
Chantal Akerman - Tempo Expandido
Rio de Janeiro
Centro Cultural Oi Futuro
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Tempo expandido - Texto Curatorial
Curadoria: Evangelina Seiler
Chantal Akerman

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Governo do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura, Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, Oi Futuro e Cisma Produções apresentam a exposição Chantal Akerman - Tempo Expandido Curadoria: Evangelina Seiler "Não há drama, não há explicações, não há conclusões, apenas o tempo que atravessa essas imagens que faz da vida e da obra uma constante reiteração e invenção. - Zygmunt Bauman Chantal Akerman é uma das mais influentes diretoras de cinema e artistas visuais de sua geração. Antes que o movimento LGBT se estabelecesse, Chantal Akerman já experimentava, livre e genuinamente, o desejo de inverter as opressões de gênero da época, realizando obras sobre as transições sociais do mundo contemporâneo. Apesar de não chamar seu trabalho de feminista, aos 25 anos de idade, Chantal rodava, em 1975, seu primeiro longa-metragem, a obra-prima Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles, com uma equipe formada quase totalmente por mulheres. O conteúdo poético da obra de Chantal Akerman é marcado pelo vigor na direção e na arte de utilizar o posicionamento frontal de sua câmera, de maneira a emoldurar a cena com elementos da arquitetura, como os corredores de uma casa, a esquadria de uma porta, um espelho ou uma janela. O espectador é levado, a cada enquadramento, feito em seu devido tempo, a um exercício brilhante de raciocínio e lucidez. Tudo o que deve ser visto se torna visível; tudo o que deve ser sentido é sentido; cabe ao espectador vivenciar, internamente, as cenas que captam e absorvem sua atenção. Chantal Akerman transitou no movimento feminista como precursora, ao relatar histórias sobre o encarceramento feminino, como em Saute ma ville [Blow Up My Town], 1968; e Jeanne Dielman, 1975, nos quais as mulheres e suas obrigações domésticas foram extensivamente representadas. Sua obra ultrapassa as observações típicas do machismo e vai além da vitimização, como acontece em Je, tu, il, elle, 1974. Com isso, Akerman ao mesmo tempo denunciou uma sociedade burguesa, acomodada em seu status quo. Em La chambre, 1972, sua câmera faz algumas passagens de 360 graus pelo mesmo ambiente – o quarto – e se detém por alguns segundos a mais sobre as imagens em que Akerman aparece. Em um desses intervalos, ela encara o espectador, inverte a ordem dos sentidos, e nós, o observador, passamos a ser intelectualmente observados por ela. A passagem por Nova York nos anos 1970 foi importante para o processo criativo de Chantal Akerman. Com o distanciamento de sua raiz europeia, ela percebeu a banalização da cultura ocidental e observou a nivelação acrítica dos valores de nossa era, como acontece em Tombée de nuit sur Shanghai, 2007. Em uma paisagem árida, estereótipos de referências culturais, como as imagens de pássaros, flores e quadros célebres, surgem de outdoors eletrônicos dos enormes edifícios e disfarçam a solidão na megalópole. Chantal Akerman nos entrega uma matéria clara, aparentemente simples, expõe o tempo necessário para processarmos, intensamente, suas imagens. Sempre coerente, Akerman se apropria do cinema de modo particular como meio de expressão e, através de sua linguagem, constrói uma maneira singular de imbricar vida e obra. Em Maniac Summer, 2009, instalação alucinatória, ela expõe seu momento de fragilidade emocional. Em imagens projetadas separadamente e em perturbadores flashes de luz, visitamos sua privacidade por alguns minutos, conhecemos sua casa, o lugar em que trabalha, o que vê, o que come e sente. Em In the Mirror, 2007, uma jovem mulher, de sedutora e romântica beleza, olha-se no espelho de um guarda-roupa; seminua e de costas para o espectador, ela investiga, com olhar crítico e voz observadora, sua própria individualidade. Mais uma vez a imagem transcende, inclui o espectador na complexidade das inúmeras reverberações intelectuais da cena e o surpreende. Como um avatar, Akerman é a figura central de seus filmes. Por trás da câmera, ela nos empresta seu olhar, sua sensibilidade, sua inteligência e sua sabedoria. "Já que não somos como construções a que se podem acrescentar pedras de fora, mas como árvores que tiram da sua própria seiva o nó seguinte do seu tronco, a camada superior da sua fronde" - Marcel Proust, À sombra das raparigas em flor Patrocínio: Oi, Governo do Rio de Janeiro, Secretaria de Cultura, Lei de Incentivo à Cultura Realização: Oi Futuro Idealização e Produção: Cisma Produções Coprodução: óZ Produções
Tombée de nuit sur Shanghai (Anoitecer em Xangai)
Videoinstalação de projeção única, cor, som e duas luzes de aquário chinesas falsas desenvolvida a partir do filme Anoitecer em Xangai parte de O estado do mundo, 2007 Duração: 14 min – em loop Direção: Chantal Akerman Edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres
Chantal Akerman

