica, metal, motor e engrenagens 120 centímetros de altura por 40 centímetros de largura por 40 centímetros de profundidade Criados a partir de 1964, os objetos cinéticos são movidos por motores ou eletroímãs que acionam hastes de diferentes formatos e tamanhos com formas geométricas em suas extremidades. Em muitas dessas peças, a parte eletrônica que realiza o movimento da obra fica parcialmente visível, deixando mais evidente a relação entre arte e tecnologia presente na poética do artista. Por outro lado, o tempo em que seus objetos funcionam foge da noção que temos do tempo de uma máquina, o tempo mecânico, pois cada forma que os compõe têm seu ritmo próprio e movimenta-se lentamente em direções distintas das demais. Por esse motivo, o movimento desempenhado pelos objetos cinéticos de Palatnik parece ser carregado de espontaneidade, tornando difícil associá-los a algo automático. Sobre uma base cúbica de fórmica branca de aproximadamente 20 centímetros de altura, cerca de vinte hastes metálicas se projetam para cima. Quase metade destas hastes são retas, enquanto a outra metade faz curvas em diversas direções. As hastes estão dispostas sobre a base irregularmente, todas no centro da base quadrada, de modo que as hastes curvas passam em volta de algumas hastes retas, perpassando-as, semelhante à estrutura de uma montanha russa. Em cada uma das hastes metálicas, em diversos pontos delas e em diferentes posições e sentidos, ora na ponta da haste, ora presos por um fio metálico e pendendo para baixo ou na diagonal, encontram-se formas geométricas variadas feitas em madeira e pintadas em tons de vermelho, preto, azul, amarelo, branco e prateado. Algumas dessas formas geométricas são bidimensionais, como quadrados, círculos e semicírculos, e outras são tridimensionais e esféricas. Algumas dessas formas circulares possuem uma marcação bem ao centro, ressaltando seu diâmetro, o que remete à imagem dos anéis ao redor de alguns planetas do nosso sistema solar. Essas formas presas às finas hastes metálicas, variantes em tamanho e posição, poderiam, então, além de carrinhos em uma montanha russa, ser comparadas a astros em órbita, se movendo pelo espaço, literalmente. Em um dos lados do cubo de base há um corte retangular com um puxador metálico, semelhante a uma gaveta. Ali dentro se encontram os motores e engrenagens que propiciam o movimento da obra.

Objeto cinético

Objeto cinético Tinta, madeira, fórmica, metal, motor e engrenagens 133 x 36 x 36 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

OBJETO CINÉTICO - 1965 e 2000 Tinta, madeira, fórmica, metal, motor, engrenagens e ímãs 133 centímetros de altura por 36 centímetros de largura por 36 centímetros de profundidade A obra, à primeira vista, se assemelha a uma escultura em dois níveis. No entanto, não estamos diante de uma escultura tradicional, visto que ela realiza uma ação mecânica. Palatnik constrói seus primeiros Objetos cinéticos, constituídos por hastes ou fios metálicos, tendo em suas extremidades discos de madeira, pintados de várias cores, e placas que se movimentam lenta e silenciosamente, acionados por motores e, em alguns casos, por eletroímãs. Sobre uma base quadrada de fórmica branca, de cerca de 10 centímetros de altura, se projetam cinco hastes metálicas verticais: de cada canto se projeta uma, com cerca de 50 centímetros de comprimento e, do centro, uma de aproximadamente 120 centímetros. Sobre as quatro hastes que saem dos cantos, há uma segunda placa de fórmica branca quadrada, esta mais fina, com espessura de cerca de dois centímetros. Esta fórmica marca mais ou menos o meio da obra, com a haste metálica que sai do meio da base de fórmica passando também pelo seu centro e se projetando para cima por volta de mais 60 centímetros. Presa à ponta superior dessa longa haste metálica do centro há uma fina chapa metálica horizontal da qual pendem para baixo seis fios metálicos pintados de branco. Na ponta de cada um destes fios, encontra-se uma semi-esfera vermelha de madeira, com a parte reta voltada para baixo. Da fórmica que divide a obra, por sua vez, se projetam para cima oito fios metálicos pintados de branco, três do lado esquerdo, três do lado direito e dois do centro. Os fios metálicos saem da base branca de pontos equidistantes, dispostos em três fileiras verticais, mas eles têm comprimentos diferentes e não seguem retas. Na ponta de cada um dos fios metálicos encontra-se uma pequena esfera de cor preta. Essas esferas pretas e as semi-esferas vermelhas que pendem de cima se encontram quase na mesma altura, parecendo flutuar. Da parte de baixo dessa fórmica que divide a obra, por sua vez, saem oito finos fios metálicos pintados de branco que chegam quase a encostar na base quadrada da estrutura. Na ponta de cada um deles, encontram-se semi-esferas semelhantes às que pendem do nível superior, mas pintadas de verde e azul. Elas estão dispostas simetricamente, quatro de um lado e quatro do outro, em diagonais que foram um “X”. As quatro semi-esferas exteriores são as verdes e as quatro de dentro, as azuis.

