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Imagem de capa da exposição

Watú não está morto!

São Paulo

IEB - Instituto de Estudos Brasileiros

12/07/2022 - 04/09/2022

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Erva Daninha (Da série: modernidade devorada)

Agrippina R. Manhattan é artista e pesquisadora. Nasceu e cresceu em São Gonçalo. Seu trabalho é parte de uma profunda preocupação sobre tudo o que restringe a liberdade: a palavra, a norma, a hierarquia, o pensamento. Escolheu seu nome e inventou a si mesma, assim como escolhe um título para um trabalho ou encontra a tradução do que sente em poesia. Pensa escultura como poesia, poesia como escultura e tudo como uma coisa só. A artista trabalha sempre buscando interpelar criticamente a história da arte brasileira, entendida como de exceção em relação à produção dos transgêneros, de mulheres, de indígenas, de negros e de outras minorias sociais. Na instalação intitulada Erva daninha, composta de terra, plantas, extensões elétricas e monitor em LED, a artista parte de uma investigação em que relaciona humanidade e natureza, assim como a simbologia da serpente que devora o próprio rabo. Isso tudo tendo como horizonte as comemorações acerca do modernismo brasileiro. Para Agrippina, o modernismo é um projeto que já se encontra em ruínas, uma vez que a sociedade vive uma eterna transmutação, e que, portanto, se auto-consome. E, assim sendo, o que nos resta são apenas fragmentos, desgastados e dilapidados, assolados pelas ervas daninhas que soterram os escombros da civilização. Para essa artista carioca, o mal está em toda parte, nas fímbrias do cotidiano, crescendo pouco a pouco, aos olhos de todo mundo e, se não for extirpado, cria raízes. Fotos: Karim Khan

Agrippina Manhattan

Erva Daninha (Da série: modernidade devorada)
Erva Daninha (Da série: modernidade devorada)

Sem Título. (Verdade ou desafio na coleção do IEB)

Cinthia Marcelle é artista visual nascida em Belo Horizonte. Desenvolve seu trabalho a partir de diversas mídias, utilizando-se de materiais, artefatos e procedimentos da vida cotidiana ou dos locais onde expõe, de maneira improvável. Essa sua investigação poética suscita possibilidades diversificadas de ordenamento das coisas, desorganizando-as. É dessa consciência que a artista repropõe “Verdade ou Desafio” para as salas do IEB/USP. Exposto pela primeira vez em março de 2018, no Modern Art Oxford, o vídeo, realizado por um software desenvolvido a pedido da artista, por Pedro Veneroso, a partir de uma fotografia de celular feita na África do Sul, apresenta um trígono sobre fundo de terra batida, que, em loop, gira em torno do próprio eixo em movimentos simétricos (em sentido horário e anti-horário, alternado por pequena pausa). Se o movimento do triângulo no filme lembra o da agulha de uma bússola ou do ponteiro de um relógio, ele também evoca o passatempo “verdade ou desafio”. Ao relacionar o vídeo às vitrines vazias do Instituto, em paralelo à figura de Mário de Andrade, representada por seu chapéu de palha, Cinthia rediscute o tema da memória cultural pautada pela construção da ideia de nação brasileira no singular. A incerteza, sobre esta pretensa idéia de nação que opera, contudo, em estado de crise permanente, facultada pela polissemia do trígono apontando para vitrines vazias, abre uma discussão ampla, pois enseja à impermaência e ao devir, uma vez que indicia, em perspectiva decolonial, que a preservação e a apresentação de acervos memoriais como os que pertencem ao IEB devem ser pensados de modo crítico e sempre à luz das necessidades atuais da nossa sociedade. Produção e montagem: Marcelo X // Assitente de montagem: Edison Silva // Marcenaria: Wanderley Wagner da Silva // Mapping: Ciça Lucchesi // Programação/Finalização vídeo: Pedro Veneroso // Desenho Sonoro vídeo: Pedro Durães Fotos: Karim Khan

Cinthia Marcelle

Sem Título. (Verdade ou desafio na coleção do IEB)
Sem Título. (Verdade ou desafio na coleção do IEB)