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Videoinstalação de projeção única, cor, som e duas luzes de aquário chinesas falsas desenvolvida a partir do filme Anoitecer em Xangai parte de O estado do mundo, 2007 Duração: 14 min – em loop Direção: Chantal Akerman Edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres Anoitecer em Xangai evoca a arte de dirigir e observar. As tomadas estáticas, características de Akerman, capturam o porto, os barcos que cruzam o rio, os transeuntes, o horizonte da megalópole, os gigantes anúncios iluminados e a noite caindo em tempo real. O vídeo se inicia com uma tomada da bahia onde há um porto. As águas da bahia são calmas e há um intenso fluxo de navios cruzando as águas. Ao fundo vemos alguns prédios sob um céu cinza de um entardecer nublado. As cenas do porto se alternam com cenas de dentro do restaurante. Um navio com um enorme telão luminoso também cruza as águas. Já de noite há um take mais próximo do prédios da cidade do outro lado da bahia. Nestas imagens se destacam duas grandes torres que tem coloridas e luminosas projeções que tomam toda a enorme fachada dos prédios. Anoitecer em Xangai tem pouco ou nenhum enredo, mas muita atmosfera para compensar isso. Sua representação do ambiente urbano é fundamentada na relação dialética entre o olhar estático do observador e os vários movimentos dos sujeitos desse olhar. O ruído de fundo aleatório de um hotel-restaurante proporciona a trilha sonora desse devaneio visual sem destino.
La Chambre (O quarto)
Videoinstalação de projeção única, filme de 16 mm transferido para arquivo digital, colorido, mudo, desenvolvida a partir do filme O quarto, 1972 Duração: 10 min 26 s – em loop Elenco e direção: Chantal Akerman Edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres
Chantal Akerman


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Videoinstalação de projeção única, filme de 16 mm transferido para arquivo digital, colorido, mudo, desenvolvida a partir do filme O quarto, 1972 Duração: 10 min 26 s – em loop Elenco e direção: Chantal Akerman Edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres Uma longa e lenta tomada panorâmica descreve o espaço de um quarto continuamente. Chantal Akerman está sentada em uma cama, primeiramente imóvel e, depois, quando a câmera a enquadra novamente, comendo uma maçã. Este filme é um autorretrato misterioso da cineasta em seu local preferido, bem como uma espécie de natureza-morta cinemática, que repetitivamente descreve elementos em um espaço. É manhã e o giro da câmera dentro do quarto mostra uma cadeira de madeira com um estofado vermelho em seu encosto. Uma mesa redonda à frente de uma janela, a mesa está posta para o café, sobre ela estão xícaras, pães e frutas. No seu contínuo giro a câmera mostra um antigo fogão de quatro bocas com uma grande chaleira sobre uma de suas bocas, a porta de uma geladeira, uma cômoda de madeira e suas gavetas. Chantal está deitada em sua cama coberta por uma manta verde, ao lado cama uma pequena mesa com algumas maçãs sobre ela. Seguimos vendo uma escrivaninha com uma cadeira vazia à frente dela, uma parede branca onde está pendurado um calendário e por fim uma porta aberta e o giro recomeça mostrando novamente a cadeira. Nos vários que a câmera dá vemos Chantal mudar de posição algumas vezes e nos últimos giros ela está comendo uma maçã. Claire Atherton diz: “Em forma de instalação, O quarto não tem começo nem fim, ponto de partida ou ponto de chegada. Isso não significa que não haja jornada nem evolução. Mas sim que o espectador cria sua própria jornada no tempo movendo-se no espaço."
Maniac Summer (Verão maníaco)
Videoinstalação de projeção múltipla, colorido e P&B, com som Duração: 34 min 4 s em loop / 32 min 30 s – em loop Imagem e direção: Chantal Akerman Edição de imagem e som, e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres
Chantal Akerman