Desenho projeto objeto cinético

Projeto objeto cinético CK8 15.2 x 26.3 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

PROJETO OBJETO CINÉTICO CK8 1950/60 Obra de 26,3 centímetros de altura por 15,2 centímetros de largura Arquivo do artista A relação entre arte e tecnologia, as novas conquistas da ótica, a virtualidade da imagem e o não contentamento com a técnica pictórica do pincel também se fazem presentes nos Objetos Cinéticos, constituídos em chapas de aço ou metal. Elas são suspensas em forma de varetas, curvas sinuosas e figuras geométricas, cujas cores e formas criam um diálogo com as pinturas concretas, articuladas de tal forma que apesar de se movimentarem por meio de um motor, variam em sua velocidade e direção. A forma como a tecnologia opera na obra de Palatnik é bem particular. O artista não abre mão da artesania, de certa gambiarra que pode ser ilustrada por meio de materiais como vidro, barbante, cartão e hastes metálicas. Aqui estamos diante do rascunho, ou esboço do projeto, de Palatnik para o objeto cinético CK-8, descrito anteriormente. A lápis, sobre um papel quadriculado já manchado e amarelado devido à ação do tempo, o artista esquematiza os mecanismos complexos de sua obra extremamente inventiva. Na margem superior do papel, Palatnik escreve, da esquerda para a direita, “vergalhão de latão” e, em parênteses, “movimento”; em seguida, “CK-8” e, mais à direita, o número 11 aparece circulado. Do lado esquerdo do papel, na vertical, ele numera de 1 a 8 e acompanha cada numeral de outros números maiores ao lado. Mais abaixo, ele escreve “suportes” e anota medidas em polegadas e centímetros. No centro do papel, um pouco mais à esquerda, ele desenha a obra, com suas hastes retas e curvas, e marca as diferentes formas geométricas com as letras A, E e P. É possível, comparando este rascunho com a obra finalizada, associar a letra P às formas “planas” e a letra E às “esferas”. Ele também determina algumas das cores que estas formas terão, seja pintando-as ou escrevendo a cor, como faz logo acima de uma forma quadrada anotando “branco”. Na parte interna da base cúbica ele esboça, revelando os mecanismos internos não à mostra na obra finalizada, os motores e engrenagens da estrutura, e escreve logo abaixo “2 a 3 motores - 1TPM e 3TPM”, e circula essa anotação. À esquerda ele escreve “aço” e anota as letras A, B e C, com números ao lado de cada uma. No lado direito do papel, de cima para baixo, o artista escreve anotações para si mesmo. Ele escreve, utilizando os sinais de mais e menos, “mais ou menos 12 a 13 esferas”, “mais ou menos 14 discos” e “mais ou menos 4 a 5 recortes” e encerra cada uma destas frases com pontos de interrogação, revelando dúvidas. Abaixo disso, ele rascunha uma haste entre duas esferas, uma pequena acima, ao lado da qual ele escreve “laranja claro”, e uma maior na parte inferior marcada com a letra “A”, ao lado da qual anota “fazer teste”, “leve” e indica um material de sua escolha: “pastilha ferrite”. Ao longo da haste, ele escreve “determinar os pesos”. Abaixo da anotação sob a esfera grande, o artista ainda deixa um lembrete sublinhado: “guardar as peças”, e encerra este rascunho escrevendo na parte inferior do papel o que parece ser seu prazo: “entregar a FINK até 3/67”; abaixo disso, desenha uma seta e escreve “até dia 15” e, ao lado destas duas frases, puxa uma chave e sublinha a palavra “cancelar”. É a revelação de um processo íntimo do artista artesão, que nos permite vislumbrar como funciona sua mente ao criar. Através dessa minúcia, Palatnik atinge obras despreocupadas com o caos, nos permitindo outra relação com o tempo.