Atualizações Traumáticas

Gê Viana é artista maranhense de Santa Luiza, reconhecida por suas colagens decoloniais em que transpõe imagens contemporâneas, inspiradas por acontecimentos cotidianos, em confronto com a cultura colonizadora hegemônica e seus sistemas de arte e comunicação. Gê traz para o IEB duas obras em que se posiciona criticamente em relação às imagens produzidas sob a égide dos assim chamados "artistas viajantes", ou seja, artistas estrangeiros que representaram as populações nativas brasileiras, desde o século XVI, de acordo com categorias pré-estabelecidas, carregadas de preconceitos. Mesmo as imagens etnográficas, tidas como “científicas” e, portanto, neutras, não são capazes de dissimular o preconceito, nem mesmo o interesse de sobreposição e dominação da cultura européia frente aos povos originários. Gê se utiliza de algumas dessas imagens, cujos originais estão guardados no acervo brasiliana do IEB, para discutir, na perspectiva do conceito de decolonialidade, não apenas o estatuto dessa iconografia feita sobre o Brasil (e os brasileiros), mas também sobre o papel da instituição que zela pela sua preservação, estudo e divulgação. Fotos: Karim Khan

Gê Viana

Atualizações Traumáticas

Pula-Vai

Gu da Cei é artista brasiliense e desenvolve seu trabalho artístico no âmbito da intervenção urbana, instalação, poesia, performance e vídeo, além de buscar compreender as possibilidades dialógicas entre processos históricos e contemporâneos da fotografia, bem como seus espaços de exibição e circulação. Discute vigilância, imagem, direito à cidade e transporte coletivo. Na obra Pula-pula o corpo que Gu reivindica é o das periferias, o corpo racializado. O artista tem realizado diversos projetos ligados ao trânsito dos corpos periféricos nos transportes públicos da Ceilândia, divisão administrativa do Distrito Federal. Sua produção oscila na dialética entre o corpo suburbano e seu deslocar-se por entre os territórios da urbe. A obra consiste em uma inusitada crítica às catracas verticais duplicadas em sua altura, fabricadas exclusivamente para serem instaladas em linhas de transporte público que fazem trajetos pelas periferias com o objetivo de impedir que usuários do transporte consigam pulá-las. A ironia contida na obra é reiteração ao direito constitucional de ir e vir, que apesar de restrito pelo modelo econômico vigente, encontra sua superação na subversão de barreiras simbólicas da opressão. Fotos: Karim Khan

Gu da Cei

Pula-Vai

Escudo Tubarão

Lyz Parayzo é uma escultora brasileira que trabalha também com performance, joalheria e audiovisual. A escultura “Escudo Tubarão" que Lyz traz para o IEB, inédita, faz parte de um conjunto de trabalhos nos quais a artista reinterpreta a série Bichos, de Lygia Clark, para levantar questões sobre o corpo trans. Se por um lado os objetos de Lygia pedem o contato e a participação do público como forma de contrapor-se à racionalidade industrial da produção concretista da década de 1950, para Lyz, ao contrário, as esculturas não são dóceis e não devem ser tocadas; possuem ásperas arestas que dão ao corpo do objeto um aspecto de violência, como o fio de uma navalha ou as bordas de um de serrote. O aspecto agressivo (e defensivo) da obra alude à resistência, pois que, em uma sociedade machista e racista, simula arma de proteção contra as violências diárias sofridas pelos corpos trans. Fotos: Karim Khan

Lyz Parayzo

Escudo Tubarão
Escudo Tubarão

Céu aberto, corpo fechado.

Luana Vitra é artista plástica, dançarina e performer. Cresceu em Contagem- MG, cidade industrial que fez seu corpo experimentar o ferro e a fuligem. Gestada entre a marcenaria (pai) e a palavra (mãe), busca a sobrevivência a partir da cura das paisagens que habita. Entende o próprio corpo como armadilha e sua ação como micropolítica, encarando a materialidade que seu trabalho evoca. Nessa obra, a artista propõe pensar o arquétipo da casa a partir de um enredo de memórias fragmentadas que ela organiza espacialmente como quem exibe, do corpo, apenas o esqueleto. O projeto da escada abandonado por seu pai é o fio condutor de seu desenhar com os objetos. Do chão, interessa apenas o espaçador cruzeta, do telhado, um pedaço de zinco, da escada, a ideia de uma escada. A casa de Luana não abriga. O projeto de escada não serve para elevar o corpo, não foi concluído, não serve senão para lembrar uma tarefa que não foi concretizada. É um esqueleto de um corpo que não chegou a existir. O projeto-casa de Luana nos sugere uma persistente ideia do que poderia ter sido e que não foi. Fotos: Karim Khan

Luana Vitra

Céu aberto, corpo fechado.