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Videoinstalação de projeção múltipla, colorido e P&B, com som Duração: 34 min 4 s em loop / 32 min 30 s – em loop Imagem e direção: Chantal Akerman Edição de imagem e som, e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres Verão maníaco consiste em imagens e sons gravados em Paris, no verão de 2009. É um tríptico extenso sem começo nem fim e sem tema ou tópico específico. A câmera é posicionada de frente para uma janela e deixada gravando. Observa movimentos, registra ruídos vindos da rua ou do parque ao lado, capta Chantal Akerman lidando com seus afazeres em seu apartamento: fumando, trabalhando, falando ao telefone. O Tríptico, ou composição em três partes, é sugerido por Chantal por três nomenclaturas presentes o no filme o tempo todo. À esquerda está escrito em inglês “Parede Esquerda (O Filme)” Nesta parte da tela dois pequenos quadros ocupando a parte superior e inferior da tela mostram a imagem completa e colorida com uma pequena diferença na luminosidade entre os quadros. Ao centro está escrito “Parede Central (Hiroshima), aqui há um pequeno quadro na parte superior da tela, é a mesma imagem da esquerda, só que em preto e branco e com um alto contraste, o que dá um ar sombrio às imagens.E à direita está escrito “Parede Direita (Abstração)”, nesta parte do vídeo há dois pequenos quadros, um superior e outro inferior. Estes quadros mostram de forma mais próxima, detalhes do vídeo central. Fragmentos do cotidiano da artista são apresentados no vídeo central da instalação, enquanto os painéis adjacentes têm uma carga mais simbólica; neles, várias imagens do vídeo central são isoladas, modificadas e repetidas. Essas pós-imagens abstratas funcionam como um tipo de memória, retomando imagens do vídeo central da instalação como tantas sombras de sua realidade.
My Mother Laughs, Prelude (Minha Mãe Ri, Prelúdio)
Videoinstalação de projeção única, colorido, com som Duração: 27 m 16 s – em loop Direção: Chantal Akerman Imagem, edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres
Chantal Akerman

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Videoinstalação de projeção única, colorido, com som Duração: 27 m 16 s – em loop Direção: Chantal Akerman Imagem, edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres “Minha mãe ri, prelúdio é a leitura de Chantal Akerman de trechos de seu livro. Chantal queria que ouvíssemos esse texto e não apenas que o lêssemos. Ela adorava ler em voz alta. Ela dizia que era um texto de oralidade. Esse prelúdio é feito para ser misturado com outras imagens. Imagens de Maniac Shadows ou imagens de Maniac Summer. Sem nunca ser uma ilustração.” Claire Atherton “Texto e imagens formam um todo que fala de doença, morte, amor, confinamento, homossexualidade, o oposto de homossexualidade, casamento, normas, pertencimento e não pertencimento.” Chantal Akerman No vídeo Chantal Akerman está sentada sobre um branco, à frente de uma mesa coberta com um tecido preto. Sobre a mesa há uma pilha de folhas que ela vai virando enquanto lê.O ambiente está completamente escuro e apenas Chantal e a mesa estão iluminado por um foco de luz. No vídeo não há nenhum tipo de legenda ou tradução para o português.
In the Mirror (No espelho)
Videoinstalação de projeção única, filme de 16 mm transferido para arquivo digital, P&B, com som, realizada a partir do filme A amada criança ou Eu toco para ser uma mulher casada, 1971 Duração: 14 m 21 s – em loop Direção: Chantal Akerman Edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres
Chantal Akerman



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Videoinstalação de projeção única, filme de 16 mm transferido para arquivo digital, P&B, com som, realizada a partir do filme A amada criança ou Eu toco para ser uma mulher casada, 1971 Duração: 14 m 21 s – em loop Direção: Chantal Akerman Edição e espacialização: Claire Atherton Cortesia Chantal Akerman Foundation e Marian Goodman Gallery, Nova York, Paris, Londres Nesta instalação, a imagem brinca com um efeito de fragmentação: o reflexo do corpo no espelho, a tomada, a frontalidade da cena, bem como a própria projeção dos espectadores diante dessa mulher que vira as costas para eles, mas cujo reflexo eles conseguem ver. Essa difração está presente em todas as videoinstalações de Akerman, como uma forma de realizar uma metamontagem ou uma montagem que não seja apenas temporal, mas também espacial. Além disso, todas as suas instalações foram criadas em estreita colaboração com a editora de cinema Claire Atherton. O formato de videoinstalação permitiu que Chantal Akerman vivenciasse a questão da percepção do tempo e do espaço de uma maneira diferente, que é uma preocupação central de sua obra cinematográfica. Uma mulher jovem está em pé à frente de um enorme espelho adornado por uma grossa moldura de madeira. A jovem tem a pele branca, os cabelos lisos e compridos, presos atrás da cabeça por uma presilha. Seus traços são delicados e ela está semi-nua, vestindo apenas uma calcinha branca de algodão. Enquanto fala ela se observa no espelho examinando minuciosamente seu corpo. No vídeo não há nenhum tipo de legenda ou tradução para o português.