Pinturas

O interesse pela mobilidade se dá também na obra bidimensional de Palatnik. Nos Relevos progressivos, realizados a partir dos anos 1960, o sequenciamento dos cortes na superfície do material — cartão, metal ou madeira — cria ondas que variam dependendo da profundidade e da localização do corte, constituindo sua própria dinâmica. Na década de 1970 o artista realiza a série Progressões, “pinturas” formadas por faixas de jacarandá montadas ritmicamente em sequências de lâminas finíssimas. Nas Progressões com resi- na de poliéster Palatnik explora antes de tudo a transparência do material. Por meio de uma expansão horizontal, há um interesse cada vez maior em explorar a cor como forma de ampliar a ideia de espaço. Essa série apresenta uma proximidade bastante razoável com a pintura sobre vidro produzida nos anos 1950 e que foi o passo inicial para o seu envolvimento com o design e a fabricação de móveis. As Progressões também se desmembraram a partir dos anos 1990 na série W. Saiu o jacarandá, entrou a tinta acrílica. Palatnik pinta telas abstratas que servem como “modelo” para os futuros trabalhos. Em um segundo estágio, um corte a laser fatia réguas com cores e formas próximas às das telas que serviram como modelo. Depois, movimentando as varetas do “quadro fatiado” no sentido vertical, “desenhando” a futura obra, o artista constrói um ritmo progressivo da forma, conjugando expansão e dinâmica visual. Esse caráter inventivo também está na série de pinturas com barbante e tinta acrílica realizada nos anos 1980. A pintura ganha um leve volume, e este auxilia na formação de um efeito ótico que equilibra a “tecnologia precária” do barbante com uma pesquisa rigorosa e sensível sobre o cinetismo e as possibilidades de expansão da forma e da cor graças a um duplo movimento: das linhas e do espectador. E pela primeira vez é exposta a recente série Sem título, desenvolvida desde o ano passado, na qual o artista faz uso do acrílico para criar regimes de densidade e volume com esse material. O espectador experimenta uma sucessão de formas que se modificam quase imperceptivelmente no espaço e no tempo.

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

PINTURAS O interesse pela mobilidade se dá também na obra bidimensional de Palatnik. Nos Relevos progressivos, realizados a partir dos anos 1960, o sequenciamento dos cortes na superfície do material — cartão, metal ou madeira — cria ondas que variam dependendo da profundidade e da localização do corte, constituindo sua própria dinâmica. Na década de 1970 o artista realiza a série Progressões, “pinturas” formadas por faixas de jacarandá montadas ritmicamente em sequências de lâminas finíssimas. Nas Progressões com resi- na de poliéster Palatnik explora antes de tudo a transparência do material. Por meio de uma expansão horizontal, há um interesse cada vez maior em explorar a cor como forma de ampliar a ideia de espaço. Essa série apresenta uma proximidade bastante razoável com a pintura sobre vidro produzida nos anos 1950 e que foi o passo inicial para o seu envolvimento com o design e a fabricação de móveis. As Progressões também se desmembraram a partir dos anos 1990 na série W. Saiu o jacarandá, entrou a tinta acrílica. Palatnik pinta telas abstratas que servem como “modelo” para os futuros trabalhos. Em um segundo estágio, um corte a laser fatia réguas com cores e formas próximas às das telas que serviram como modelo. Depois, movimentando as varetas do “quadro fatiado” no sentido vertical, “desenhando” a futura obra, o artista constrói um ritmo progressivo da forma, conjugando expansão e dinâmica visual. Esse caráter inventivo também está na série de pinturas com barbante e tinta acrílica realizada nos anos 1980. A pintura ganha um leve volume, e este auxilia na formação de um efeito ótico que equilibra a “tecnologia precária” do barbante com uma pesquisa rigorosa e sensível sobre o cinetismo e as possibilidades de expansão da forma e da cor graças a um duplo movimento: das linhas e do espectador. E pela primeira vez é exposta a recente série Sem título, desenvolvida desde o ano passado, na qual o artista faz uso do acrílico para criar regimes de densidade e volume com esse material. O espectador experimenta uma sucessão de formas que se modificam quase imperceptivelmente no espaço e no tempo.