Cartas, decretos, contratos, bandos e outros documentos.

O trabalho interdisciplinar de Luisa Puterman abrange instalações sonoras, performances ao vivo, aventuras auditivas, experiências de aprendizado, composição e design de som para dança, cinema, teatro e TV. Ao longo de duas horas de gravação sonora, é possível perceber o processo de loteamento das terras pertencentes aos povos originários, iniciado a partir das capitanias hereditárias e que ainda perdura nos conflitos de demarcação do que restou das terras indígenas atuais, ameaçadas pelo garimpo, agronegócio e extração da madeira. Relato a relato, compreendendo o período entre princípios de 1500 até final de 1800, configura-se um cenário de colisão entre os jesuítas e os colonos entre si, ambos contra os povos indígenas e, posteriormente, contra os negros escravizados. Para além, é possível adentrar o submundo da extração do minério, da descoberta do ouro, das pedras preciosas, do desmatamento e comercialização da madeira. O projeto de Brasil já nascia esmagado pelo conceito ocidental de civilização: colonial, primeiramente, e capitalista nos séculos sequentes. O arquivo de áudio consiste na descrição de 340 documentos pertencentes ao Arquivo do IEB. Os documentos foram recitados na sua integridade e não sofreram nenhuma alteração ou atualização. Fotos: Karim Khan

Luisa Puterman

Cartas, decretos, contratos, bandos e outros documentos.
Cartas, decretos, contratos, bandos e outros documentos.

Prainha e origem da terra. (Da série Corpo móvel)

Sabyne Cavalcanti é uma artista que trabalha com escultura, performance e instalações. Em Ruínas da Prainha e Origens da Terra, a artista cearense Sabyne Cavalcanti traz questões conflituosas no tocante à preservação da memória de uma época e sociedade, através da arquitetura e de objetos do cotidiano que marcaram um período. Entretanto, a memória sacralizada e preservada em nosso país é também uma construção hegemônica de nação em detrimento de outras memórias invisibilizadas. Os azulejos que foram despejados no lixo, vindos de uma reforma na Igreja Nossa Senhora da Conceição da Prainha, localizada na cidade de Fortaleza, são originariamente de Portugal. Foram encontrados pela artista, que os recolheu ao perceber que os cacos fizeram parte de um adorno da antiga igreja – que mesmo tombada pelo IPHAN, havia sido destruída. A artista busca reavivar histórias, remontando ligações quebradas de vidas e memórias passadas. A referência de memória que a artista resgata é de origem portuguesa. A localidade onde a igreja foi construída possuía antes uma outra ocupação e outras tradições, a dos Potiguara. Entretanto, caminhando de uma extremidade a outra daquela região não será possível encontrar qualquer referência sobre os indígenas que ali habitavam. Por que os Potiguara, povos originários daquela região, não possuem monumentos ou qualquer construção que faça referência ao seu povo?

Sabyne Cavalcanti

Prainha e origem da terra. (Da série Corpo móvel)
Prainha e origem da terra. (Da série Corpo móvel)
Prainha e origem da terra. (Da série Corpo móvel)
Prainha e origem da terra. (Da série Corpo móvel)

Sem título

Mineira de Caetanópolis, Sonia Gomes é uma fusão de muitas lembranças. Ela traz a influência forte da avó, parteira, benzedeira e useira de rodilhas na cabeça, assim como a da ruminação dos guardados, das fotos, dos retalhos de tecidos vindos da fábrica e de afetos fragmentados. O trabalho de Sônia Gomes remete tanto às festas populares de matriz afro-brasileira: folia de reis, congo, reisado e ao catolicismo mágico, nos quais os materiais se acumulam e se sobrepõem, quanto às tradições africanas, cujo tecido é base expressiva que permite simbolismos culturais, como a presentificação da ausência por meio da roupa. Suas amarrações, panos, patuás e trouxas dizem muito sobre uma tradição no Brasil da linha, da agulha e dos gestos técnicos em torno do tecido. Seus procedimentos remetem a fazeres comuns ao Candomblé, como amarrações, nós e embalagens, ou mesmo a cultura mineira dos bordados, das roupas para dias santos, do traje usado em ritos sociais de passagem: casamentos, batizados, nascimentos. Muitos dos tecidos com os quais trabalha Sônia Gomes são materiais marcados pela memória do uso, funções e práticas de sentido que permitiram que eles chegassem até o presente. Vestígios de ritos sociais de passagem. “Me deixem viver em outro corpo”, diz a artista acerca de suas obras/seres. Fotos: Karim Khan