Relevos progressivos: Jacarandá e resina de poliéster

Sem titulo Madeira jacarandá 37 x 50,5 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Relevos progressivos: jacarandá e resina de poliéster Na década de 1970 Palatnik realiza a série Progressões, “pinturas” formadas por sequências de lâminas finíssimas de jacarandá montadas ritmicamente. Aproveitando a materialidade dos veios, nós e outras marcas naturais internas, o nosso olho percorre uma estrutura de desenhos e gestos que demarcam um corpo dinâmico naquele suporte orgânico. O artista cristaliza uma informação espontânea da natureza e a transforma em fato estético. Nas Progressões com resina de poliéster, também realizadas na década de 1970, explora antes de tudo a transparência do material. Por meio de uma expansão horizontal, há um interesse cada vez maior em explorar a cor como forma de dinamizar o espaço. Essa série apresenta uma proximidade bastante razoável com a pintura sobre vidro produzida nos anos 1950 e que foi o passo inicial para o seu envolvimento com o design e a fabricação de móveis. Podemos dizer que as Progressões também se desmembraram a partir dos anos 1990 na série “W”. Saiu o jacarandá, entrou a tinta acrílica.

Relevos progressivos: cartões

Sem título Cartão cortado 15,4 x 15,2 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Relevos progressivos: cartões Nos Relevos progressivos, realizados a partir dos anos 1960, o sequenciamento dos cortes na superfície do material – cartão, metal ou madeira – cria camadas ou ondas que variam dependendo da profundidade e localização do corte, constituindo sua própria dinâmica. O uso do papel-cartão é algo surpreendente porque a produção de relevos empregada pelo artista leva à execução de ritmos e sinuosidades de grande impacto visual. Frederico Morais alerta que Palatnik “ao invés de usar a superfície do papel, como qualquer desenhista, superpõe várias folhas, criando um aglomerado, e, em seguida cortando-as pelo topo... Seus relevos, em diferentes profundidades, resultam em estruturas óticas, em cujos interstícios a luz passa, perpassa, criando áreas mais ou menos iluminadas”. Nessa série, Palatnik opera com o vazio, a perda, o corte: o gesto mínimo que desloca o material em direção ao movimento, fio condutor de sua obra, e paradoxalmente a um olhar mais atencioso sobre o que nos circunda. São linhas que convocam a um exame mais minucioso sobre o que está diante de nós.

Relevo progressivo Y-12

Relevo progressivo Y-12 Cartão cortado 50,5 x 46 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

RELEVO PROGRESSIVO Y-12 - 1978 Cartão cortado Obra de 50,5 centímetros de altura por 46 centímetros de largura A obra, feita a partir da sobreposição de camadas de papel-cartão, diante do jogo de luz e sombra criado pelos diversos relevos e declives feitos pelo artista, apresenta, à distância, aparentes variações de tonalidades nas cores creme e cinza. De perto, no entanto, pode-se perceber que se trata de uma ilusão de ótica, tendo toda a superfície da tela a mesma cor creme. A imagem principal que se apresenta é a de sete faixas de ondas que atravessam a obra na horizontal, uma acima da outra, praticamente equidistantes. Estas faixas de ondas, que podem remeter às ondas de um eletrocardiograma, ou uma cadeia de montanhas vista de longe, seguem praticamente o mesmo padrão, da esquerda para a direita: uma onda larga inicial que cai ligeiramente depois de uns 15 centímetros; uma parte central com uma série de quatro ondas mais curtas e, por fim, chegando à borda direita, uma ascendência que se estabiliza, se encontrando praticamente reta quando corta a margem direita do quadro. Na área central da sequência de ondas, como anteriormente colocado, há uma sequência de quatro ondas mais curtas em cada uma das sete faixas, sendo a última destas, da esquerda para a direita, acentuadamente diferente das demais nas seis primeiras faixas, de cima para baixo. Nestas, a última das quatro variações menores forma um bico para cima em vez de uma sinuosa onda. Além disso, no centro da margem inferior da obra vemos surgir o topo de quatro ondas centrais seguindo o padrão predominante: onda, onda, onda, pico. Esta sequência de ondas na margem inferior da obra aparenta ser mais escura, e isso se dá porque os cortes retos e verticais feitos no cartão são mais largos, criando sombra. Acima destas ondas que saem da margem inferior, a parte inferior da obra é toda mais clara, dado que não apresenta cortes, apesar da textura do cartão ser visível. Todo o restante da obra dali para cima apresenta estes cortes na vertical, variando em espaçamento, o que confere à obra mais ou menos sombra. Cortes feitos no sentido oposto emprestam diferentes volumes à superfície da obra, revelando as camadas e trazendo o efeito das ondulações. As ondulações criadas a partir dessa experimentação com relevos e declives em diferentes larguras e alturas conferem movimento à obra, como se essas ondas se propagassem, a ponto de vazar da própria estrutura física do quadro. Onde as faixas de ondas começam e terminam, na horizontal, Palatnik afundou ou criou relevos na moldura, tornando concreto, por meio do efeito ótico, o simbólico.

Relevos progressivos: cordas

Sem título Acrílica sobre tela 100 x 100 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

Relevos progressivos: cordas Esta série, comumente chamadas de “cordas”, na realidade é formada por barbantes. O caráter inventivo e experimental permeia esse conjunto de pinturas feitas com tinta acrílica, realizadas a partir de meados dos anos 1980. A pintura ganha um leve volume que auxilia na formação de um efeito ótico que equilibra a “tecnologia precária” do barbante com uma pesquisa rigorosa e sensível sobre o cinetismo e as possibilidades de expansão da forma e da cor através de um duplo movimento – das linhas e do espectador. Além disso, é uma tentativa de organizar a superfície de maneira diferente dos procedimentos normais, introduzindo uma dinâmica da cor pelo uso da linha. É mais um exemplo da forma como o artista experimenta novas possibilidades dinâmicas e cinéticas utilizando materiais considerados “pouco nobres” no universo da arte.

"W"

W-141, 2206 Acrílica sobre madeira 101 x 106,7 cm

Abraham Palatnik

Velocidade do áudio

0:00
0:00

“W” Por volta de 2004, Abraham Palatnik deu início a uma nova série denominada simplesmente “W”. Nela, em um primeiro momento, o artista pinta telas abstratas que servem como “modelo” para as futuras pinturas. Em um segundo estágio, um corte a laser fatia réguas com cores e formas próximas às das telas que serviram como modelo. Depois, movimentando as varetas do “quadro fatiado” no sentido vertical, “desenhando” o futuro trabalho, o artista constrói um ritmo progressivo da forma, conjugando expansão e dinâmica visual e explorando o potencial expressivo de cada material. As linhas nascidas da junção das tiras de madeira reativam a cor, dinamizando a superfície como um todo. “W” representa a continuidade da pesquisa cinética do artista, que se divide em suportes bidimensionais e tridimensionais e nas mais distintas mídias (pintura, escultura, jogos, móveis e utensílios). Curiosamente, alguns desenhos vislumbrados nessa série remontam a paisagens ou formas topográficas, criando uma circunstância singular para as pesquisas sobre arte abstrata.