Sônia Gomes

Sem título

Instetâncias de poder

Tetta Marie Carangi é artista recifense que atua na criação de contextos e situações cujo foco no corpo feminizado vincula-se a uma narrativa estética e política autoreferentes. Usa técnicas transdisciplinares para articular demandas emancipatórias através de intervenção física direta. Suas performances desdobram-se em instalações de vídeo, arte sonora, fotografia e objeto. Em Instetâncias de Poder, Tetta articula estruturas que se relacionam entre si com o propósito de reivindicar espaços nos quais o corpo possa existir fora de categorizações preexistentes. Na videoperformance des-hino iNacional, voz e gesto esbarram, nem sempre harmonicamente, na arquitetura modernista de Brasília, gerando ecos e efeitos sonoros produzidos pela manipulação de microfones e apito de nariz. Ao inflar a matéria sonora e garantir sua propagação na arquitetura côncava e convexa da capital federal, Tetta busca irromper o espaço, remodelando a comunicação. Dessa especulação emergem novas proposições linguísticas, as quais escapam às normas gramaticais, ainda que criem ambiente propício para a realização de sujeitos apartados das estruturas normativas. Já para a escultura interativa Pulpiteto para Pronunciamentetas, a artista pondera sobre uma percepção sensitiva particularizada da própria voz, uma vez que repropõe a postura para um pronunciamento. No pulpiteto o peitoral é acolhido enquanto o diafragma é comprimido. Encerrando o arcabouço, o sutiã: peça íntima publicamente associada ao gênero feminino e cujo uso, segundo a artista, relaciona-se à autoestima, proteção, sensualidade, aprisionamento, armadilha e ‘desconforteto’. Para Tetta, Intetâncias de Poder é espaço para amplificação de debates sociais antirracistas, antimisoginia e antitransfobia. Essa obra reverbera, em espaço institucional, questões sobre a violência sofrida por mulheres, lésbicas, travestis, trans e dissidentes de gênero, principalmente nos espaços de poder. ficha tetecnica: câmera: Maria Eugênia Matricardi // performance, concepção, edição: Tetta Marie Carangi // mixagem de som 3d: bella // montagem técnica de som: Fusionáudio // produção: Lorenna Pipa // agradecimentetas: Mari Pini & doadoras de sutiãs Fotos: Karim Khan

Tetta Marie Carangi

Instetâncias de poder
Instetâncias de poder
Instetâncias de poder

Bichos du céu - Dossel

Uýra Sodoma é artista manauara, bióloga, arte-educadora e drag queen. Emerson Munduruku, jovem amazonense, cria Uýra Sodoma, em 2016, durante o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff; uma drag queen amazônica, performer e ponte entre mundos, ou como ela mesma descreve, uma árvore que anda. A bióloga viu em Uýra Sodoma uma forma de educar e conscientizar as pessoas sobre a preservação amazônica e os direitos LGBTQIA+. Sob a forma da entidade híbrida, animal e vegetal, Uýra é capaz de se conectar às forças e cosmogonias de seus ancestrais e de seu povo, apresentando as sensações e sentidos, não plenamente racionalizáveis pelas epistemologias eurocêntricas. Bichos du Céu - Dossel traz uma série de imagens fotográficas do céu amazônico: os desenhos da noite da floresta, vistos desde o solo em direção às copas de árvores. É sobre a imensa borda das árvores em noites de lua cheia que ela inscreve seus diagramas de animais e seres que pertencem à cosmogonia munduruku. Apoio: Fykyá Pankararu Fotos: Karim Khan

Uýra Sodoma

Bichos du céu - Dossel
Bichos du céu - Dossel
Bichos du céu - Dossel